A relação pais e filhos não é fácil. Aliás, nunca foi, mesmo em sociedades de formação patriarcal. Com a mudança cultural vivida pela revolução sexual (com a liberdade maior do desenvolvimento da sexualidade), revolução feminista (em que a mulher buscou o seu lugar no mundo, agora com a liberdade sexual obtida pelos meios contraceptivos, com luta pelos mesmos postos de trabalho dos homens) e revolução tecnológica, sobretudo através dos meios de comunicação (a internet e o celular mudaram as interações humanas, aproximaram globalmente as pessoas e permitiram o acesso direto e vertiginoso à informação), as relações familiares mudaram substantivamente.
Pais e mães passaram também a ver uma mudança no seu próprio papel, agora indefinido em certa medida. O pai provedor foi substituído, de vez que normalmente a mulher está no mercado de trabalho também, ajudando com as despesas da casa. Mesmo que assim não seja, o papel do pai passou a mudar também pela exigência de que ele se envolva mais no dia a dia dos filhos. Assim, com a igualdade na relação conjugal, não há mais uma hierarquia tácita no processo decisório: a própria educação passa a ser um processo de negociação entre os pais, que devem buscar conciliar valores, padrões e regras.
A família mudou, portanto. Mesmo aquela mais tradicional, com pais vivendo juntos e sem filhos de outras relações, passaram pelo influxo dessas mudanças profundas, o que implica em não sobrevalorizar nenhum deles no processo educativo.
Na revista Veja desta semana, há uma ótima entrevista com o psicólogo Jerome Kagan (aqui), em que ele mostra que a mãe não é mais influente do que o pai no início da vida do filho, tendo ambos um papel importante e, evidentemente, diferente. As mães, que em razão do processo de gravidez, depois pela amamentação, tornam-se fundamentais para o desenvolvimento físico e emocional da criança, muitas vezes terminam vendo os filhos como sendo seus, sobrevalorizando a sua importância em relação à do pai. Esse equívoco, quando estimulado, muitas vezes leva a um excesso de proteção da criança, uma dependência exagerada da figura materna, em imenso prejuízo futuro.
É pelo diálogo e compreensão mútua que o casal pode encontrar um justo equilíbrio na formação dos filhos, gerando um processo educativo dinâmico, maduro e consequente. Assim, os pais podem complementar os seus carismas, a sua visão de mundo, auxiliando a formação equilibrada de filhos saudáveis. Numa visão complexa da vida, podem gerar aquela força unitiva na diferença, que só o amor verdadeiro é capaz.
Aos dezenove, a minha, até então namorada, ficou grávida. A união não deu certo, e dessa equação sobrou uma criança com pais separados. Sob os cuidados atento de minha mãe, a pequena S. cresceu e hoje tem seis anos. Não há quem se impressione com o seu desenvolvimento intelectual. Mas isso não é tudo, pois, emocionalmente, algo há de errado.
ResponderExcluirEssa semana, meu pai pagou os dois anos de mensalidade atrasada da pequena S.(tenho até vergonha de dizer isso, ainda que anonimamente, mas minhas condições não me permitem arcar com essas despesas). Ao ficar sabendo, ela simplismente pulou de alegria como qualquer criança faria.
O que não foi normal foi, após todos pulos, o recolhimento no quarto, até que a minha mãe visse que ela estava chorando, e entre as lágrimas disse: eu estava com medo de não poder estudar, não estou chorando de tristeza, é alegria, não se preocupe vozinha...
Sei que algo deve ser feito. Crianças que choram de alegria, guardam dentro de si o medo, a angústia...
O que foi que fiz?! Será que um dia serei perdoado...?
Aproxime-se da sua filha e busque dar a ela a segurança que nem mesmo você sente ou tem. Não se culpe pelo passado; entregue-se ao futuro possível, esforçando-se para crescer profissionalmente e dar a ela a estabilidade possível. Não pense se será perdoado, ou não: pense no que você pode fazer com as páginas em branco da sua vida, em que a sua filha já está de antemão inserida. Olhar para trás, apenas, poder ser apenas motivo de insatisfação e angústia. Olhe para a frente, sem esquecer a sua história, e busque construir um novo caminho,assumindo a responsabilidade de ser pai. Sem vergonha, sem medo, sem autopiedade: você vencerá.
ResponderExcluir