Tenho observado com enorme constância carros plotados com esses dizeres: "É fácil falar de mim; difícil é ser eu". A par da construção linguística que não esconde a sua fealdade, revela uma visão derrotada da vida. Por que seria difícil a pessoa ser ela mesma? Já não estaria aí um desculpa às críticas ("é fácil falar de mim"), antecedida de uma oceânica baixa autoestima?
No "é difícil ser eu" está embutida a revelação da desconfiança sobre si mesmo, uma desculpa antecipadas para os próprios limites e circunstâncias, uma percepção de estar de antemão aquém dos próprios desafios, por menores que sejam. É a frase, na verdade, um desafio aos interlocutores, porém de sinal trocado: desafio de quem antecipadamente já se pôs em posição de desvantagem. Seria diferente um desafio noutros termos: "Pode falar de mim; eu sigo em frente, porque sei aonde vou, porque busco os meus sonhos". Enquanto me criticam, eu persigo os fins desejados, não me quedo diante da crítica, não me deixo abater e desisto, porque simplesmente é difícil. Se fácil fosse, qual o mérito, afinal?
O derrotismo está presente nessa desculpa prévia: é difícil estar no meu lugar, porque a minha vida traz limitações, porque as minhas circunstâncias me impõem limites. E esse derrotismo é muito presente em nossas vidas: quantas vezes encontramos os que simplesmente desistiram de tentar, os encastelados em suas frustrações que a tudo justifica, os blindados pelo "deixa estar"? Não. É natural que falem, uns por inveja, outros por cupidez, alguns para ajudar... Mas não é isso que nos faz andar ou ficar, que nos move ou imobiliza. É a força que há em nós, o desejo de ir em frente, a ânsia de felicidade. São essas coisas que nos fazem dar um passo a mais, porque "é sempre um passo que falta", como dizia tão bem Antoine de Saint Exupèry em seu "Voo Noturno".
Aliás, nesta obra há algumas afirmações que podem nos fazer pensar, como em um dos diálogos em que o piloto Rivière afirma: "Você percebe, Robineau, na vida não há soluções. Há forças em movimento: é preciso criá-las e as soluções sobrevêm". Noutra passagem desta obra madura de Exupèry, há uma outra interessante afirmação sobre o sentido da vitória: "Após um ano inteiro de luta, Riviére obtivera a vitória. Uns diziam ' graças à sua fé', outros diziam ' graças à sua tenacidade, à sua força bruta de urso em movimento', mas, segundo ele, mais simplesmente, porque se obstinara sempre na direção certa".
É isso, vencemos quando somos obstinados a seguir na direção certa. Direção que não nos é dada, mas construída em nós, em nossos sonhos legítimos, em nossa vontade de crescer como pessoa, em nossa disposição para ser felizes. Felicidade honesta, que não advém da destruição da felicidade de outros. Ora, "é fácil falar de mim", porque é fácil se entreter com a vida alheia enquanto a sua passa sem ser notada, sem um rumo a seguir, sem a felicidade a buscar. Não é difícil, porém, estar em meu lugar, ser eu, porque eu sou uma aventura do amor de Deus, eu sou um sonho em constante realização, eu sou a dor das dúvidas e a expectativa do amanhã. Sim, eu sou as possibilidades em aberto, o sorriso por ser dado, os medos dissipados... mas eu sou eu e a força que me faz ser construtor da minha vida, caminhante de caminhos que quero percorrer sem medo e sem a desculpa eterna da espera que nunca acaba e apenas justifica.
Enfim, quero ser eu mesmo, com meus defeitos, com as minhas limitações, com as contradições que habitam em mim. Porque amando a minha história e o que sou, mesmo quando tudo parece perdido, há sempre a certeza do amanhã em que posso fazer a diferença e mudar os rumos das coisas.
(Quem quiser ler o pequeno livro "Voo Noturno", pode fazê-lo online aqui).
No "é difícil ser eu" está embutida a revelação da desconfiança sobre si mesmo, uma desculpa antecipadas para os próprios limites e circunstâncias, uma percepção de estar de antemão aquém dos próprios desafios, por menores que sejam. É a frase, na verdade, um desafio aos interlocutores, porém de sinal trocado: desafio de quem antecipadamente já se pôs em posição de desvantagem. Seria diferente um desafio noutros termos: "Pode falar de mim; eu sigo em frente, porque sei aonde vou, porque busco os meus sonhos". Enquanto me criticam, eu persigo os fins desejados, não me quedo diante da crítica, não me deixo abater e desisto, porque simplesmente é difícil. Se fácil fosse, qual o mérito, afinal?
O derrotismo está presente nessa desculpa prévia: é difícil estar no meu lugar, porque a minha vida traz limitações, porque as minhas circunstâncias me impõem limites. E esse derrotismo é muito presente em nossas vidas: quantas vezes encontramos os que simplesmente desistiram de tentar, os encastelados em suas frustrações que a tudo justifica, os blindados pelo "deixa estar"? Não. É natural que falem, uns por inveja, outros por cupidez, alguns para ajudar... Mas não é isso que nos faz andar ou ficar, que nos move ou imobiliza. É a força que há em nós, o desejo de ir em frente, a ânsia de felicidade. São essas coisas que nos fazem dar um passo a mais, porque "é sempre um passo que falta", como dizia tão bem Antoine de Saint Exupèry em seu "Voo Noturno".
Aliás, nesta obra há algumas afirmações que podem nos fazer pensar, como em um dos diálogos em que o piloto Rivière afirma: "Você percebe, Robineau, na vida não há soluções. Há forças em movimento: é preciso criá-las e as soluções sobrevêm". Noutra passagem desta obra madura de Exupèry, há uma outra interessante afirmação sobre o sentido da vitória: "Após um ano inteiro de luta, Riviére obtivera a vitória. Uns diziam ' graças à sua fé', outros diziam ' graças à sua tenacidade, à sua força bruta de urso em movimento', mas, segundo ele, mais simplesmente, porque se obstinara sempre na direção certa".
É isso, vencemos quando somos obstinados a seguir na direção certa. Direção que não nos é dada, mas construída em nós, em nossos sonhos legítimos, em nossa vontade de crescer como pessoa, em nossa disposição para ser felizes. Felicidade honesta, que não advém da destruição da felicidade de outros. Ora, "é fácil falar de mim", porque é fácil se entreter com a vida alheia enquanto a sua passa sem ser notada, sem um rumo a seguir, sem a felicidade a buscar. Não é difícil, porém, estar em meu lugar, ser eu, porque eu sou uma aventura do amor de Deus, eu sou um sonho em constante realização, eu sou a dor das dúvidas e a expectativa do amanhã. Sim, eu sou as possibilidades em aberto, o sorriso por ser dado, os medos dissipados... mas eu sou eu e a força que me faz ser construtor da minha vida, caminhante de caminhos que quero percorrer sem medo e sem a desculpa eterna da espera que nunca acaba e apenas justifica.
Enfim, quero ser eu mesmo, com meus defeitos, com as minhas limitações, com as contradições que habitam em mim. Porque amando a minha história e o que sou, mesmo quando tudo parece perdido, há sempre a certeza do amanhã em que posso fazer a diferença e mudar os rumos das coisas.
(Quem quiser ler o pequeno livro "Voo Noturno", pode fazê-lo online aqui).
Ser "um eterno aprendiz" me dá o prazer de ler seus artigos. Havia tres semanas que não lia seu blog quando precisei fazer uma pesquisa de frases de parachoques de caminhão com meu filho. E a frase "É fácil falar de mim; difícil é ser eu" (postado por Adriano Soares) me chamou a atenção mesmo duvidando que tratava-se de sua pessoa pela dureza, arrogância, o derrotismo e o desdém aos desejos ou capacidade do outro. Ainda assim, cliquei para navegar.
ResponderExcluirMinha curiosidade me levou a mais uma lição de vida, de nobreza, de persistência e sobretudo do reconhecimento e aceitação dos desafios como caminhos para conquistas.