sábado, 31 de julho de 2010

Música do fim semana: Ave Maria, por Carmen Monarcha

Poucas músicas emocionam tanto como Ave Maria de Bach-Gounod. Carmen Monarchia é uma cantora lírica de Belém do Pará, atuando na companhia de Andre Rieu, uma das maiores do mundo. Juntam-se uma linda e profunda música, com uma interpretação doce e talentosa. É a música do fim de semana:

domingo, 25 de julho de 2010

Massa: entre a honra e a desonra

Pode-se vencer sem honra; pode-se perder com honra. O terrível é perder abrindo mão da honra, por covardia.

Sou torcedor de Felipe Massa. Desde Senna que não acordava para ver a Fórmula 1 por causa de um brasileiro que julgo com talento para competir e vencer. Massa pode não ser o mais talentoso piloto da Fórmula 1 atual, mas é competitivo e perdeu o título de 2008 por um ponto, devido a erros da Ferrari.

O que não se aceita é submeter o povo brasileiro a outro espetáculo tétrico como o da corrida de hoje, na Alemanha. Massa pulou para a liderança na primeira volta e conduziu-se líder durante toda a prova, controlando as aproximações de Alonso, que não tinha como lhe ultrapassar. A equipe, então, manda-lhe a ordem antidesportiva para que ele permita a ultrapassagem do seu companheiro espanhol. E Massa, a contragosto, permite, não sem demonstrar que a ultrapassagem era um jogo sujo da Ferrari.

Um vitória sem méritos de Alonso, explicitada pela Fon, que cuida das imagens das corridas. Através de vários expediente, a transmissão televisiva mostrou que houve jogo sujo, desonesto, para que Alonso vencesse.

Sinceramente, se Felipe Massa se submeter a esse jogo sujo de equipe, melhor mudar para uma outra em que possa correr, como a Renault ou mesmo, no futuro, a RedBull.  Tem talento para mostrar o seu valor em qualquer outra, sem participar desse lamentável circo.

Massa perdeu, com desonra. Acovardou-se diante da ordem da equipe. Ninguém pode ser punido por vencer! Mas a história há de punir os que abriram mão da vitória por um contrato bem remunerado.

Barrichello levará para sempre essa mancha, porque sempre foi um bom piloto mas acomodou-se na posição de eterno escudo do piloto alemão. Irresignado, mas fazendo o papel de escudeiro, desistindo de competir. Ao ponto de ter de dizer, estupidamente, após uma das tantas corridas em que Schumacher venceu e levou antecipadamente um título, que o campeonato estaria começando agora para ele...

Alonso é um predador. Não tem ética desportiva, como já mostrou no passado ao litigar com Hamilton, além de se beneficiar de um jogo imundo de Flávio Briatore, na Renault. A questão a saber é: Massa será um bom menino? Será um tolo, que assumirá o ônus de ser um pateta na Ferrari?

Essa Fórmula 1 eu não assisto mais. É antidesportiva e cínica. Deixou de ser esporte para ser apenas um negócio descarado. Vamos ver a personalidade de Massa, se honrará ou não a sua história, o seu filho e os brasileiros.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Meus sonhos feito carne

Dia 24, aniversário da Maria Eduarda. Olho para trás, vendo aquela pequena porção de mim chorando deitada no berçário, após o parto. Olhei para aquele rostinho inchado, com feições indefinidas, de uma linda feiúra. Diziam-me que as crianças nascem com a "cara de joelho"; constatei como Deus é sábio: nascem chorando, feinhas, porque são um mistério lindo, insondável, profundo. Ela chorava copiosamente, sentindo-se fora do seu mundo, da proteção do silêncio e do amor do útero materno.

Meu coração apertado. Minha filha! Meus sonhos feito carne!

Tomei-a em meus braços, o choro forte, intenso, profundo. Tantas noites falando para ela na barriga da mãe: "Filhinha, o papai te ama!". Tantas noites fazendo carinho, apalpando, participando daquele remexido, vendo a vida brotando ali, milagrosamente. E ela ali, agora em meus braços, com o choro do chamado à vida.

"Filhinha, é o papai!", disse-lhe carinhosamente ao ouvido. O choro cessou. Os olhos entreabriram-se. Aquela voz lhe era conhecida, trazia alguma boa sensação. Fiquei bobo, emocionado, lágrimas nos olhos.

Um encontro único, enigmático, sem igual. Ninguém pode ser tão amada como aquela criança, simplesmente porque é a melhor parte de mim, o pedaço que melhor me traduz, os olhos pelos quais eu seria capaz dos maiores gestos, dos atos mais improváveis.

Agradeço a Deus ser pai. Pai da Maria Eduarda. Agradeço viver a alegria de ser puxado pelas mãos, como hoje ao chegar cansado em casa, e ouvir um pedido irrecusável: "Papai, vamos brincar de pônei". Lá ia ela, puxando-me, com a outra mão ocupada com um saco repleto de pôneis coloridos, presentes da avó paterna. Sentado ao chão, disse-lhe: "Filha, essa brincadeira de pentear a crina do pônei é de menina". Ela olhou-me ternamente e disse-me: "Ah, papai, brinca comigo, quero ficar com você".

A arte da sedução feminina nasce cedo. Nós, os homens, somos sempre dominados às suas vontades. E fique segurando os pôneis, enquanto ela passa a escova, depois o secador de mentirinha.

Parabéns, minha filha. Hoje, agora, você faz 4 anos de idade. Obrigado, meu Senhor, por esse lindo presente.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Teotônio e Alagoas

Entrei na sala para discutir o processo eleitoral das urnas eletrônicas, cuja ação estava tramitando no Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas. O candidato João Lyra questionava o resultado das eleições no Estado, promovendo com competência uma marola de notícias na imprensa nacional.

Teotônio Vilela estava sentado à mesa com um assessor de comunicação. Discutiam a greve da educação, que consumia politicamente os três primeiros meses de governo, após a edição de um decreto que visava colocar em ordem as contas públicas. Os primeiros meses era de movimento grevista dos servidores públicos, com ênfase dos profissionais da educação.

Sentei-me, aguardando o término da reunião. Téo me olhou e perguntou o que estava achando daquele movimento, dos desgastes sofridos pelas primeiras medidas de ajustes do Estado. Sem muitas medidas, fiz uma análise honesta do que estava vendo: era um governo bem-intencionado tomando medidas duras, porém errando na comunicação. A situação dramática das finanças do Estado exigiam medidas severas, porém deveriam ter elas vindas em doses menores e com um aparato de comunicação, que permitisse à sociedade compreender as razões daquelas ações administrativas. Téo, como é do seu feitio, ouviu atentamente, fez algumas perguntas e, lá para as tantas, depois de muito conversa, disse-me em tom meio maroto: - "Rapaz, bem que você podia assumir a Secretaria de Administração...". Sorri, tomando a fala na brincadeira. O assessor de comunicação olhou para o Téo e disse: "Governador, boa ideia. Seria interessante!".

Fiquei surpreso quando o Téo me olhou e fez o convite, agora em tom mais sério: "Adriano, rapaz, você é uma advogado bem sucedido. Poxa, poderia dar uma contribuição ao seu Estado. Seria muito bom você no governo, porque o André Varjas pediu exoneração e estou pensando em nomes para substitui-lo". O meu sorriso sumiu. Vi que a conversa estava tomando um rumo inesperado, ganhando um contorno que não me agradava.

Fui Secretário de Administração no primeiro governo de Ronaldo Lessa. Foi um período difícil, de muitos enfrentamentos. Sofri um desgaste enorme ao defender sozinho medidas polêmicas, como a execução orçamentária do orçamento do ano anterior (1998), já que a Assembleia Legislativa havia derrubado a proposta orçamentária do governo anterior e não deixado nada em seu lugar. Os secretários defendiam uma rendição, dependendo para tudo de créditos especiais solicitados ao Parlamento; eu, com uma visão política do processo, entendia que a execução orçamentária do ano anterior preservava o princípio da legalidade da despesa pública, ao tempo em que dava ao Poder Executivo autonomia frente ao Legislativo, que queria submetê-lo. Evidentemente que passei a ser atacado por isso, muitas vezes de forma covarde, pelos que desejavam o governo servil.

Saí do governo no ano seguinte com o compromisso de mais nunca exercer cargos públicos. O ônus fora muito grande para a minha família. E agora, quase dez anos depois, estava com o convite para exercer o mesmo cargo, em circunstâncias bem mais graves, quando a minha vida já estava estabilizada. Refuguei. Agradeci imensamente o convite, mas disse não ao Téo.

Téo é uma pessoa do bem. Afável, boa-praça, com um jeito meio zen. Aliás, gosta dessas coisas orientais. Diante do meu não, do meu desinteresse pelo cargo, provocou-me de uma forma diferente: "Adriano, você está vendo esse início complicado de governo, a gente querendo acertar, tendo que tomar medidas amargas para corrigir o rumo das coisas, cortando na própria carne. Precisamos da sua participação nisso. Faça uma coisa: venha sofrer comigo!".

Disse isso pegando em meu braço, em uma apelo fraterno, mas sério. E aquilo me desconcertou. O tal "venha sofrer comigo" foi o convite mais estranho que profissionalmente eu havia recebido. E mostrava a grandeza do encargo, de um lado, mas o nível de confiança que ele depositava em mim. Olhei para o Téo, sem jeito para conservar a firmeza da minha negativa, e pedi um prazo para pensar. O assessor de comunicação pegou a deixa: "Ok, amanhã então a gente anuncia!". Epa! Não, precisava realmente de um prazo para consultas. E me foram dados cinco dias.

Saí da sala de reunião e liguei imediatamente para a minha esposa, sabidamente contrária ao meu retorno para o serviço público. "Não, Adriano! Pelo amor de Deus, não!". Disse-lhe que pensássemos juntos, com calma. Liguei para um jornalista, amigo meu, e falei sobre o convite, obviamente pedindo que não publicasse. Gostaria apenas de ouvir a sua visão do governo, da situação política, uma vez que eu não estava acompanhando nada disso. Ficamos de conversar no dia seguinte e o fizemos longamente por telefone. Um bom papo, com ponderações responsáveis e uma conclusão pouco animadora: "Olhe, pelo Estado, seria bom assumir; por você, caia fora!".

Era o início da noite do dia seguinte ao convite. Reuni-me com os meus pais, meu irmão Henrique e a minha esposa. Ana Paula e a mamãe, contrárias; meu pai e o meu irmão, favoráveis. Meu pai foi decisivo para a minha aceitação: "Adriano, ajude o seu Estado. Dê a sua contribuição. Se o Governador lhe chamou nestes termos, é seu dever aceitar". O meu pai é um homem que pensa muito em servir aos outros. Aí estava a chave da sua fala: sacrifique-se por uma causa justa. Assim também o meu irmão.

Diante da altitude moral do meu pai e do meu irmão, as mulheres quedaram-se vencidas. Eu, ainda sem uma resposta, passei a olhar as coisas de uma outra forma. Gastei, porém, os tais cinco dias e fui ao encontro do Téo. Aceitei o convite e o encargo, com uma única condição: apenas me reportaria a ele e teria liberdade para atuar na reformulação da secretaria de administração, mexendo em previdência, alterando os procedimentos das compras públicas, auditando e reformulando a folha de pagamento, desenvolvendo políticas de desenvolvimento de pessoas. Incentivar o servidor público, defendendo o bom serviço público.

Relembro isso, agora, quando se aproxima essa nova eleição, para dizer que foi uma experiência fantástica trabalhar no governo do Téo. Mudamos o Estado, sim. E eu pude contribuir com isso; mais ainda: pude ter a alegria de participar disso. E torço que ele possa liderar esse resgate do Estado por mais quatro anos. Alagoas precisa da continuidade de políticas públicas saudáveis, responsáveis, comprometidas com a inclusão social e a geração de emprego. Por isso, neste espaço pessoal, para além de ser advogado do candidato Teotônio Vilela, ponho-me aqui como eleitor, manifestando publicamente o meu voto.

E vejam, advogar para um candidato não pressupõe ser eleitor dele. Advocacia não se confunde com militância política. Não votaria em alguns dos meus clientes, porque ideologicamente não me afino com eles. Essa a razão pela qual faço questão de manifestar o meu voto, como gesto de consciência.

sábado, 10 de julho de 2010

Cazuza: uma homenagem

Cazuza foi um poeta da nossa geração. Faz vinte anos da sua morte, mas as suas músicas continuam fazendo sucesso, pela linguagem e ritmo. Morreu como viveu: fazendo da sua vida algo estrepitoso, transgressor, confuso. A sua complexidade é a complexidade nossa, do ser humano sempre sedento, à procura de respostas e mais respostas. As drogas, os shows alucinados, as relações problemáticas, tudo revelava em Cazuza essa sede de viver e essa ausência de sentido. As letras das suas músicas, a poesia, o romantismo inquieto, porém, marcavam um espírito de muitas tonalidades, cujo talento sobrepujava muitas vezes o embotamento da razão.

Cazuza foi um dos ídolos da minha geração. A expiação pública causada pela doença e a morte precoce dizem muito do seu temperamento e da sua personalidade. Mas não dizem tudo: as suas músicas falam ainda mais. Deixo aqui postada uma das suas poesias, que mostram o seu talento e como as palavras podem dizer muito, sem dizer tudo. E a imagem dele, alquebrado pela doença, também nos fala muito. Uma homenagem, então. Muito merecida. Mesmo não sendo fã de Cazuza, há músicas de que gosto muito, muito.

Ah, uma lembrança: nessa época aí do vídeo, o Cazuza esteve em Maceió. Estava muito mal, tendo muitas vezes depressão, reações fortes de raiva e revolta. Chegou a tirar a roupa em um show. Era o tempo do Festival de Verão aqui em Maceió, na praia da Pajuçara. É isso aí, a comprovação ad rem que estamos ficando velhos...


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Envelhecer e morrer

"- Papai, você vai ficar velho?". Olhei para Maria Eduarda surpreso com a pergunta. Ela me fitou e, antes que pudesse responder, pespegou-me outra: "- Papai, você vai morrer?". Os olhinhos miúdos esperavam uma resposta negativa, como se a eterna juventude pudesse ser adquirida nalguma esquina. Sorri-lhe um sorriso acolhedor, condescendente. "- Sim, filha, o papai vai ficar velhinho e, um dia, vai morrer. Todos nós passaremos por isso, inclusive você. Mas, olhe, vai demorar muiiito", assim mesmo, com ênfase no "i", para dar a sensação de demora sem fim.

A consciência da morte começa precocemente em nós, abrindo-nos para a sede do infinito, esse sentimento que nos diferencia de tudo: os animais, ainda que tenham consciência, ainda que tenham capacidade intelectiva, vivem apenas o presente, o hoje da existência. O ser humano, não, ele olha para o futuro, tentando enxergá-lo.

A pergunta da minha filha não é simples. Há profundidade nela. Velhice e morte são símbolos da corrupção da vida. A diferença entre nós e as crianças é justamente esta: elas se permitem perguntar sobre o que parece óbvio, sem adormecer o que as incomoda. Nós, os adultos, deixamos essas questões em stand by, passando por elas como não existissem, como se morte, por exemplo, não estivesse nos acompanhando dia a dia.

Certa feita, Ana Paula começou a cantar para Maria Eduarda músicas religiosas. Lá para as tantas, cantarolou "Mãezinha do céu, eu não sei rezar / só sei dizer / eu quero te amar / azul é o teu manto / branco é o teu véu / Mãezinha eu quero te ver...". Uma abrupta parada. Olhou para mim com enormes olhos, uma angústia de mãe: "- Não, não agora. Essa parte do ver lá no céu deve ser mudada...". Sim, Ana Paula quer ver Nossa Senhora no céu, em um futuro beeem distante. Também quer que a Maria Eduarda a veja, mas não tão cedo; quem sabe depois dos 80 anos...

Sim, temos uma imensa sede do infinito. Temos uma sede difusa do que tem nome, tem presença, tem constância em nossa história: Deus! É Nele que o envelhecer se transforma em juventude da alma, que a morte é vencida, que a ressurreição é mais que promessa: é fato! É Nele que o homem caído, estiolado pelo pecado, divinizou-se no homem glorificado em Cristo.

Mãezinha do céu, nós não sabemos rezar e queremos, sim, vê-la lá no céu. Reze por nós, media por nossas faltas, sê advogada nossa. E protege nossa filhinha com o seu imenso amor de mãe.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Opinião Pública

Concedi uma longa entrevista ao Yuri Brandão sobre questões jurídicas, sobretudo a lei dos fichas sujas. Ele fez um resumo e o portal Cada Minuto publicou com uma chamada sobre o ponto mais saliente, cujo interesse político é maior: a inelegibilidade, ou não, do candidato Ronaldo Lessa, ex-governador do Estado de Alagoas (aqui).

Olhando os comentários feitos, tanto no Blog do Yuri (aqui) como no portal do Cada Minuto, tirando aqueles que honestamente concordam ou mesmo discordam, vemos aquele interessante fenômeno da internet: os sem-rostos, os sem-nomes, os com-frustração, que saem das sombras sem delas saírem, espargindo a sua raiva, a sua profunda autopiedade traduzida em rancor. Veja esse exemplo:

nattasha silverio em 07/07/2010 às 02:02
Adriano soares, engraçado, até parece gente do bem . Advogado que defende os grandes corruptos.Ele não é besta, não é. Quanto jogo de palavras, quem não te conhece que te compre. Quem o elogia ou não o conhece ou é comparsa.

Miriam Lures em 06/07/2010 às 17:37
Mas gosta de aparecer e está no poder esse Adriano. Trabalhou 8 anos para o grupo do Ronaldo e agora fica jogando essas versões. Na certa tá afim de ganhar um trocadinho.

O irracionalismo é um traço da nossa quadra histórica. Só que hoje, com a internet possibilitando a vocalização da estupidez, essa turma passou a ter meios de vocalizar a sua mediocridade, o seu destempero, a sua fúria ignorante. E aqui se abre uma interessante perspectiva de reflexão: a tal opinião pública, grosso modo, é justamente formada por essa irracionalidade: não há reflexão; há simplesmente a instintiva reação causada por uma epidérmica visão da realidade. Não há argumentos; há esperneio, agressividade protegida pelo anonimato da internet.

Quem exerce uma atividade pública tem que saber conviver também com a reação da patuleia, razão pela qual sempre me diverti com essas manifestações desabridas de alguns. Mais ainda: é a partir de uma convivência com essa forma de manifestação do pensamento (ou ausência dele), que compreendo os limites imensos da tal opinião pública.

Dunga, por exemplo, um dia antes do jogo do Brasil com a Holanda, era aclamado pela opinião pública, conforme pesquisa de opinião do Datafolha. Eliminada a Seleção, Dunga passou a ser "burro", "intransigente", "incompetente", "desequilibrado", etc. Ou seja, as manifestações das massas são sempre se e enquanto.

Bem, aqui chegamos, depois dessa longa volta, para o aspecto que me motivou a escrever esse texto: como podemos admitir que o Poder Judiciário abra mão de decidir com apego à Constituição para decidir com respeito àquilo que a tal opinião pública entende o correto? Foi justamente aqui, aliás, que os parlamentares entraram pelo cano: pensavam que apenas eles poderiam votar politicamente a aprovação de uma lei inconstitucional, para dar uma satisfação à tal opinião pública em ano eleitoral, porém a Justiça Eleitoral terminou seguindo o mesmo trilho que eles.

Assisti ontem o filme "O julgamento de Nuremberg", retratando o julgamento por crime de guerra e crimes contra a humanidade dos líderes alemães capturados. Um filme muito interessante, mostrando que até mesmo aqueles homens, acusados das maiores barbaridades, mereceram um julgamento justo (e tiveram!), em um momento em que todos os alemães é que, na verdade, estavam sendo julgados pelo alinhamento com o regime nazista.  Sim, a massa é que estava sendo julgada; a mesma massa que negou, depois, conhecer as atrocidades do regime.

É isso: queria falar um pouco sem preocupação com um texto mais refinado, longo, fazendo ligações entre esses assuntos aqui tratados difusamente. O essencial é mostrar que não devemos nos submeter à opinião pública: ela, a opinião pública, é uma fotografia, um momento, porque não há uma liga que faça as fluídas opiniões durarem para sempre. E a opinião pública não quer conduzir; quer mesmo é ser conduzida.