segunda-feira, 19 de julho de 2010

Teotônio e Alagoas

Entrei na sala para discutir o processo eleitoral das urnas eletrônicas, cuja ação estava tramitando no Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas. O candidato João Lyra questionava o resultado das eleições no Estado, promovendo com competência uma marola de notícias na imprensa nacional.

Teotônio Vilela estava sentado à mesa com um assessor de comunicação. Discutiam a greve da educação, que consumia politicamente os três primeiros meses de governo, após a edição de um decreto que visava colocar em ordem as contas públicas. Os primeiros meses era de movimento grevista dos servidores públicos, com ênfase dos profissionais da educação.

Sentei-me, aguardando o término da reunião. Téo me olhou e perguntou o que estava achando daquele movimento, dos desgastes sofridos pelas primeiras medidas de ajustes do Estado. Sem muitas medidas, fiz uma análise honesta do que estava vendo: era um governo bem-intencionado tomando medidas duras, porém errando na comunicação. A situação dramática das finanças do Estado exigiam medidas severas, porém deveriam ter elas vindas em doses menores e com um aparato de comunicação, que permitisse à sociedade compreender as razões daquelas ações administrativas. Téo, como é do seu feitio, ouviu atentamente, fez algumas perguntas e, lá para as tantas, depois de muito conversa, disse-me em tom meio maroto: - "Rapaz, bem que você podia assumir a Secretaria de Administração...". Sorri, tomando a fala na brincadeira. O assessor de comunicação olhou para o Téo e disse: "Governador, boa ideia. Seria interessante!".

Fiquei surpreso quando o Téo me olhou e fez o convite, agora em tom mais sério: "Adriano, rapaz, você é uma advogado bem sucedido. Poxa, poderia dar uma contribuição ao seu Estado. Seria muito bom você no governo, porque o André Varjas pediu exoneração e estou pensando em nomes para substitui-lo". O meu sorriso sumiu. Vi que a conversa estava tomando um rumo inesperado, ganhando um contorno que não me agradava.

Fui Secretário de Administração no primeiro governo de Ronaldo Lessa. Foi um período difícil, de muitos enfrentamentos. Sofri um desgaste enorme ao defender sozinho medidas polêmicas, como a execução orçamentária do orçamento do ano anterior (1998), já que a Assembleia Legislativa havia derrubado a proposta orçamentária do governo anterior e não deixado nada em seu lugar. Os secretários defendiam uma rendição, dependendo para tudo de créditos especiais solicitados ao Parlamento; eu, com uma visão política do processo, entendia que a execução orçamentária do ano anterior preservava o princípio da legalidade da despesa pública, ao tempo em que dava ao Poder Executivo autonomia frente ao Legislativo, que queria submetê-lo. Evidentemente que passei a ser atacado por isso, muitas vezes de forma covarde, pelos que desejavam o governo servil.

Saí do governo no ano seguinte com o compromisso de mais nunca exercer cargos públicos. O ônus fora muito grande para a minha família. E agora, quase dez anos depois, estava com o convite para exercer o mesmo cargo, em circunstâncias bem mais graves, quando a minha vida já estava estabilizada. Refuguei. Agradeci imensamente o convite, mas disse não ao Téo.

Téo é uma pessoa do bem. Afável, boa-praça, com um jeito meio zen. Aliás, gosta dessas coisas orientais. Diante do meu não, do meu desinteresse pelo cargo, provocou-me de uma forma diferente: "Adriano, você está vendo esse início complicado de governo, a gente querendo acertar, tendo que tomar medidas amargas para corrigir o rumo das coisas, cortando na própria carne. Precisamos da sua participação nisso. Faça uma coisa: venha sofrer comigo!".

Disse isso pegando em meu braço, em uma apelo fraterno, mas sério. E aquilo me desconcertou. O tal "venha sofrer comigo" foi o convite mais estranho que profissionalmente eu havia recebido. E mostrava a grandeza do encargo, de um lado, mas o nível de confiança que ele depositava em mim. Olhei para o Téo, sem jeito para conservar a firmeza da minha negativa, e pedi um prazo para pensar. O assessor de comunicação pegou a deixa: "Ok, amanhã então a gente anuncia!". Epa! Não, precisava realmente de um prazo para consultas. E me foram dados cinco dias.

Saí da sala de reunião e liguei imediatamente para a minha esposa, sabidamente contrária ao meu retorno para o serviço público. "Não, Adriano! Pelo amor de Deus, não!". Disse-lhe que pensássemos juntos, com calma. Liguei para um jornalista, amigo meu, e falei sobre o convite, obviamente pedindo que não publicasse. Gostaria apenas de ouvir a sua visão do governo, da situação política, uma vez que eu não estava acompanhando nada disso. Ficamos de conversar no dia seguinte e o fizemos longamente por telefone. Um bom papo, com ponderações responsáveis e uma conclusão pouco animadora: "Olhe, pelo Estado, seria bom assumir; por você, caia fora!".

Era o início da noite do dia seguinte ao convite. Reuni-me com os meus pais, meu irmão Henrique e a minha esposa. Ana Paula e a mamãe, contrárias; meu pai e o meu irmão, favoráveis. Meu pai foi decisivo para a minha aceitação: "Adriano, ajude o seu Estado. Dê a sua contribuição. Se o Governador lhe chamou nestes termos, é seu dever aceitar". O meu pai é um homem que pensa muito em servir aos outros. Aí estava a chave da sua fala: sacrifique-se por uma causa justa. Assim também o meu irmão.

Diante da altitude moral do meu pai e do meu irmão, as mulheres quedaram-se vencidas. Eu, ainda sem uma resposta, passei a olhar as coisas de uma outra forma. Gastei, porém, os tais cinco dias e fui ao encontro do Téo. Aceitei o convite e o encargo, com uma única condição: apenas me reportaria a ele e teria liberdade para atuar na reformulação da secretaria de administração, mexendo em previdência, alterando os procedimentos das compras públicas, auditando e reformulando a folha de pagamento, desenvolvendo políticas de desenvolvimento de pessoas. Incentivar o servidor público, defendendo o bom serviço público.

Relembro isso, agora, quando se aproxima essa nova eleição, para dizer que foi uma experiência fantástica trabalhar no governo do Téo. Mudamos o Estado, sim. E eu pude contribuir com isso; mais ainda: pude ter a alegria de participar disso. E torço que ele possa liderar esse resgate do Estado por mais quatro anos. Alagoas precisa da continuidade de políticas públicas saudáveis, responsáveis, comprometidas com a inclusão social e a geração de emprego. Por isso, neste espaço pessoal, para além de ser advogado do candidato Teotônio Vilela, ponho-me aqui como eleitor, manifestando publicamente o meu voto.

E vejam, advogar para um candidato não pressupõe ser eleitor dele. Advocacia não se confunde com militância política. Não votaria em alguns dos meus clientes, porque ideologicamente não me afino com eles. Essa a razão pela qual faço questão de manifestar o meu voto, como gesto de consciência.

Um comentário:

  1. Gostei muito de saber como foi a sua trajetória no Governo do Estado. Seu pai é um homem sábio!

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