sexta-feira, 23 de julho de 2010

Meus sonhos feito carne

Dia 24, aniversário da Maria Eduarda. Olho para trás, vendo aquela pequena porção de mim chorando deitada no berçário, após o parto. Olhei para aquele rostinho inchado, com feições indefinidas, de uma linda feiúra. Diziam-me que as crianças nascem com a "cara de joelho"; constatei como Deus é sábio: nascem chorando, feinhas, porque são um mistério lindo, insondável, profundo. Ela chorava copiosamente, sentindo-se fora do seu mundo, da proteção do silêncio e do amor do útero materno.

Meu coração apertado. Minha filha! Meus sonhos feito carne!

Tomei-a em meus braços, o choro forte, intenso, profundo. Tantas noites falando para ela na barriga da mãe: "Filhinha, o papai te ama!". Tantas noites fazendo carinho, apalpando, participando daquele remexido, vendo a vida brotando ali, milagrosamente. E ela ali, agora em meus braços, com o choro do chamado à vida.

"Filhinha, é o papai!", disse-lhe carinhosamente ao ouvido. O choro cessou. Os olhos entreabriram-se. Aquela voz lhe era conhecida, trazia alguma boa sensação. Fiquei bobo, emocionado, lágrimas nos olhos.

Um encontro único, enigmático, sem igual. Ninguém pode ser tão amada como aquela criança, simplesmente porque é a melhor parte de mim, o pedaço que melhor me traduz, os olhos pelos quais eu seria capaz dos maiores gestos, dos atos mais improváveis.

Agradeço a Deus ser pai. Pai da Maria Eduarda. Agradeço viver a alegria de ser puxado pelas mãos, como hoje ao chegar cansado em casa, e ouvir um pedido irrecusável: "Papai, vamos brincar de pônei". Lá ia ela, puxando-me, com a outra mão ocupada com um saco repleto de pôneis coloridos, presentes da avó paterna. Sentado ao chão, disse-lhe: "Filha, essa brincadeira de pentear a crina do pônei é de menina". Ela olhou-me ternamente e disse-me: "Ah, papai, brinca comigo, quero ficar com você".

A arte da sedução feminina nasce cedo. Nós, os homens, somos sempre dominados às suas vontades. E fique segurando os pôneis, enquanto ela passa a escova, depois o secador de mentirinha.

Parabéns, minha filha. Hoje, agora, você faz 4 anos de idade. Obrigado, meu Senhor, por esse lindo presente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário