sábado, 11 de junho de 2011

Música do fim de semana: Ana Cañas

Sem palavras; só a música, com a sua melodia, para o fim de semana:

Crônica do amor e sofrimento

A tristeza comeu-lhe o coração em pedaços, com uma fome infinita. Apossou-se do seu corpo, entrando por cada poro, sem deixar margem para negociações. E quando deu por si, lá já estava a tristeza desabrigando a sua alma, deixando-a ao relento. Hóspede ingrata, a tristeza não se faz inquilina; não há paga que queira compensar os cômodos que ocupa. Simplesmente se assenhora e faz suas as entranhas tomadas e submetidas aos seus caprichos.

E, assim, maltratada por aquela tristeza bravia, perguntou-se, afinal, "por que amar é sofrer?". Sendo o amor o sentimento mais bonito que poderia alguém ter, por que haveria de viver ele, o amor, amasiado com a dor, a solidão ou a saudade? Sim, a tristeza do amor é aquela malagueta, com as suas arduras e quebrantos, que maltrata a alma e espanca o corpo, deixando o peito estufado de quereres indomáveis, tragando o juízo com a ideia fixa, que não se deixa esquecer ou afastar.

E de tanto se perguntar, ela resolveu, com a convicção enraizada em granito maciço, que o melhor seria esquecer, afastar-se, tirar de si o sentimento que já lhe tomara as vontades e desejos, e arremessar para longe, como o escritor que amassa e joga fora o pedaço de papel com linhas mal escritas. E trabalhou, minutos a fio, nesse intento colossal, quando se deu conta de que o esmagamento do amor não lhe abrandava a dor e a saudade, porém apenas lhe tirava a razão pela qual o sol fazia o azul do céu mais bonito, de um anil sem nuvens a lhe toldar a beleza da manhã.

E ela, entre um e outro soluço, sorriu de si mesma e da sua dor, convencida que a solidão que pensava sentir não era solidão, mas excesso da presença do amor em seu corpo, em sua alma, em seu coração. O amor dói, pensou ela com o sorriso lavado em lágrimas persistentes, porque é abarcante, fazendo do outro o que parecia seu. E deu-se conta, então, que não há amor sem sofrer, porque simplesmente ele é tão caro, tão importante, tão presente, que a dor é o medo da perda e a solidão, o medo da ausência.

Ah, aquela angústia tinha então sentido. O medo de perder, o ciúme, as dúvidas, tudo isso faz parte do amor, é o próprio amor vivo, gritando o nome que lhe faz ser o que é. E ela, então, finalmente pode sorrir e dizer para si mesma: vale a pena sofrer cada sofrimento, porque é a prova de que se está viva e amando quem vale a pena ser amado.

domingo, 5 de junho de 2011

Entrevista ao Jornal Extra sobre a posse na Educação

Jornal Extra- O senhor vai assumir a pasta da educação em um momento de crise, onde há indicativo de greve. Essa situação lhe assusta? O que o levou a aceitar este novo desafio em um período tão conturbado?

ASC - Não vejo crise. Pelo contrário. Há normalidade, porque as greves de maio passaram a integrar a agenda de alguns sindicatos. Existe hoje um cíclico movimento grevista, que tem ocorrido constantemente no serviço público estadual. Foi assim no governo Geraldo Bulhões, depois (com os atrasos de salários) no Governo Divaldo Suruagy, nos 8 anos do Governo Lessa e no primeiro mandato do Governo Vilela. A rigor, portanto, historicamente as greves têm sido uma constante. O que seria o último instrumento de reivindicação passa a ser o primeiro e único meio, sem que as negociações se esgotem e possam, dentro dos limites da realidade financeira do Estado, gerar consenso. Acredito, porém, que Governo e sindicatos chegarão a um acordo.

O que me fez aceitar o desafio foi a possibilidade de auxiliar o Governador Teotônio Vilela a desenvolver a educação do Estado. Uma área fundamental, complexa e essencial para mudar a qualidade de vida de muitos dos alagoanos, gerando maiores oportunidades. Penso que a educação é o maior instrumento de humanização e de desenvolvimento de um povo. O Sen. Benedito de Lira me convidou com esse propósito: trabalhar duro pelas nossas crianças e adolescentes.

JE-O que o senhor vai fazer para resolver o problema da educação em Alagoas já que estamos sempre no topo do ranking de analfabetismo, evasão escolar e outros escândalos como desvio de recursos da merenda, entre tantos fatores negativos?

ASC - O problema da educação diz respeito a todos nós. Ninguém o resolve sozinho. Da minha parte, como secretário, a pretensão é ter um diálogo sempre franco e fraterno com os professores e servidores da educação, que são essenciais para que tenhamos um ensino de qualidade. Investir em gente, com cursos de capacitação e busca de novas políticas remuneratórias, a serem construídas com o SINTEAL. Precisamos estimular cada vez mais aqueles professores em sala de aula, dedicados à causa da educação.

Há a necessidade de forte investimento na infraestrura das escolas. Tanto precisamos construir novas escolas, como temos que ter uma política de rápida reparação daquelas que necessitam de pequenas intervenções. Não é possível que uma escola que tenha perdido parte do teto fique indefinidamente sem aula por razões burocráticas. Precisamos descentralizar certos serviços, para que tenhamos agilidade nas soluções. Aliás, esse foi um ponto que o Governador me solicitou atenção: agilidade de atuação e solução aos problemas.

A evasão escolar necessita ser combatida. Ela tem causas claras. O aluno precisa ser estimulado a ser livre, e a liberdade verdadeira só se adquire com o acesso ao conhecimento. Temos, porém, de dar aos alunos continuidade. Não dá para todo ano pararmos as aulas porque a sala de aula perdeu o telhado e a reforma não chegou; ou porque sequer existe sala de aula; ou ainda porque as aulas foram suspensas por reivindicações e fechamento precoce ao diálogo. Temos de encontrar um caminho de diálogo que não tire dos alunos o tempo que depois não se repõe, o tempo dos seus sonhos.

O que desejo muito, na secretaria, é construir um processo de diálogo com todos, sobretudo os servidores públicos. Minha mãe é professora estadual aposentada. Fui aluno do Grupo Escolar Padre Aurélio Góes, em Junqueiro. Sei a importância do professor para os alunos, para a sua formação, para o gosto pelos livros. É com esse espírito que assumirei a Secretaria de Educação.

JE- O senhor vai se submeter à orientação do senador Benedito de Lira que tem o comando político da pasta?

ASC - Submeter, não. A relação entre mim e ele não é de mando, mas de respeito. Ele não é meu padrinho político, porque não tenho padrinho. É o Senador mais votado de Alagoas, que me fez um convite para trabalhar duro pela educação. Resisti, não aceitei, porque não pretendia mais voltar ao serviço público. Mas fui convencido, porém, pela disposição dele e do Governador Teotônio Vilela em modernizarem a educação de Alagoas. Mas, objetivamente, ouvirei as eventuais orientações do Senador, com atenção e respeito, mas com autonomia para decidir. A nossa relação política será de cooperação pelo desenvolvimento da educação de Alagoas. E ele será muito importante, em Brasília, para nos ajudar nesse sentido.

JE- Entre outros nomes cotados para assumir a pasta, o senhor foi consenso. A que se deve esta escolha?

ASC - Talvez por já ter sido secretário do Gov. Teotônio e ter uma relação familiar com o Senador: minha esposa é sobrinha dele.

JE- Algumas pessoas criticam por um advogado ir comandar os destinos da educação no Estado. O senhor ver algum obstáculo neste sentido?

ASC - Essa é, evidentemente, uma falsa questão. Um advogado seria inepto para ser Secretário de Educação? Na verdade, quem comanda uma pasta complexa deve estar bem assessorado, com técnicos competentes, além de ter humildade para aprender. Ninguém sabe tudo. Liderar é servir e dialogar. O Secretário de Estado, seja de que pasta for, deve primeiro saber exercer a liderança servidora, inspirar os seus liderados em torno de projetos e finalidades factíveis, mas desafiadores. Essa é a minha pretensão. Não sou educador de profissão; quero aprender muito com os que são e contribuir com a minha experiência de gestão pública.

JE - Qual vai ser sua postura com o sindicato da categoria e os servidores da educação em geral?

ASC - Diálogo, diálogo, diálogo, diálogo. Diálogo é um processo sempre difícil, que alguns confundem com submissão. Dialogar é construir em conjunto o consenso, com abertura sincera para o outro e respeito mútuo. É isso que desejo: a partir da transparência das ações estabelecer as pontes para o diálogo verdadeiro e constante.

JE - O senhor já assumiu outras pastas em governos anteriores. A experiência vai ajudar neste novo desafio?

ASC - Sim, aprendi muito e cresci como pessoa.

JE - O senhor já se encontrou com Rogério Teófilo?

ASC - Já conversamos mais de uma vez e estamos fazendo uma transição fraterna. Rogério tem sido muito correto comigo. Creio que é um nome forte a Prefeito de Arapiraca.

JE - Já tem data definida para o senhor assumir a pasta?

ASC - Na próxima segunda-feira.

JE - Deixe um recado para a categoria de servidores da educação em Alagoas.

ASC - Os servidores públicos da educação são a pedra angular do sistema estadual de ensino. Acredito que podemos construir, sobre esse lastro firme, o futuro de gerações e do Estado de Alagoas. E com diálogo, trabalho e abertura, poderemos desenvolver um projeto educacional que todos sonhamos para as nossas crianças e jovens.

Música do Fim de Semana: Gal Costa

A voz de Gal Costa é, já em si mesma, a mais doce melodia. Com a sua baianidade suave, Gal (sim, seu nome é Gal!) cedeu a sua voz única à MPB, com ritos que fizeram sucesso e embalaram romances. Nesse fim de semana, penso que ouvir Gal Costa é deixar-se embalar no que há de bom na vida, no remanso do amor.