segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fala o presidente da CUT/AL

Sobre a crítica que fiz aos dois PT's (governo vs. oposição), utilizando como exemplo o caso dos trabalhadores da Oscip Tocqueville, que tem termo de parceria com a Prefeitura Municipal de Maceió, cujos salários estão há dois meses atrasados, manifestou-se o presidente da CUT/AL, Izac Jacson:

Dr.Adriano! A CUT-AL mantêm viva a sua autonomia e independência frente aos partidos politicos e governos.Para conhecimento de todos jogamos um papel importante em conjunto com o SINTEAL para contratação dos concursados da SEMED (professores,merendeiras e auxiliares de sala), pois o acesso ao serviço público por concurso faz parte dos nossos príncipios, outrossim jamais iremos deixar de cobrar dos gestores públicos ou de qualquer empregador todos os direitos dos trabalhadores contratados ou concursados. Tivemos a responsabilidade de conversar com representantes dos trabalhadores contratados e agendamos para quinta-feira uma assembléia e estamos convidando a DRT para acompanhar os processos de recisão de contratos.

Ótimo. É uma medida importante e agradeço a visita do Izac em nosso blog. A relação entre partido político e central sindical tem sido reconhecidamente um problema para as classes trabalhadoras, que por vezes terminam desamparadas quando a agremiação hegemônica no sindicato chega ao poder político. A Força Sindical hoje está aparelhada pelo PDT, que tem como seu líder o deputado federal Paulinho (PDT/SP), tendo forte influência no ministério do Trabalho. O mesmo deve ser dito da CUT, cuja relação com o PT dispensa digressão. Assim também poderá ser dito de outras centrais menos representativas, todas com algum tipo de relação com partidos políticos de esquerda, como PCdoB, PSTU, PSOL, etc.

No caso da chegada do PT/AL à secretaria municipal de Educação, deve-se ter em mente que foram cogitados para assumir a pasta a vice-presidente da CUT, Lenilda Lima, candidata à governadora em 2006 e à vereadora em 2008, sempre pelo PT. Lenilda é uma pessoa competente para assumir mandatos eletivos, tendo habilitação necessária para ter assumido o cargo de secretária. Tive com ela - e tenho, ainda - a melhor relação pessoal, construída nos inúmeros embates nas negociações salariais entre servidores públicos e o governo do Estado, quando eu exercia o cargo de secretário da Gestão Pública. O mesmo posso dizer do Izac Jacson, candidato a vereador pelo PT em 2008, cuja capacidade de liderar um processo grevista e reivindicatório já foi sobejamente demonstrada.

Espero que o papel da CUT possa continuar a ser desempenhado em relação ao município de Maceió com a mesma garra, dedicação e espírito de luta com que se faz em relação ao governo do Estado. Afinal, greves e piquetes devem ser feitos com a mesma lógica e postura independentemente do partido governista ou do alinhamento partidário. Assim, os trabalhadores serão beneficiados e não ficarão sem representação na hora de negociar e buscar as soluções para os seus problemas.

Um abraço ao Izac e sucesso!

sábado, 27 de junho de 2009

Sorria, Jakcson

A semana chegou ao seu fim com o impacto da morte de Michael Jackson. Confesso a minha perplexidade diante da complexa história de vida desse mito da música pop, o homem que virou um ícone, cujo rosto transformou-se em uma máscara escondendo as suas angústias, medos, dores, sofrimentos... É impossível não olhar hoje para os seus vários rostos e não imaginar os imensos labirintos da sua alma, um homem cujas multidões estavam aos seus pés, mas que tinha uma alma ferida, alquebrada, perdida.

Como não sentir pena da sua solidão? Em suas grandes casas, palácios enormes, corria sozinho de um quarto a outro para brincar em seus inúmeros jogos eletrônicos, fliperamas, em que se entretia de si mesmo. As suas compras de milhões, como criança em loja de brinquedos, sempre nas madrugadas, quando ninguém lhe podia fustigar e ele podia realizar o seu espírito infantil.

Michael viveu na solidão. O sucesso, as pessoas, o mundo construído sobre a sua retumbante carreira, não eram capazes de saciar a sua fome de infinito, fome que não é dele, mas de todos os seres humanos. Nele, a fome era tão grande que lhe fez buscar a eterna juventude, a transfiguração do corpo, a reconstrução de alguém que ele rejeitava: ele próprio. Como conviver com alguém em que buscamos apagar os traços, reformar a própria existência? Como ser feliz se há um litígio consigo mesmo?

A semana termina para mim com o mesmo sentimento que tive com a morte de Ayrton Senna: a certeza que morreu alguém gigante, que tinha muito ainda por fazer, mas que a sua história, embora terminada precocemente, iria muito além da vida vivida. Michael Jackson fica. As suas músicas, as suas contradições, as suas múltiplas faces, a sua dança inigualável, a sua voz de eterna criança... Michael Jackson deixa a marca do conflito existencial, da perda de sentido, da busca conflituosa de si mesmo.

E fica aqui a minha homenagem ao rei do pop, ao mito, àquele que fez a muitos dançar e tentar aprender os seus incríveis passos, andando para trás como se fosse um genial robô (eu bem que tentei no passado, mas me faltou talento e arte para dar aqueles passos que todos tentavam nos altos anos 80, início dos anos 90).

Órgãos de controle e burocracia

No Brasil, a fiscalização aos gestores públicos tem crescido muito, mediante uma cobrança crescente da sociedade sobre os órgãos de controle. A União, no governo Lula, deu mais força à Controladoria Geral da União (CGU), que também passou a ser mais um e temido fiscal da reta aplicação das verbas federais. Porém, mesmo com esse excesso de fiscalização, com muitas normas sobre gastos públicos e prestações de contas, o certo é que, sem melhor estudo empírico, nunca antes neste país houve um sentimento tão grande de que a corrupção é uma prática corriqueira na administração pública brasileira.

Quando agora se sabe que o próprio Senado possui uma pretora de atos administrativos secretos, tem-se a exata dimensão do que se pode fazer, mesmo na alta administração pública, para burlar a lei e manter o patrimonialismo no serviço público.

O presidente Lula, nada obstante, critica os órgãos fiscalizadores pela demora da execução das obras públicas. Todo o arsenal de fiscalização construído ao longo de anos, quando o PT estava na oposição e contribuiu decisivamente com as suas denúncias para o início da mudança (aparente) de hábitos, parece agora incomodar o próprio PT no governo (veja o que escrevi sobre os dois PT's aqui). O Brasil não estaria andando em razão da sua burocracia e de uma superestrutura governamental voltada apenas para atrapalhar com a sua excessiva fiscalização. Na Folha de hoje, por Pedro Dias Leite (aqui):

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a fiscalização sobre as obras e ações do governo no Brasil, por considerá-la excessiva, e afirmou que “esse país foi construído para não funcionar”.
No que ele próprio classificou de “desabafo”, o presidente afirmou que “a máquina de fiscalização é muito mais eficiente que a máquina de execução”: “É só ver quanto é que ganha um engenheiro do Dnit para fazer uma estrada e quanto é que ganha um auditor do Tribunal de Contas para fiscalizar a estrada que o engenheiro vai fazer”, disse ele.
A remuneração inicial de um auditor do TCU é de cerca de R$ 12.000. O salário inicial de um engenheiro do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) é de R$ 4.270.
O discurso faz parte de uma campanha do governo nos bastidores para redefinir a forma de atuação do Tribunal de Contas da União, tido como principal agente de fiscalização do Executivo. No ano passado, o tribunal fez uso de 124 medidas cautelares, por meio das quais suspende licitações e bloqueia repasses para obras com irregularidades graves. Por meio delas, o órgão calcula que evitou prejuízo de R$ 1,7 bilhão.
Lula culpou “a teoria do Estado mínimo, de que era preciso privatizar tudo, de que a Petrobras e a Vale do Rio Doce não valiam nada” pelo “desmonte” do Estado.
A fala presidencial tem um contexto relevante: as obras do PAC estão empacadas. Em parte, por falhas nos processos de licitação ou nas execuções das obras, com a verificação pelo TCU de sobrepreço ilegal. Para Lula, em sua lógica de avançar os cronogramas das obras, a culpa é da fiscalização, cuja função seria apenas burocratizar e atrapalhar o Poder Executivo. Haveria duas categorias de servidores públicos: os que fazem e ganham mal, e os que não fazem, atrapalham e ganham muito bem. Aqueles são os do Poder Executivo; esses, dos órgãos de fiscalização.

Se bem observarmos, porém, veremos que a atual postura do TCU decorre dos constantes questionamentos sobre a sua própria razão de existir: para que serve um órgão responsável pela fiscalização que nada fiscaliza, que apenas trata dos graves casos de corrupção quando eles ganham proporções midiáticas? Cumprir a sua função passou a ser uma necessidade fundamental dos órgãos de fiscalização, sempre mal vistos e mal avaliados pela opinião pública como órgãos priveligiados e sem papel sério a cumprir.

A crítica do presidente Lula é a crítica de quem está no governo. É legítima, portanto. Mas é bom lembrar que o PT da oposição não dispensa o denuncismo e a crítica aos órgãos de controle pela sua leniência com os seus adversários no poder. Seja como for, eis a lição final do nosso presidente da República sobre o denuncismo:
"Não critico a imprensa por conta do Senado. É pelo denuncismo desvairado que às vezes não tem retorno. Há uma prevalência da desgraça sobre as coisas boas. (...) A nação precisa de boas notícias, de autoestima para poder vencer esse embate com a crise internacional", disse.
Aquela prática de um certo partido agora é severamente criticada. O tempo (ou o poder) parace ser mesmo o senhor da razão...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dia dos namorados, traição e filhos

Ontem eu assisti a um filme leve e divertido: "Eu odeio o dia dos namorados" (I Hate Valentine's Day), com John Corbett e Nia Vardalos nos papeis principais. Genevive (Vardalos) é uma mulher que tinha uma floricultura e, por isso, adorava flores e o dia dos namorados. Ela não gosta de relacionamentos amorosos sérios, razão pela qual decidiu que apenas poderia se encontrar com um mesmo parceiro no máximo cinco vezes. É quando conhece Greg e tenta viver com ele essa receita de relacionamentos rápidos, até se apaixonar por ele.


O filme é engraçado e leve, mas toca em um ponto importante: o papel da traição paterna na formação da personalidade de uma filha. Genevive não deseja manter relacionamentos sérios porque a traição do seu pai e o sofrimento da sua mãe a afetou muito, tornou-a descrente das pessoas, desconfiada de parceiros em relaciomentos afetivos. Em uma passagem do filme, ela se encontra com o seu pai, de quem mantinha-se propositadamente afastada, e reclama da infidelidade que o levou a separar-se da sua mãe. O pai lhe responde: - "Mas o que você tem a ver com esse assunto, com a minha relação com a sua mãe?". E ela, firme: - "Tudo. Passei a ter medo do amor, das pessoas, por sua causa".

Conheci uma adolescente apaixonada pelo seu pai. Ele era o seu ídolo, o seu modelo de homem, a pessoa com quem ela mais se identificava. Até que ele passou a ter relacionamentos extraconjugais. Ao ver o sofrimento da mãe, ao sentir os novos caminhos trilhados pelo seu pai, ela passou a rejeitá-lo, a buscar no pai do seu namorado a figura paterna perdida. Essa quebra de paradigma afetivo foi dolorosa demais para ela, que nunca se recuperou, passando a ter durante os anos uma relação fria e distante do pai.

Num mundo complexo e de várias possibilidades afetivas, há inúmeras oportunidades para o enfraquecimento das relações familiares. E o filme, com a sua simplicidade, me fez pensar na minha filha, no papel que desempenho para ela, hoje e sempre. Romper o seu ninho, o lugar que a faz ser segura, feriria profundamente a sua alma, a sua personalidade, os seus sonhos, as suas possibilidades... Quando colocamos uma pessoa no mundo, somos responsáveis por ela e pela sua felicidade, ao menos pelas condições de possibilidade de uma vida emocionalmente segura.

E aí me vem à mente o sentido da família, o papel que ela desempenha e que vem sendo tão esquecido, desidratado nos dias de hoje. Pai e mãe são essenciais, pólos fundamentais da construção de pessoas equilibradas e felizes. É possível que a vida em comum se torne impossível, por tantas e tantas razões justificáveis, mas em caso último, se houver o fracasso do lar, que não haja o integral fracasso da família, que o casal tente se entender em razão dos filhos, mesmo quando a relação entre ambos se torna impossível. Construir pontes por sobre o precipício da distância recíproca...

Em pensar que de um filme cuja única finalidade era a diversão deu para se tirar algumas lições interessantes.

A morte do rei do pop

A morte de Michael Jackson deixa a todos perplexos. Ninguém vendeu tantos discos quanto ele; ninguém fez tanto sucesso como ele, em seu impressionante videoclip "thriller", que antecipou um estilo de exposição das músicas, revolucionando o mercado.

Michael Jackson morreu como uma incógnita, uma pessoa de alma fraturada pela tirania do pai, a fama, a rejeição à sua própria imagem: un negro que buscou ser branco não apenas na cor, mas nos traços afilados, que foram sendo compostos em sucessivas plásticas, que lhe mudaram as feições por inteiro: nariz, queixo, boca, cabelos... Tudo nele era uma negação de si próprio, da criança nascida na pobreza no Estado de Indiana (EUA), que alcançou cedo o sucesso, mesmo sob a tirania do pai e a perda precoce da infância. Negro, branqueou a pele; adulto, fez-se criança e andava com elas (sendo inclusive acusado de pedofilia por algumas vezes). Como certa vez teria revelado o mágico Uri Geller, amigo de Jackson, sobre as razões para as sucessivas cirurgias e tratamento de embranquecimento de pele que deformaram o astro: - "Eu não queria parecer com o meu pai!".

Um homem bizarro, frágil, perdido em seu sucesso e em um estilo de vida desestruturado. A sua genialidade musical, a sua dança inconfundível, a sua voz melodiosa, os sucessos cantados por tantos, não foram suficientes para lhe conservar a sanidade. Muito da sua história é farsesca: casou-se com a filha de Elvis Presley em uma união absolutamente improvável, justamente quando já sobre si pesava a acusação de prática de atos impróprios com crianças que frequentavam a sua Nerverland, senha para o seu eterno complexo de Peter Pan.

Jackson morreu deixando um legado: as suas músicas continuarão tocando e fazendo sucesso, a sua imagem construída à lâmina não sumirá do imaginário das pessoas, os seus clips continuarão sendo o que sempre foram: uma mudança de costumes e do modo de se ver a música como negócio. Mas deixa também a marca de um homem em litígio com ele mesmo e com a sua história, tentando fugir das suas origens. Uma pessoa ferida, esmagada pelo sucesso precoce, perdida em um mundo irreal construído pelo dinheiro e pelo poder.

Diante da sua história e da sua morte, vem a pergunta em minha mente, idêntica àquela feita pelo discípulo: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!".

Deixo aqui uma homenagem ao Rei do Pop, que morreu como o Rei do Rock: engolido pela dor, pela solidão e pelos medicamentos...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Kenny e Sheena

Uma das músicas que mais gosto, cantada por uma dupla de peso: Kenny Rogers e Sheena Easton. Kenny Rogers tem em sua discografia músicas lindas, que fizeram sucesso no Brasil. Algumas delas, de imenso valor, são pouco ouvidas por essas bandas. Sheena Easton é dona de uma voz doce e forte, tendo também lindas canções, uma delas gravada com Fábio Jr.

Deixo aqui para ser ouvida:

Senado, coronelismo e República

O Senado Federal vive mais um período conturbado. Não falarei sobre atos administrativos secretos, aquele disparate criado para burlar o ordenamento jurídico, mas sobre uma outra questão pouco versada: a instituição da presidência da República.

Há países, como os Estados Unidos, em que o presidente da República apenas pode candidatar-se a uma reeleição e, posteriormente ao exercício do mandato, deve retirar-se da política: em razão das suas altas funções, a candidatura a um outro posto menor seria expor o alto mandato exercido. A pessoa do presidente continua sendo tratada com honras e cuidados mesmo depois de deixar o exercício do mandato. Ao preservar a pessoa, preserva-se a instituição!

No parlamentarismo, há países que criaram a figura do senador não-eleito, aquela pessoa que granjeou o respeito da sociedade e que, independentemente da sua ideologia, teria assento no parlamento para constribuir com a sua experiência e com a sua história de vida. Poder-se-ia ter, entre esses senadores honorários, ex-presidentes da República, por exemplo, que teriam uma função política diversa daquela exercida pelo Senador eleito: a sua missão seria servir como esteio, como um elemento moderado e moderador no seio da República.

No Brasil, o presidente da República, após o exercício do mandato, pode se candidatar novamente a qualquer cargo, muitas vezes pondo em risco a instituição da Presidência da República. Itamar Franco, após ser presidente, candidatou-se ao governo de Minas Gerais e patrocinou cenas bizarras, como o calote da dívida externa mineira e o cerco ao palácio do Governo com as forças militares estaduais para se proteger de uma intervenção federal. O gesto era político, apenas, com uma repercussão internacional negativa.

José Sarney, presidente da República por cinco anos, ungido pela morte de Tancredo Neves, deixou a presidência, mas não largou o poder. Candidato pelo Maranhão, usou o seu prestígio presidencial para candidatar-se ao Senado pelo então novo Estado do Amapá, abrindo uma vaga em seu Estado natal para as composições políticas da sua família. Exerceu a presidência do Senado na era Fernando Henrique, voltando a exercê-la novamente na era Lula. Expôs-se a toda a sorte de articulações políticas, expondo a sua biografia, o seu nome e a instituição da Presidência da República em um escândalo que mais uma vez deixa à mostra as vísceras do Câmara Alta.

Mordomo da filha, segurança do museu da família em São Luís, neto nomeado para não trabalhar, neto beneficiário da gestão de empréstimos consignados do Senado, e tantas outras denúncias que mostram a visão patrimonialista e plutocrática daquele que foi presidente da República e é hoje o czar do Maranhão. Sarney exerce a sua presidência da Casa e o seu mandato de Senador com uma postura pouco republicana, manchando a sua biografia no ocaso da vida, quando as linhas finais da sua longa história pública já poderiam estar escritas a fio de ouro. Octogenário, viveu e conviveu com o poder com tamanha intimidade que dele não pode se afastar, nem mesmo na etapa da vida em que mais se olha pelo retrovisor do que para a estrada ainda a percorrer.

A crise do Senado não é uma crise apenas daquela instituição, já tão submersa em tantas crises. A crise do Senado é a crise da instituição presidencial, é a crise da República e, no plano pessoal, é a crise da biografia do último dos coronéis nordestinos. Afinal, letrado ou não, ao fim e ao cabo é isso que José Sarney quis ser: um coronel à moda antiga, que faz do poder um complemento do seu patrimônio pessoal.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O PT no governo e o PT na oposição

O PT sempre empunhou as bandeiras consideradas progressistas, sobretudo quando está na oposição. Em seus discursos vergados constamente contra algum governo a que se contraponha, o PT prega a ética na política - sempre com denúncias sensacionalistas, fundadas ou não, para desestabilizar o governo de plantão -, defende indefectivelmente as teses de sindicatos e trabalhadores - ainda que não seja elas factíveis ou razoáveis -, e organiza manifestações públicas contra atos governamentais, pelos mais variados motivos, em defesa daquilo que eles chamam "minorias".

O PT no governo é outro PT. Excessivamente condescendente com os atos que condena quando é oposição, presta-se a defender vigorosamente o que antes atacava, como se os fatos tivessem a sua significação alterada pelo campo da sua visão: vistos com as lentes do poder, a paisagem muda e ganha novas cores... E o PT é assim em qualquer quadrante do país.

Em Alagoas, o partido era oposição ao prefeito de Maceió. Cortejado, depois de muito resistir, terminou fazendo uma aliança política, em que recebeu um bom naco do poder: a secretaria municipal de educação. Assumida a pasta pelo presidente estadual do PT, viu-se logo diante de um problema: a OSCIP preferida do prefeito, a Tocqueville, mesmo depois de sucessivos termos de parcerias, não paga os seus funcionários que prestam serviços à prefeitura. Pois petista Ricardo Valença deu entrevista coletiva para tratar da Oscip, afirmando que os dois meses de salários atrasados devem ser cobrados da Oscip. E ponto final. Mas e o interesse legítimo dos trabalhadores, sempre tão defendido pela CUT, central sindical dominada pelo PT? Virem-se!

Os petista saíram em defesa da Oscip, da administração municipal e deixaram de lado aquelas bandeiras que lhe são tão caras quando estão na oposção. No governo, os interesses que interessam são os estratégicos para a conservação do poder e das alianças. O resto é apenas um detalhe no vasto campo do discurso oco...

Nuvens e asfalto

Eu já postei essa música antes. Vou postá-la novamente. É que hoje eu viajei para longe, lá para o sertão, vendo o verde vicejando. Algumas gotas de chuva na estrada, as nuvens tingindo o céu de uma cor escura, como se desejassem avisar que o brilho do sol deveria ficar resguardado, porque o dia haveria de ser mesmo gris.

Enquanto o carro engolia a pista, a música ia envolvendo o ouvido, fazendo-me viajar também, com sabores acres de um dia ruim, cansativo, cheio de ausências sentidas. E a saudade vai conosco, como companheira ingrata da jornada, falando alto e sem nos deixar sós... mesmo estando.

dois a um - sinto falta desse amor

Dom de Deus

Lá entrou o homem de mediana estatura, com os cabelos brancos, vestido de púrpura e um sorriso aberto, bonito, olhos brilhando. As pessoas começaram a aplaudi-lo, formando-se um clima de emoção. O ambiente vasto ficou eletrizado: palmas, acenos recíprocos, sorrisos e lágrimas... O monsenhor Henrique ingressou no episcopado com o calor do afeto das suas ovelhas. Aliás, o momento da sua fala, que o fez ir às lágrimas, foi justamente esse: quando falou da sua comunidade da Igreja do Livramento, daqueles que rezavam com ele, que buscavam o perdão dos pecados e os conselhos do homem de Deus.
Dom Henrique! Olho para o meu irmão vendo as suas limitações, que o fazem enorme. Humano demais, sabe-se frágil, pequeno, dependente da misericórdia de Deus. Que se olha assim, quem enxerga a trave no seu olho, pode fitar os outros como irmãos, como dignos de perdão e do amor cristão. A sua fé é autêntica e se faz vida por isso: ele sempre soube reconhecer que o pecado é um fato histórico, adâmico, constitutivo do mundo caído. O pecado invadiu a criação, fraturou a nossa relação com Deus e penetrou na natureza, razão pela qual a salvação é cósmica: o Filho era necessário, fundamental, na sua encarnação. Como na antiga oração, pela encarnação Ele assumiu a nossa humanidade frágil, os nossos pecados, dando-nos a graça da sua divindade, do resgate pago a elevado preço.
Dom Henrique viveu na carne a sua fé. Não fez um caminho retilíneo para o episcopado, porque não fez carreira. Foi escolhido pelos seus, sem que fizesse política, sem que abdicasse da sua fé, sem que transigisse com qualquer posição contrária à fé e à Igreja. E foi ferido, incompreendido por alguns, mas inspirou a muitos: quando poucos usavam clégima, patrulhados pelos esquerdopatas católicos, passou ele a fazer uso diário, assumindo-se com o orgulho padre; quando a batina saiu de moda, ele passou a vergá-la todos os dias, como símbolo da fé e da sacralidade do sacramento da ordem; quando muitos queriam fazer da liturgia uma festança nas missas, com a adoção de ritos afros ou de procedimentos inspirados pela teologia da libertação, ele passou a viver a missa como um rito sacro, com uma liturgia cuidadosa, animada por incensos, cantos antigos e espírito de oração. Foi um revolucionário! Uma contradição enorme: a sua revolução esteve em conservar a tradição, em olhar para os Santos Padres, em usar os tesouros da fé católica sem medo, porque sabedor do que foi confiado à Igreja pelo Espírito Santo.
Vi aquele homezinho gigante entrando no ginásio e chorei. Chorei como irmão, chorei como cristão, chorei com orgulho e alegria. E lembrei-me da sua volta a Maceió, quando deixou a vida monástica. Poderia ter vindo revoltado, sentindo-se abandonado por Deus. Poderia ter visto a sua vida como um engano, como uma mentira... Poderia ter desistido de amá-Lo, fazer como muitos fazem: renegá-Lo e culpá-Lo pelos seus fracassos. Mas não. Veio com vontade de viver e vencer, de não ser um peso para os seus pais. E o monge foi trabalhar no comércio, vender relógios e jóias na L'orgil, ensinar história e religião em colégios religiosos, buscando ir em frente.
E um dia, quando todos saíram de casa, ele ficou sozinho rezando na sala, com ícones sobre o centro de vidro, a bíblia aberta, os seus livros de oração sendo mais uma vez rezados... E quando voltamos todos, estava ele novamente sendo chamado: - "Vou ser padre!". E começou o caminho novamente, com humildade e fé madura. Estudou em Roma, em seguida, e voltou para os seus, ordenado padre, com a missão de substituir o Cônego Hélio Lessa, culto reitor da Igreja do Livramento.
É esse homem que foi sagrado Bispo. Poderia ter ficado mutilado quando deixou a vida monástica, mas viveu a fé com os medos e a perplexidade de quem se lança no amor de Cristo, porém com a entrega a Ele nas longas noites escuras, repletas de esmagadora solidão. E Dom Henrique, dom de Deus para os seus, nos ensina com o seu olhar, com o seu sorriso, que a fé nos amadurece para sermos crianças brincando nos jardins do Pai.
Para ele, quando vierem as noites traiçoeiras em seu episcopado, lembro São João da Cruz, um dos seus santos prediletos:

Em uma noite escura
De amor em vivas ânsias inflamada
Oh! Ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
´stando já minha casa sossegada.

Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! Ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
´stando já minha casa sossegada.

Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa alguma,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.

Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em lugar onde ninguém aparecia.

Oh! noite, que me guiaste,
Oh! noite, amável mais do que a alvorada
Oh! noite, que juntaste
Amado com amada,
Amada no amado transformada!

Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.

Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.

O Ministério Público e a lei da mordaça

Vivemos sob o denuncismo desbragado, em que a honra e o direito de defesa são simplesmente esmagados por uma sanha acusatória sem limites. Aqui em Alagoas, só para se dar um exemplo corriqueiro no resto do país, o Ministério Público ingressa com uma ação contra determinada pessoa, faz uma matéria jornalística com a sua assessoria de imprensa e a encaminha para todos os veículos de comunicação social, que a divulgam e emprestam às acusações uma natureza de coisa julgada material. O acusado está socialmente condenado.
Ainda essa semana, só para exemplificar, foi publicada nos portais de internet noticiosos, nos jornais de papel e em blogs, uma matéria produzida pela assessoria do Ministério Público Federal, informando que a ex-prefeita de Maceió, Kátia Born, estava sendo processado por improbidade administrativa pelo uso ilícito de recursos do SUS em publicidade de promoção pessoal (veja a matéria MPF acusa Born). Ora, a matéria - com a dimensão dada na acusação - esconde a principal informação, apenas posta em uma breve oração:
"Ao julgar o caso, a 1.ª Vara da Justiça Federal em Alagoas entendeu que não seria de competência da Justiça Federal apreciar e julgar questão referente ao mau uso de verba estadual, onde não existe interesse federal. Além disso, afirmou que os informes pagos com recursos federais não tinham o objetivo de realizar a promoção pessoal da então secretária, já que destacavam notícia de interesse geral. O MPF, então, recorreu ao TRF-5." (grifamos)
Se a ex-prefeita havia sido absolvida pela primeira instância, porque o estardalhaço na divulgação de um recurso aviado contra a sentença? Respondo: para enfatizar a acusação, a condenação social sobre a ré, desequilibrando a relação entre as partes no processo e ferindo a honra do cidadão, como se lhe falecesse a presunção de inocência, nesse caso de Kátia Born com o agravante de ter ela em seu favor uma sentença favorável.
O Ministério Público quando acusa, exercendo a persecução penal ou não, é parte, ingressa numa relação processual com o ônus de provar o que alega. Todavia, em uma relação promíscua com a mídia, a acusação, pelo simples fato de ser feita, ganha já foros de verdade absoluta, deixando o acusado sempre em uma posição de fragilidade diante do Leviatã estatal. As garantias individuais cessam ou são solapadas à laia de se defender o interesse público, como se ele fosse superior ao interesse privado simplesmente. Não é. Já faz algum tempo que o chamado princípio da supremacia do interesse público sobre o particular vem sendo questionado e posto em seu devido lugar: como algo relativo, a merecer ponderações, uma vez que levado à aplicação cogente transformaria o Estado em autoritário e os cidadãos em súditos, submissos ao império sem peias (sobre esse tema, há uma boa obra coletiva que deveria ser lida: Interesses públicos versus interesses privados: desconstruindo o princípio da supremacia do interesse público, 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007).
Ora, quando o órgão estatal responsável pela fiscalização da observância do ordenamento jurídico e pela acusação contra aqueles que, em tese, agiram contra ele, passa a usar a mídia como arma para atacar supostos inculpados, estamos diante de um perigoso expediente, em que a parte forte da relação, o órgão estatal, se põe em posição de aniquilar a parte fraca, o cidadão, que exercerá o seu direito de defesa na intimidade do processo judicial, quando a acusação é feita desabridamente através da mídia. O Estado se coloca, assim, em uma posição não apenas superior perante o cidadão, mas nega-lhe o direito fundamental a ampla defesa, que pressupõe a paridade das armas, além de lhe sonegar a presunção de inocência garantida constitucionalmente. É dizer, os direitos fundamentais passam a ser pilhados pelo Ministério Público a pretexto de defender a sociedade.
Há de existir uma legislação que limite os excessos da atuação de membros do Ministério Público, como o uso recorrente da mídia como instrumento de atuação e persuasão. A acusação informal, através dos meios de comunicação social, é uma clara afronta aos direitos fundamentais do acusado, antecipadamente já exposto ao reproche social. E não se trata de noticiar, apenas, como se viu na matéria sobre a ex-prefeita Kátia Born: trata-se de transformar a peça de acusação em matéria jornalística com ares de objetividade e verdade, sem se dar o direito, no mesmo espaço, a que fossem expostas as linhas mestras da defesa. Então, por mais que haja uma sentença, como no caso, que inocente o acusado, pouco importa: no dia seguinte sai uma nova matéria repercutindo as mesmas acusações e fazendo pouco caso da decisão judicial. Ora, isso está certo?
Por essa razão, entendo que há de existir uma legislação rígida para impedir esses abusos. Os seus críticos chamam de "lei da mordaça", mas na verdade seria a lei do "silêncio obsequioso" ou "lei da responsabilidade do fiscal", para parodiar a lei de responsabilidade fiscal. Essa coisa de ficar usando a mídia para detonar desafetos ou acusados em geral já se mostrou uma aberração, em casos como daquele famoso procurador da República, Luiz Francisco, que usou o cargo para aniquilar a honra do então secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, na era FHC, para sumir no governo do PT, sem dar o ar da graça nem mesmo no fatídico caso do mensalão. (Diga-se de passagem que o procurador Luiz Francisco foi punido pelo CNMP com uma suspensão de 45 dias (aqui). Diante da sua campanha difamatória, foi muito pouco).
Até lá, porém, teremos que assistir impotentes essa verdadeira patrulha midiática de membros do Ministério Público, que passam a virar celebridades em cima da vida e da honra alheias.

A Bela e a Fera

Ontem fomos assistir "A Bela e a Fera" no teatro. Não há como não ficar encantado com a história, o cuidado da produção, a excelente interpretação da atriz que fez a Bela (Andressa Andreatto), do ator que fez as vezes de Gastón (Thiago Lemos) e de todos os outros, cuja atuação levaram as crianças para aquele mundo fascinante dos contos de fada.



As músicas remetem ao filme da Disney, com a grande vantagem de que os personagens estão ali encarnados, vivos, movimentando a imaginação das crianças, que participaram de momentos mágicos, com a abertura em imagens 3D em uma tela gigante armada no palco, gelo seco, músicas em português, efeitos especiais e iluminação caprichada, contando o porquê do princípe ter se transformado em uma Fera (interpretada por Ivan Parente). Depois, saem as imagens e entram aquelas figuras mágicas em maquiagens e adereços muito bem feitos: Lumina, o castiçal (Marcio Yacoff); Tic-Toc, o relógio de parede (Jean D'andrade), Tetê, a chaleira (Adriana Fonseca), Chiquinho, a chícara, o tapete mágico, a armadura, os lobos...

Foi uma tarde mágica para as crianças. E transportou os adultos para o seu mundo encantado, cheio de fadas, bruxas, lobos e sonhos. Uma tarde especial, enfim. Abaixo, fotos que tirei (perdão, era proibido, mas não podia sair sem trazer essa recordação para a minha criança).