sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dia dos namorados, traição e filhos

Ontem eu assisti a um filme leve e divertido: "Eu odeio o dia dos namorados" (I Hate Valentine's Day), com John Corbett e Nia Vardalos nos papeis principais. Genevive (Vardalos) é uma mulher que tinha uma floricultura e, por isso, adorava flores e o dia dos namorados. Ela não gosta de relacionamentos amorosos sérios, razão pela qual decidiu que apenas poderia se encontrar com um mesmo parceiro no máximo cinco vezes. É quando conhece Greg e tenta viver com ele essa receita de relacionamentos rápidos, até se apaixonar por ele.


O filme é engraçado e leve, mas toca em um ponto importante: o papel da traição paterna na formação da personalidade de uma filha. Genevive não deseja manter relacionamentos sérios porque a traição do seu pai e o sofrimento da sua mãe a afetou muito, tornou-a descrente das pessoas, desconfiada de parceiros em relaciomentos afetivos. Em uma passagem do filme, ela se encontra com o seu pai, de quem mantinha-se propositadamente afastada, e reclama da infidelidade que o levou a separar-se da sua mãe. O pai lhe responde: - "Mas o que você tem a ver com esse assunto, com a minha relação com a sua mãe?". E ela, firme: - "Tudo. Passei a ter medo do amor, das pessoas, por sua causa".

Conheci uma adolescente apaixonada pelo seu pai. Ele era o seu ídolo, o seu modelo de homem, a pessoa com quem ela mais se identificava. Até que ele passou a ter relacionamentos extraconjugais. Ao ver o sofrimento da mãe, ao sentir os novos caminhos trilhados pelo seu pai, ela passou a rejeitá-lo, a buscar no pai do seu namorado a figura paterna perdida. Essa quebra de paradigma afetivo foi dolorosa demais para ela, que nunca se recuperou, passando a ter durante os anos uma relação fria e distante do pai.

Num mundo complexo e de várias possibilidades afetivas, há inúmeras oportunidades para o enfraquecimento das relações familiares. E o filme, com a sua simplicidade, me fez pensar na minha filha, no papel que desempenho para ela, hoje e sempre. Romper o seu ninho, o lugar que a faz ser segura, feriria profundamente a sua alma, a sua personalidade, os seus sonhos, as suas possibilidades... Quando colocamos uma pessoa no mundo, somos responsáveis por ela e pela sua felicidade, ao menos pelas condições de possibilidade de uma vida emocionalmente segura.

E aí me vem à mente o sentido da família, o papel que ela desempenha e que vem sendo tão esquecido, desidratado nos dias de hoje. Pai e mãe são essenciais, pólos fundamentais da construção de pessoas equilibradas e felizes. É possível que a vida em comum se torne impossível, por tantas e tantas razões justificáveis, mas em caso último, se houver o fracasso do lar, que não haja o integral fracasso da família, que o casal tente se entender em razão dos filhos, mesmo quando a relação entre ambos se torna impossível. Construir pontes por sobre o precipício da distância recíproca...

Em pensar que de um filme cuja única finalidade era a diversão deu para se tirar algumas lições interessantes.

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