tag:blogger.com,1999:blog-53139500640464030762024-03-05T18:54:21.158-03:00DIALOGANDOUnknownnoreply@blogger.comBlogger304125tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-56347122635808446032018-06-21T22:46:00.002-03:002018-06-21T22:46:28.339-03:00BATALHA DE CORPOS NO AMORDá-me o teu gosto, teu cheiro, num momento suspenso.<br />
Dá-me um abraço silencioso, em que só haja o pulsar do coração.<br />
Nada mais exista nesse agora. Só o sentir de almas e corpos.<br />
E mãos que se deixam viajar sem rumo nem pejo.<br />
Dá-me teu olhar. Que ele, em chamas, me esquente o sangue.<br />
Seja sem culpas, sem medos, sem religião nem credos.<br />
Olhar de quem tem fé na revelação daquele instante profundo.<br />
Dá-me tua boca. Faz-me sentir a fome em teu beijo,<br />
O apetite infame do desejo rasgando cada fibra de teu corpo.<br />
Um beijo descortinando o querer sem castidade e sem trégua,<br />
Em línguas devassas e imprudentes, que apontam a perdição do que virá.<br />
Deixa que teus seios se avolumem num abraço grave e constante;<br />
Faze-me senti-los tomados em minha mão sem escrúpulos.<br />
E neste instante delicado, que sejam compreensíveis os botões da tua blusa,<br />
Soldados sem forças para impedir a tomada das torres e cidadela.<br />
E que fartos ante meus olhos, se permitam tragar em demasia,<br />
Sorvidos como fossem morangos maduros saciando um famélico.<br />
E na circunstância indômita, florete já na mão adversária, tudo se permita.<br />
Dá-me, nessa guerra intensa, uma derrota justa, rosto perdido em teus pomares,<br />
Onde sinta o cheiro e gosto de fruta orvalhada por rios que molham tuas planícies.<br />
E me faça morrer de queimadura de primeiro grau, ao invadir teus territórios,<br />
Sem piedadade, em luta corporal insana, desnuda, inopinada.<br />
Seja-me permitida uma pugna até as últimas energias, em que percorra<br />
Todas as tuas instâncias, sem tréguas nem respeito, em idas e vindas profundas.<br />
E assim sendo, que não haja território não percorrido, nem batalha que não tenha sido travada.<br />
Que tua vitória seja absoluta, subjugando meu corpo desfalecido entre tuas pernas.<br />
E num momento de misericórdia, que teu coração de mulher acalante o derrotado,<br />
Tomando-me em teu peito, num último gesto de vitória e piedade.<br />
E assim, em tuas mãos, já dominado, faz-me teu escravo, como espólio de uma guerra consumada.<br />
Deixo-me teu, assim, inteiramente e para sempre, dominado por teus beijos.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-85656452651197138872017-05-28T18:22:00.002-03:002017-05-28T18:23:33.588-03:00Amor nos tempos do esquecimento<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Tudo passa. Somos passantes. como passam o vento, as folhas que se deixam levar, o andante que a tudo olha e nada parece ver. Passam o sorriso morrendo no canto da boca, o brilho do olhar desbocado, o medo de que passem os anos e a senectude chegue...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Tudo é tão efêmero. Como água escorrendo pelos dedos, vão-se os momentos do encantamento pela vida. Porque tudo urge; a urgência nos afoga no esquecimento do ontem vivido e sentido. Há um despedaçar da alma já fraturada e nem nos damos conta de que, afinal, emergenciamos a tudo como numa oura em que contemplamos a queda, o espatifar-se, o último frêmito.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">E o que nos resta sempre, ali, contumaz, como um faraute da vida agoniada: o amor! Sim, nos tempos do esquecimento, ele não olvida, não desapetece o alucinante palpitar da sístole e diástole, o suor das mãos, o dilatar das pupilas que não veem mas se impõem querer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">E lá está aquele rosto que não se pode ver, não se acariciou, deixando contemplar a boca não beijada, como imagens soltas de um sonho confuso, rabiscos da lembrança viva do que não se teve presente.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em mundo assim, tão apressado, o esquecimento é o modo de sobrevivência. E nesses tempos opacos, só o brilho do amor que nos habita é perene, atemporal, ubíquo. Basta entrever o ser amado, ali, quando o hoje se deixou acasalar com o ontem, que tudo para; até o esquecimento se deixa esquecer de si mesmo...</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-84917435345876924202017-05-28T18:19:00.004-03:002017-05-28T18:24:01.998-03:00A civilização da superficialidade<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A realidade é simbolicamente mediada. Tão fundamental é o sentido que construímos sobre o mundo que não raro se diz que o real é construído pela linguagem ou, como poeticamente dirá o último Heidegger, “a linguagem é a morada do ser” ou ainda “tudo o que pode ser compreendido é linguagem”. Essa concepção está à base do construtivismo reinante em nossos dias, a tal ponto que o real seria o que a linguagem diz que é, mesmo que negue o mundo lá fora: questões biológicas passam a ser superadas na definição da sexualidade pelos construtos sociais, dizem os ideólogos do gênero, só para citar o exemplo de uma questão cada vez mais presente nos debates sociais em que o uso da linguagem passa a ser meio para a reconstrução ideológica da natureza.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Se a linguagem já desafiava a filosofia, a tal ponto que o giro linguístico marcou a segunda metade do Século XX, o que dizer de uma época dominada pela comunicação instantânea, avassaladora, que nos acompanha em todos os lugares: televisão, internet, celulares... O jornalismo mesmo passou a ser produtor das notas dadas de imediato, quase que contemporaneamente aos acontecimentos. Os jornais, para sobreviverem, passaram a ser cada vez mais opinativos, porque as notícias de ontem não mais interessam aos leitores do dia seguinte; estão já saturadas de narrativas conhecidas e superadas...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em um mundo que é construído por notas, por tiras, por informações rápidas, tudo é superficial, tem uma dinâmica que não permite o enraizamento de nada. Se há um gravíssimo caso de estupro, logo alguém grita, no calor das informações aceleradas, que há uma “cultura do estupro”. A expressão vai sendo repetida sem que a maioria saiba ao certo do que estamos realmente falando, ficando a rede de comunicação sobre o tema de antemão conduzida por um ativismo comunicativo de grupos de pressão, embotando a compreensão da maioria, presa a opiniões, doxas, que logo serão abandonadas diante do próximo acontecimento midiático, embora o caldo ideológico permaneça ali, depositado no fundo do baú das informações, para ser engatilhado quando aquele ativismo novante se interesse em levantá-lo como escudo ou uso retórico de ataque.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Vamos criando cada vez mais a civilização da superficialidade; pior que líquida, ela é vazia, volátil, desumanizante. E nós, que buscamos ansiosamente por segurança, raízes, esteio, caímos dia a dia na era da depressão: a angústia consome a todos, a fuga de si mesmo passa a ser a saída para a sobrevivência, o engajamento a grupos fundamentalistas, uma solução ao sem-sentido. A civilização da superficialidade é aquela, a nossa, dos homens e mulheres fraturados, mutilados, sorriso no rosto e medo na alma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">E a linguagem dos tempos superficiais vai nos desinformando, nos domesticando em um mundo que passa a ser inescapável e no qual não nos sentimos nunca em casa. Somos sempre inquilinos de nossas próprias vidas, em que os valores são tão variáveis que quase não podem ser havidos como valores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Sim, o nosso tempo, a quadra em que vivemos, só nos convida ao conflito, ao medo, ao desespero. Não se buscam consensos, encontros, pontes. Cada vez mais nutrimos muros, fronteiras, guetos. E aí ou voltamos os olhos para as raízes em que construímos a nossa civilização ocidental ou a superficialidade do nosso tempo irá esmagando o que de melhor há em nós. Eis aí o grande desafio: conservar o que temos de melhor para nos abrir ao novo estruturado em solo firme e fértil.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-43471495434944861532017-05-28T18:18:00.001-03:002017-05-28T18:24:17.263-03:00O humanismo ateu de Leandro Karnal<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-size: large;">1. Sentido da vida, liberdade humana e solidão.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Leandro KARNAL é um historiador brasileiro que ganhou prestígio e destaque através da divulgação de vídeos com passagens das suas palestras que viralizaram nas redes sociais. E não sem razão. A sua postura cordata, a segurança e a finura expositivas, as citações de autores e textos clássicos ou cultos, o humor sem afetação e distante de qualquer vulgaridade, enfim, são atributos que deram a KARNAL uma crescente lista de admiradores e de pessoas interessadas em ouvi-lo e beber da sua rica fonte intelectual. Diria que ele tem um traço que muitas vezes tem faltado entre nossos pensadores: o asseio da linguagem e fineza de trato. Já de saída, portanto, uma lição para nós do modo de se portar em defesa das suas ideias, que devem se impor não por serem expostas com inflamação e olhos esbugalhados, mas por serem bem estribadas e cativarem os ouvintes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Com o seu sucesso legítimo, mais e mais interessados passaram a parar para ouvi-lo com atenção. Por isso mesmo, foi convidado para participar como entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, cujo vídeo pode ser assistido aqui, gerando comentários e textos críticos, favoráveis ou não, alguns desses últimas até duros (vide um exemplo aqui). Pois bem. Julguei interessante escrever um pouco sobre a entrevista de KARNAL, fazendo algumas ponderações despretensiosas, sem emulação alguma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Um primeiro aspecto importante que perpassa o discurso de KARNAL é o seu ateísmo declarado. Não apenas afirmou descrer na existência de uma entidade como também asseverou não ter mais nenhuma metafísica dentro de si. Quando chegar o momento da sua morte terá certeza que ali terá se encerrado tudo, absolutamente tudo. E exemplificou a sua falta de fé falando sobre o momento dramático da morte do seu pai, quando não sentiu necessidade de fazer uma oração, porque sabia que tudo havia terminado, ficando ele apenas na memória dos que o amavam, sabendo que ele cumpriu uma vida muito produtiva, muito boa...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Esperei, dada a complexidade do tema, que KARNAL desse alguns passos além. Porque o pensamento científico, qualquer que seja ele com pretensão de ser levado a sério, principia sempre com uma indagação: "por que isso é assim e não de outro modo?". Quando o homem está diante da morte, poderá não ter o interesse em saber para onde vai além do depósito do seu corpo no túmulo, mas por certo terá uma pergunta básica retrospectivamente: "qual o sentido da minha vida individual?"; "qual o sentido da vida humana?". O ateísmo é a resposta que de antemão nega a seriedade ou propriedade da pergunta sobre o sentido da existência. Na breve assertiva de KARNAL sobre a morte do pai há apenas um conformismo: a vida dele foi boa, foi produtiva. Certo; isso basta à sede que temos de eternidade? Porque todos temos, mesmo o mais cético e o mais ateu dos homens, uma sede imensa de autotranscendência, razão pela qual, inclusive, nos comunicamos, pensamos adiante, escrevemos livros, fazemos palestras: para que algo de nós sobreviva nos outros, na história, até mesmo para além da nossa morte...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Não há como negar a centralidade da pergunta sobre o sentido da vida. Como no-lo disse Viktor Emil Frankl (Teoria e terapia das neuroses: introdução à logoterapia e à análise existencial. Trad. Cláudia Abeling, São Paulo: É Realizações, 2016, p.16), "A autotranscendência marca o fato antropológico fundamental de que a existência humana sempre aponta para algo que não é ela própria - aponta para algo ou alguém, ou para um sentido que deve ser preenchido, ou para a existência de outro ser humano que encontra. Ou seja, o ser humano só se torna realmente ser humano e é totalmente ele mesmo onde ele se entrega na dedicação a uma tarefa, no serviço a uma causa ou no amor a outra pessoa, deixando de se enxergar e esquecendo-se de si". Por isso, impressiona que todas as citações eruditas feitas por KARNAL não se apresentem diante da explicação do evento dramático da morte do seu pai, ficando ele quase sem palavras para manifestar o seu absoluto conformismo de que, sim, ele, o seu pai, foi muito produtivo em vida e tudo se consumou, senão a sua lembrança na memória dos seus entes queridos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ora, o homem tem na morte o seu fim; mas qual o fim, a finalidade, da vida? KARNAL mostra não apenas o seu ceticismo conformista, mas também tragicamente fatalista: somos sozinhos, individual e absolutamente sozinhos. Só conseguimos compreender o outro vendo no seu "espelho de dores" as nossas próprias dores, compreendendo-o pelo que somos nós mesmos. "Somos sozinhos e morreremos sozinhos", diz-nos KARNAL, falando na televisão para inúmeras pessoas, buscando ser compreendido em seus pensamentos. Prega justamente a solidão que seríamos nós, existências ilhadas e irrelevantes:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> "Somos absolutamente irrelevantes diante do universo, de um tempo cósmico que nos torna absolutamente um átomo perdido em tudo isso; só que isso lhe dá a absoluta liberdade. Ou seja, isso que lhe torna uma pessoa, isso que lhe torna um ser humano, os seus atos comprometem toda a humanidade, como diz Sartre, e aí eu digo que, de fato, a solidão não quer dizer o isolamento, mas é a consciência de que a minha dor é a minha dor, e de fato ninguém é responsável pelo meu fracasso e ninguém é responsável pela minha felicidade".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ora, se os meus atos comprometem toda a humanidade (!), como teria dito Sartre, então haveria uma relação ineliminável entre mim e esta entidade metafísica chamada "humanidade". Aliás, relação essa que a tradição judaico-cristã chama de pecado original. KARNAL, ao afirmar que eliminou toda a metafísica, talvez não tenha se dado conta de que nenhum grande filósofo antimetafísico tenha de fato conseguido fazê-lo; basta pensar no positivismo analítico e no desastre da redução das proposições científicas às proposições protocolares, que outra coisa não poderia recomendar para a ciência senão que "O que não se pode falar, deve-se calar", conforme a proposição final do Tratactus logico-philosophicus. O que é a "humanidade" senão uma abstração, um conceito metafísico? Para o empirismo só poderia existir o homem individual concreto, ou o homem no meio de outros homens. Como o meu ato individual me compromete diante de toda a humanidade, de gente que nem conheço e nem se relaciona comigo? KARNAL ou declinou da sua tese antimetafísica ou fez poesia ou, o que mais me parece, não amadureceu a sua reflexão sobre a existência humana (outra questão metafísica...).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O que seria a "absoluta liberdade" de um ser irrelevante diante do universo? Em que medida essa liberdade absoluta - se é que ela existiria - nos tornaria "pessoa", "ser humano", quando somos socialmente vinculados a uma tradição simbólica, cultural, ética, que condiciona o nosso existir e diz da nossa própria identidade pessoal? Ora, se há algo nos falta como indivíduos situados em um mundo que nos condiciona é justamente uma liberdade absoluta. KARNAL fala, assim, algo incompreensível, contraditório e logicamente em litígio com as suas próprias premissas. Pareceu dizer algo profundo, mas sem muita perquirição damo-nos conta do seu vazio de conteúdo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A absoluta irrelevância que seríamos diante do universo, da própria história da civilização, não poderia fazer com que os nossos atos comprometessem toda a humanidade, ainda mais se levarmos em conta a proposição de KARNAL segundo a qual ninguém seria responsável pela felicidade ou fracasso de ninguém. Ou haveria aquele comprometimento do meu ato perante toda a humanidade ou a minha profunda solidão me faria antecipadamente irresponsável pelo destino de outras pessoas. Ou uma coisa ou outra: na mesma oração as proposições se chocam em sentido lógico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-size: large;">2. Contra a direita delirante e absurdamente estúpida</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Leandro KARNAL, na entrevista do programa Roda Viva, é crítico dos preconceitos. A tolerância seria uma virtude, desde que não seja com os que defenderiam ideias de direita ou ideias conservadoras. Diz KARNAL, quando perguntado sobre o projeto "Escola sem partido": "Escola sem partido é uma bobagem conservadora. Substituir uma ideologia por outra conservadora. Não existe escola sem ideologia. É uma crença fantasiosa de uma direita delirante e absurdamente estúpida de que a escola forme a cabeça das pessoas e que esses jovens saiam líderes sindicais". Aqui cessou o exercício da tolerância do entrevistado e se apresentou a verdade de uma frase sua anterior, no início da entrevista: "A bipolarização não pensa; a bipolarização adjetiva".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Não tratarei do tema da escola sem partido, que não merece ser abordado com o simplismo ou os ataques disparados por KARNAL. Prendo-me a um outro ponto: se é certo que não existe escola sem ideologia, parece-nos não menos certo que seja legítimo que os nossos filhos sejam educados em escolas que defendam valores mais próximos aos dos pais, inclusive ideológicos. Talvez o ataque aos conservadores - delirantes e estúpidos simplesmente por serem conservadores e não pensarem como KARNAL - decorra justamente do fato de que a direita passou a compreender que a razão da prevalência de valores e pensamentos de esquerda em nossa juventude adviria da ocupação intelectual que a esquerda havia feito nas escolas e universidades.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A "bobagem conservadora", como no-la denominou KARNAL, talvez tenha aparecido com mais força quando surgiram tentativas oficiais de impor a ideologia do gênero no ensino e o modo de pensar esquerdizante, substituindo o papel das famílias pela escola. No Brasil, o chamado Kit-gay foi a expressão mais eloquente dessa política oficialista, que despertou os conservadores sobre a sua verdadeira "crença fantasiosa" até então vigente: a de que a escola seria um campo neutro de ensino. O despertar dos conservadores sobre o aparelhamento ideológico das escolas brasileiras é que levou a essas reações fortes de pensadores de esquerda, surpreendidos com a resistência contrária ao projeto de planificação social da esquerda então no poder: a destruição dos valores religiosos, tradicionais, familiares, em nome de uma sociedade fundada no único valor absoluto: o politicamente correto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A mudança do tom cordato de KARNAL ao tratar do tema da "escola sem partido" e a recorrência com que se pediu pelos entrevistados para que falasse sobre ele demonstram a importância do assunto e a necessidade da sua análise mais cuidadosa. E isso me pareceu ainda mais evidente quando KARNAL investiu contra a direita por meio do velho e roto discurso planfletário, chamando-a de "fascista", articulando ideias indignas da inteligência e preparo do entrevistado: "Como disse Brecht: 'a cadela do fascismo está sempre no cio', sugerindo a intervenção militar, dizendo que a mulher apanhou porque merecia, e estuprada porque foi leviana". A direita seria fascista; o fascismo defenderia a intervenção militar, o estupro e a submissão da condição da mulher. Logo, a direita é filha dileta do Papa Figo...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Aliás, Brecht é um pensador recorrente nas citações de KARNAL, com a sua ética de guerrilha do humanismo comunista: "O que é um ladrão de banco em relação a um homem que funda o banco?". Nesses pequenos momentos o ascetismo demonstrado pelo discurso de KARNAL cede lugar para o sentido real do seu projeto intelectual, presente em todas as suas concorridas palestras: o ataque por dentro à razão religiosa, à fé, ao conservadorismo, a qualquer expressão daquilo que ele denomina de "fascismo", e que fascismo não é e nunca foi. Usa a técnica de rotular com uma palavra emotivamente negativa e de sentido oco - ao menos no uso com que a emprega - aquilo contra o qual luta ou rejeita, gerando em seus ouvintes a mais absoluta aversão ao modo de pensar que não comungue com a sua ideologia de esquerda. Faltou a KARNAL citar a poesia de Brecht sobre o homem bom, mas aí seria expor demasiadamente a veia poética do seu autor multicitado:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Perguntas a um homem bom</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Por Bertolt Brecht</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Avança: ouvimos</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> dizer que és um homem bom.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Não te deixas comprar, mas o raio</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> que incendeia a casa, também não</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> pode ser comprado. Manténs a tua palavra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Mas que palavra disseste?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> És honesto, dás a tua opinião.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Mas que opinião?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> És corajoso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Mas contra quem?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> És sábio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Mas para quem?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Não tens em conta os teus interesses pessoais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Que interesses consideras, então?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> És um bom amigo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Mas serás também um bom amigo de gente boa? Agora escuta: sabemos</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> que és nosso inimigo. Por isso</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> vamos encostar-te ao paredão. Mas tendo em conta os teus méritos</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> e boas qualidades</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> vamos encostar-te a um bom paredão e matar-te</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> com uma boa bala de uma boa espingarda e enterrar-te</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> com uma boa pá na boa terra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Nada há de fascista nesse discurso poético de Brecht; há aí apenas a ideologia marxista levada a um estado de arte. Essa, consoante se pode observar, é um belo exemplo da tolerância da esquerda. Não acredito, porém, que KARNAL comungue dessa mesma lógica de destruição dos que, mesmo sendo bons, não pensam conforme a esquerda, ainda quando ele manifeste a sua irritação com a tal direita delirante e absurdamente estúpida, essa doença que estava controlada, representando as vozes das sombras, que agora parece novamente voltar à vida pública brasileira.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-size: large;">3. Uma última reflexão sobre o Roda Viva.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O humanismo ateu tem talvez em Proudhon a sua origem. Não se trata do simples ateísmo ou do materialismo, sempre presentes na história da humanidade, mas de uma postura antiteísta e antirreligiosa. Feuerbach e Nietzsche são também pais dessa dramática luta sem trincheiras do homem contra Deus. Foi Feuerbach quem disse que o homem "afirma em Deus o que nega em si mesmo", em seu livro A essência do cristianismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O humanismo ateu de Leandro KARNAL não é novo, sendo filho do pensamento de Feuerbach e Nietzsche. O seu ateísmo é um antiteísmo, embora sem a eloquência de uma apologia desabrida contra a religião e a fé. Ele compreende a religião como um fato, um dado, nada obstante que será superado no Progresso da própria evolução humana - há muito de Proudhon nessa visão, no evolucionismo da história e do próprio desenvolvimento da humanidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A crença no Progresso, mostra-nos Christopher Dawson (Progresso e religião, trad. bras., É Realizações), que surgiu nos séculos XVIII e XIX, faz com os pensadores acreditem na aurora de uma nova época comandada pela Razão, em que o Homem passaria a ter a centralidade da história, liberto de Deus: "E o mesmo espírito reaparece nos reformadores revolucionários políticos e sociais do século XIX, que apresentavam uma crença quase apocalíptica na possibilidade de transformação da sociedade humana - uma passagem abrupta da corrupção à perfeição, da escuridão à luz" (pp.62-63).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
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<span style="font-size: large;">Esse humanismo ateu, nada obstante, com a sua fé no Progresso, encontra em Marx o seu adversário ferrenho. As sociedades sem classes, pranteada por KARNAL sub-repticiamente ao falar sobre a nossa, tão cheia de diferenças e patamares sociais, nada mais seria do que o produto desse Progresso, obtido pela planificação social, que teve em Marx o seu formulador com o comunismo alcançado após a destruição dos inimigos burgueses. Ele põe fim ao humanismo renascentista porque menoscaba o indivíduo para olhar a história pelo coletivismo; é o social que conta, não o indivíduo. Em Marx a ideologia do Pregresso ganha um sentido próprio e definitivo: o fim da história com a destruição das contradições do capitalismo e o surgimento do comunismo, última etapa da realização da humanidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Nicolai Berdiaev, um dos mais profundos filósofos russos a fugir do regime comunista, demonstrou como a ideologia do Progresso nada tem de científica; hoje, bem sabemos os resultados das tentativas de aplicação da engenharia social marxista, em que pese ainda tenhamos os que dão aos defensores de ideias baseadas naquelas premissas o nome de progressistas. Tivessem lido Bardiaev, dariam-se conta que há muito de pensamento místico e religioso naquele paraíso na Terra pensado por Marx (El sentido de la historia, trad. esp., Ecuentro Ediciones, 1979, esp. p.135 ss.).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Encerro esse breve texto com um alerta. Más ideias podem ser vendidas com a vestimenta elegante das citações eruditas; continuam, contudo, a ser más ideias. Os antiteístas estão mais presentes do nunca, sobretudo em uma época pautada pelo relativismo moral e pela lógica policêntrica do politicamente correto, uma espécie de moral sem moral e sem raízes, flutuando entre as paixões do momento e a moda do que parece ser cool à vista da maioria.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">KARNAL fala muito bem; por vezes não diz coisa com coisa, mas o faz com a adequada empostação de voz de alguém marcado pela educação jesuíta. Deus ingressa em sua fala como um mito a ser destruído pelo humor sarcástico, pela ridicularização dos que ainda acreditam nessas bobagens de anjos da guarda. Ao ridicularizar sutilmente - por vezes, outras nem tanto! - a crença, promove a erosão dos valores religiosos. Sim, a cadela do ateísmo militante está no cio, como nunca antes na história da humanidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O humanismo ateu, mostra-nos Henri du Lubac, busca a destruição do verdadeiro humanismo, aquele que encontra em Deus o seu fundamento último. E sem Deus, sem a moral que brota da fé, tudo será permitido...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div>
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<br /></div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-32242471291738316192017-05-28T18:10:00.000-03:002017-05-28T18:24:44.095-03:00Apropriação cultural<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A primeira coisa que devemos fazer ao falar sobre uma coisa é dizer sobre que coisa estamos falando, para que evitemos os efeitos negativos da polissemia, turbando qualquer chance de entendimento. Se vamos falar sobre apropriação cultural, é preciso primeiramente saber o que significa esta expressão para os que a usam como uma bandeira ideológica. Procurando na internet, encontramos muitas menções ao significado desta locução como ela vem sendo aplicada no discurso das redes sociais. No site Geledés - Instituto da Mulher Negra, há um texto de Bárbara Paes, do site OvelhaMag.com que diz: "A apropriação cultural acontece quando elementos de uma cultura são adotados por indivíduos que não pertencem a esta cultura. Isso inclui o uso de acessórios e roupas, a exploração de símbolos religiosos, o sequestro de tradições e de manifestações artísticas. A apropriação cultural é especialmente terrível quando se trata de elementos de uma cultura historicamente marginalizada e explorada... Um grande problema de sequestrar elementos de culturas não dominantes e adotá-los de maneira descontextualizada, é que as pessoas que fazem a apropriação se beneficiam dos aspectos que julgam “interessantes” de uma cultura, ignorando os significados reais desses elementos, enquanto os membros dessa cultura tem que lidar com opressão diariamente."</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em um outro texto, Stephanie Ribeiro diz que "há séculos uma cultura é dominante e imposta, o modelo a ser seguido é o europeu, consequentemente, o padrão estético é o ocidental e branco. Quando se nota o interesse nos casos citados, esses símbolos sofrem um processo de embranquecimento, elitização e exclusão dos costumes. O turbante que sua empregada fazia não era interessante até aquela amarração sair numa revista. O pior lado disso tudo é que a exclusão vem quando a tradição se torna um bem de consumo caro e de acesso restrito, ou seja, vira “modinha”. É totalmente diferente ser branco – ou passar como branco – e usar um turbante/dread, e ser negro usando as mesmas coisas; os olhares são outros, exatamente porque quando usado pelo protagonista daquela tradição, o símbolo ganha outro significado, ele é político, de resistência e empoderamento."</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para esse pessoal, que copiou o modismo americano sobre o assunto, há sempre embutido um conceito binário opressor/oprimido, elite/excluído, brancos/negros, cuja inspiração sustenta a ideologia da esquerda marxista. Para a esquerda, com o seu caldo ideológico necessário para se retroalimentar, há sempre uma luta de classes - econômica, cultural, religiosa, etc. -, um conflito em que os mais fracos ou marginalizados devem se erguer contra a opressão, real ou fictícia, gerando com isso um discurso de resistência contra seja-lá-o-que-for. No caso da tal apropriação cultural, os argumentos são rasteiros, como se vê dos textos citados e de vídeos que circulam na internet (vide aqui).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A crítica a essa tal "apropriação cultural", tal como tratada por essa turma da esquerda, gostaria, na prática, de criar um gueto cultural: adereços usados pelos negros deveriam ficar segregados, como se as pessoas não intercambiassem valores, ideias, pensamentos, etiquetas, formas de se vestir... Trata-se de uma espécie apartheid de sinal trocado, em que os brancos deveriam se abster de usar aspectos culturais dos negros, porque estariam fugindo das suas raízes históricas de opressão e resistência. Em um mundo marcado por trocas simbólicas, a crítica à tal apropriação cultural só não é totalmente idiota porque há nela uma lógica das esquerdas: conservar o mercado das lutas ideológicas como uma forma de sobrevivência discursiva: sem alimentar ou criar novas formas binárias opressor/oprimido, o seu discurso emotivo perde a força e os que se beneficiam dessa lógica aloprada perdem o relevo, como ONGs, lideranças políticas, meios de comunicação, etc.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A indigência intelectual dos argumentos sobre a apropriação cultural é impressionante. No fundo, o que essa gente está pregando é simplesmente a cultura da segregação, porém sustentada por aqueles que seriam as vítimas, numa espécie de Síndrome de Estocolmo cultural: o oprimido vira o seu próprio opressor, identificando-se com o gueto em que foi historicamente colocado e cujo rompimento foi uma luta histórica sua. Enquanto os americanos adoram quando os outros povos reproduzem o seu modo de ser e de pensar, o seu modo de vestir, as suas representações culturais, o seu modo de vida, essa turma da tal apropriação cultural quer que haja uma segregação da sua cultura, no fundo porque lhe cai bem o papel de eterna vítima.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O interessante é que o fenômeno da aculturação - assimilação de aspectos de uma cultura por uma outra, seja de modo impositivo ou natural - demonstra que a apropriação cultural é um fato comum, ordinário, normal, quando culturas se encontram, convivem e dialogam. O normal de uma cultura, aliás, é querer que os seus traços se perpetuem, inclusive pela sua adoção por outras culturas. Assim é que o pensamento grego e romano persistem até hoje entre nós, influenciando o Direito, a arte, a literatura, a filosofia...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Daqui a pouco vão querer proibir a feijoada nas nossas mesas...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Sobra-me uma pergunta: por que esse pessoal não vai catar coquinhos?</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-27243643401110212792016-12-20T20:44:00.001-03:002016-12-20T20:45:19.840-03:00DO AMOR E DOS APETITES<div style="background-color: white; color: #1d2129; letter-spacing: -0.24px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os apetites humanos buscam ser satisfeitos. Saciados, deixam de existir temporária ou definitivamente; não saciados, tendem a desaparecer naturalmente, superados por outros apetites. Nenhum desejo é estável ou longevo, fenecendo ou pela sua realização ou pelo seu esquecimento e superação.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; letter-spacing: -0.24px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O amor não é um apetite; sentimento é o que ele é. Ultrapassa o tempo, os contratempos, as dificuldades, a distância, os desgastes da presença cotidiana... Todavia<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">, não é um sentimento qualquer. Os sentimentos afloram, se instalam e esfriam, ainda que não sumam. O sentimento de apreço, a empatia, o carinho, a saudade, as afinidades, por exemplo, são sentimentos presentes, que não desaparecem simplesmente, mas que não ditam o que somos.</span></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; letter-spacing: -0.24px;">
<div style="margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O amor é um sentimento existencial, diz da nossa estrutura como seres situados na mundanidade do mundo. Amar nos autodefine porque já deixa em nós marcas na alma, para além das nossas vontades. Intemporal, ubíquo, constitutivo é o amor, podendo haver variantes tão-só nos apetites que faz nascer, aqui e acolá, em relação ao objeto amado.</span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
</span>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O amor subsiste mesmo longe de quem se ama; o desejo, não. O amor se alimenta também na saudade, na ausência, na distância, nas impossibilidades, nas dificuldades; os apetites, não. O amor pode ser platônico; o desejo, não. Agora, o principal: o amor resiste ao convívio, ao cotidiano, aos desgastes da vida a dois; o desejo, apenas como apetite, nunca.</span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Tanto a distância como a presença constante são desafiantes para o amor, que se deixa desafiar porque se sabe tal. Ambas, porém, são terra árida para o desejo, porque os apetites precisam ser alimentados e logo satisfeitos, na fugacidade lhe é constitutiva.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Em resumo: o amor que tem medo da distância ou do convívio é pobre, frágil, imaturo. Porque amor que é amor só se compreende no apropriar-se e no se deixar apropriar, alimentando-se pela constância, pela força, pela coragem e, sobretudo, pelo querer o bem de quem se ama. Parece muito em um mundo tão propenso a quedar-se na fatuidade.</div>
</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05702232359563660286noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-4183132161703459732015-07-14T15:47:00.003-03:002015-07-14T15:47:37.335-03:00LER, MEDITAR, ESCREVER.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.a12.com/files/media/originals/jose_carlos_vieira1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.a12.com/files/media/originals/jose_carlos_vieira1.jpg" height="215" width="320" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Hoje</b><span style="font-size: 14px;">, a leitura tem sido negligenciada pelos estudantes, mesmo aqueles já em nível de mestrado e doutorado. Lê-se muito pouco e, não raro, rasamente. A leitura é a chave de abertura para o mundo; ela proporciona o nosso encontro com o pensamento dos que nos antecederam e meditaram sobre o tema que nos instiga a lê-los. Mas não basta apenas ler. Convém meditar, conciliar proposições à primeira visada em litígio, fazer dialogar textos do mesmo autor e </span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-size: 14px;">esses com textos d'outros autores, buscando com isso a ampliação de perspectivas e, a partir delas, o encontro de eventuais novos caminhos. Apenas depois, já bem depois, é que passamos à escrita, ao dividir com outros o produto das nossas meditações, as descobertas que fizemos, as nossas visadas que passamos a adotar e propormos a que outros possam aderir a elas no processo de reflexão.</span></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><div style="margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
Porém, há muita afoiteza no escrever. Pulam-se etapas. Há uma ânsia em dividir aquilo que mal dá para proveito próprio. E o que temos visto é a publicação de obras superficiais, repetitivas, com erros evidentes de construção teórica e de falta de informação. Porque lê-se muito pouco e muito mal. Escolhem-se os autores mais óbvios, os textos mais limitados, o que é de fácil compreensão. É como se não houvesse tempo para mastigar; come-se a papa rala do conhecimento, porque não há estímulo e tempo para o delicioso esforço de comer o que necessita ser deglutido sem pressa e com paladar refinado.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Temos visto a pobreza acadêmica de teses de mestrado e doutorado que impressionam pela ousadia de serem óbvios, repetitivos e preguiçosos esforços intelectuais. Nos acostumamos com tanta miséria intelectual, que já não temos mais a visão de que pensar é uma arte, é um encantamento com o objeto pensado. E, pois, exige tempo, dedicação, esforço intelectual.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Precisamos escrever menos. Precisamos ler mais. E meditar ainda mais.</div>
</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05702232359563660286noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-63144371960172565042015-03-16T11:01:00.002-03:002015-03-19T16:13:33.278-03:00Primavera Brasileira<div style="text-align: justify;">
A Primavera Brasileira também nasceu através das redes sociais. Curioso que os analistas políticos não tenham se dado conta do fenômeno que lembra a Primavera Árabe. O próprio Governo e o PT não perceberam que houve uma mudança muito grande entre 2002 e 2015: a sociedade não precisa dos coletivos sociais organizados para se manifestar; já não são mais os sindicatos que levam a população às ruas, como ocorria em um passado próximo. Esse monopólio, que era a maior força das esquerdas, foi esmaecendo e hoje se mostra dissolvido, como podemos ver nas manifestações de sexta-feira (13), em que estavam os sindicalistas, os filiados, ausentes da população, que sempre foi a alma desses movimentos.<br />
<br />
A Primavera Brasileira é a politização crescente da sociedade. É um fenômeno que brota por geração espontânea e catalisa o sentimento ou espírito (Geist) intramundano, prerreflexivo e atemático. Somos nós em nossa constitutiva liga dialógica, agora sem intermediários, sem ter quem precise falar por nós para que os nossos líderes políticos nos ouçam.<br />
<br />
O movimento do dia 15 de março ficará na história do País. É o início da maturidade democrática, em que a internet e o fluxo de informações joga um papel decisivo. Eis aí a Primavera Brasileira.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05702232359563660286noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-46322189725780997062015-02-19T18:53:00.000-03:002015-02-19T21:42:09.254-03:00A Reforma política proposta pela OAB: breve análise do parecer aprovado pelo Conselho Federal.<div style="text-align: justify;">
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil aprovou, no dia 04 de fevereiro de 2015, a proposta de reforma política produzida pela própria entidade, contando com apoio da CNBB, CUT e uma série de coletivos sociais, como o MST. Segundo matéria divulgada no site oficial da entidade, "O presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, entende que a relevância da questão se traduz em urgência nas ações. “A reforma política não é do governo nem da oposição: ela é da sociedade. Todos os candidatos a presidente da República prometeram, durante a campanha eleitoral, realizar uma reforma política. Agora, o povo aguarda e exige o cumprimento desta promessa. A Ordem é protagonista nessa busca pela republicanização do Brasil”, defendeu.".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O site publicou também o <a href="http://www.oab.org.br/arquivos/4900002015000103-7cop-1944731063.pdf" target="_blank">parecer</a> do relator da matéria, conselheiro federal pela OAB-CE, Kennedy Reial LINHARES, em que se expôs as razões pelas quais defendia a aprovação pelo pleno do Conselho Federal da proposta de reforma política.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Li com atenção esse texto. Trata-se de um discurso retórico, sem substância jurídica, em que se apela a uma linguagem emotiva para dizer da necessidade de uma reforma política no País. Falando em democracia, cita em seu favor Hegel e Marx, justamente dois filósofos inimigos das sociedades abertas, conforme sublinhado por Karl Popper em obra sobre o tema. Aliás, a inspiração ideológica do texto não deixa margem de dúvidas sobre o seu caráter marxista e anticapitalista, quando pespega, lá para as tantas, a seguinte pérola contra a globalização, cujo entendimento textual está além do meu alcance cognitivo. Trata-se de uma construção argumentativa que parece nos levar do nada ao lugar-nenhum intelectual:</div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<i><span style="color: #990000;">A contemporaneidade vive o “fenômeno” da globalização, que indubitavelmente interferi (sic) na política, no direito, na justiça e na cultura. A globalização, por assim dizer, é devastadora quando não mediada de forma racional entre as derrubadas das fronteiras dos Estados na esfera econômica, que indubitavelmente implicará em unificação de algumas ou todas as leis entre Estados, como por exemplo tem acontecido na Zona do EURO (em quase toda Europa) e iniciando timidamente com o MERCOSUL (com alguns países da América do Sul). </span></i></blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda nessa toada, LINHARES passa a divagar sobre a globalização e os seus efeitos, exercitando a sua capacidade especulativa ao extremo e levantando para si próprio questões transcendentais de elevada gravidade para ele, ao que parece pela ênfase empregada:</div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<i><span style="color: #990000;">O mundo esta sendo reinventado ou sendo ocidentalizado? E em quais parâmetros? Os consumos, os excessos, a crise moral, o desapego ético, a chamada “sociedade do espetáculo” cada vez mais epicurista é o “grande avanço da humanidade nos últimos anos”? Nesse tipo de sociedade existe espaço suficiente para o DIREITO? As leis somente são úteis em um contexto de proteção mercadológica? E a DEMOCRACIA? </span></i></blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei que diabos tem isso a ver com a reforma política, mas deve ter causado impacto aos membros do Conselho Federal, que passaram a meditar sobre questões como a globalização, o epicurismo, o consumo e que tais. Porém LINHARES não parou por aí.</div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;"><i>Nesse cenário sombrio de ferimento dos direitos humanos pelos EUA, afastou-se de vez a perspectiva do direito metafísico oriundo do ideal de sociedade, democracia e justiça decorrente dos Iluministas. Compreende-se cada vez mais que o alcance da democracia e justiça passa pela efetivação prática do direito. Afinal, para que tanto idealismo e tantos direitos conquistados no curso da história sem seu sentido prático-universal? </i></span></blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Li, reli e treli o texto. Não entendi nada, sobretudo o tal <i>direito metafísico oriundo do ideal de sociedade</i>... Aí, meteu-se jusnaturalismo com positivismo, além da questão profunda subsequente: em nossa sociedade ainda haveria lugar para o direito? Não entendi a pergunta, não sei o que LINHARES entende por direito, ficando eu aqui perdido, sentado na calçada, a divagar sobre tais questões que devem ter tido um poder persuasivo imenso para a aprovação da proposta de reforma política pelo Conselho Federal da OAB.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nada obstante, novas questões de elevada indagação continuaram a ser feitas no parecer. Foi aí - como diríamos na minha pequena Junqueiro/AL - que eu me lasquei todinho. Não entendi bulhufas:</div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;"><i>Entre otimismos e pessimismos, contradições e coerências, o certo é que o mundo contemporâneo não parece deixar espaços para idealismos, exigi-se cada vez mais a concretude das coisas, o respeito do “singular ao universal” , a democracia, o uso imoderado da razão, e a obtenção da justiça com a simples aplicação do direito, são objetivos reais e racionais. De que importa vivermos em uma sociedade cheia de direitos sem nenhum sentido prático-efetivo? </i></span></blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
A "concretude das coisas", o "respeito do singular ao universal", a "obtenção de justiça com a simples aplicação do direito" (ao que parece, o justo seria o legal...), e expressões desse quilate, enfim, me entorpeceram a mente, levando-me ao labirinto da incompreensão profunda. Aí me fiz uma indagação: está tudo muito bem, está tudo muito bom, mas realmente o que temos a ler sobre a reforma política? Responde-nos LINHARES:</div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;"><i>A importância do tema em discussão é fenomenal. Diante de sua óbvia repercussão, é sintético o posicionamento da Relatoria a seu respeito.</i></span></blockquote>
<div>
E tão sintético foi, que o parecer limitou-se a citar breves excertos de falas proferidas pelo presidente da OAB, em uma atitude monológica fechada a qualquer diálogo. Não houve análise de posições diversas, em que se justificasse a opção por uma alternativa e não por outra. Não. Citaram-se breves falas do presidente da OAB e LINHARES tomou-as como suas. E fim!<br />
<br />
A Reforma Política proposta seria de interesse da sociedade, diz-nos o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Ok. Dou uma sugestão para panfletos da OAB promovendo a coleta de assinaturas:<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjITL-EWyd06TlsefomuGjcMfeQoxOMA1Fh7_tksVKJlR3Qb4X4Ygyb7hiMDe_jL98gDvdHo4ZJPisgotgYpu60khjCqOS3PLuhxucIqt_UDQOC1S7Nci0h0DOTnJFFljDz_e_3iArh5M/s1600/PT+e+reforma.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjITL-EWyd06TlsefomuGjcMfeQoxOMA1Fh7_tksVKJlR3Qb4X4Ygyb7hiMDe_jL98gDvdHo4ZJPisgotgYpu60khjCqOS3PLuhxucIqt_UDQOC1S7Nci0h0DOTnJFFljDz_e_3iArh5M/s1600/PT+e+reforma.jpg" height="476" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div>
Sinceramente, estou impressionado com a nossa Ordem dos Advogados do Brasil. Não apenas eu, aliás; não faltam os quanto se sintam cada vez menos representados por ela, ao menos em relação à atual gestão.</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05702232359563660286noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-7712311765367800552015-02-09T10:48:00.001-03:002015-02-09T10:58:07.160-03:00Petrobras: o problema não está na lei, mas na ausência de controle interno<div style="text-align: justify;">
<a href="http://oglobo.globo.com/brasil/outros-dois-tipos-de-contrato-permitem-fraudes-na-petrobras-15281925" target="_blank"><span id="goog_496250760"></span>Diz-se com certa ligeireza<span id="goog_496250761"></span></a> que o modelo de licitação adotado pela Petrobras estaria como um dos mais relevantes fatores para a corrupção que passou a grassar na companhia. Nada mais falso, porém. Os problemas advindos da corrupção endêmica da Petrobras decorrem do aparelhamento político adotado como requisito para a ocupação dos cargos relevantes, a pulverização do poder decisório em estratos mais baixos da hierarquia da empresa, a ausência de uma política de <i>accountability</i> e <i>compliance</i> para o acompanhamento dos atos internos e punição dos desvios tão logo detectados, o autoesvaziamento do papel do Conselho de Administração, a promiscuidade da relação com as empreiteiras, a ausência de normas sobre quarentena dos empregados da companhia após a sua saída da relação de trabalho.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmXM5y5y4tUarTVYZEueAPYoZsEP3yFtM-FUjmlYAVUcQYu5wNaUZBPzUyaizjT-i08Dtbc2mkoJEJsSAHgNbH3ugmt6UEV4OdepoKiZjeRGKv2dE7iY_Yyn0gEkUdtdzc8NmDFkVGzuU/s1600/petrobras.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmXM5y5y4tUarTVYZEueAPYoZsEP3yFtM-FUjmlYAVUcQYu5wNaUZBPzUyaizjT-i08Dtbc2mkoJEJsSAHgNbH3ugmt6UEV4OdepoKiZjeRGKv2dE7iY_Yyn0gEkUdtdzc8NmDFkVGzuU/s1600/petrobras.jpg" height="433" width="640" /></a></div>
<br /></div>
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Uma empresa que atua no mercado internacional, com concorrência de outras gigantes do setor, não pode ficar amarrada à lei de licitações e ao modelo burocrático por ela estabelecido. Isso impediria a tomada de decisões rápidas, essenciais para a atividade econômica desempenhada pela Petrobras. Aprisioná-la à burocracia das compras públicas é inviabilizá-la como <i>player</i> na disputa internacional, cada dia mais acirrada em tempos de preços em queda do petróleo e da mudança da geopolítica com o xisto americano, que lhe deu autonomia e o transformou em autossuficiente, além de exportador de combustíveis fósseis.</div>
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Não se trata, portanto, de mudar a lei - mania atávica herdada dos portugueses: há um problema; faça-se uma lei! -, mas de criar mecanismo internos eficazes de controle dos atos negociais da companhia, com uma sólida estrutura de auditoria e controladoria interna, livre das pressões políticas e do aparelhamento partidário. Além disso, punir com rigor os empregados flagrados em práticas heterodoxas no âmbito das suas competências.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Mudar a lei de licitação diferenciada da Petrobras não é a solução; trata-se de mais uma desculpa feita de afogadilho.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05702232359563660286noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-10289117430409049822015-01-29T21:18:00.002-03:002015-01-29T21:27:50.454-03:00O MITO FÁUSTICO DE CADA UM DE NÓS<div style="background-color: white; color: #141823; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não temos duas almas; uma só unida ao corpo e à mente é o que possuímos, formando a nossa estrutura nouspsicossomática. A tragédia de Fausto, na obra-prima de Goethe, decorre da entrega da sua alma em um pacto com Mefistófeles. O mito fáustico percorre toda a história da humanidade e é exposto de modo supino através dos clássicos versos daquela obra magna.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiel3m50pq3gkmp-x5KrRAApT7GiP0PycYPhGdHuAV5GeZGSvodFLZIEH-gw-7ivl0yWMvHSkmQbdWXBwtCTjJe1yXYG0YhwEt8u9ccKwrcJDuya-YirKtcnXqIoXCT4N_BuUOpCTAUgl5Y/s1600/Fausto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiel3m50pq3gkmp-x5KrRAApT7GiP0PycYPhGdHuAV5GeZGSvodFLZIEH-gw-7ivl0yWMvHSkmQbdWXBwtCTjJe1yXYG0YhwEt8u9ccKwrcJDuya-YirKtcnXqIoXCT4N_BuUOpCTAUgl5Y/s1600/Fausto.jpg" height="393" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Se é certo que apenas uma alma temos e a negociamos com outrem a sua entrega, o que n<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">os restará? Talvez a tragédia fáustica seja justamente essa: a realização de apetites (paixões, rancores, ódios, complexos, amores, desejos de riqueza, etc.) ao custo de nós mesmos. Aí, já abdicamos dos nossos valores como ornamentos imprestáveis; já fazemos nossos iguais os que sempre foram desejados ficassem distantes; já chamamos de amigos os que antes víamos com desprezo...</span></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E ao olharmos em volta de nós mesmos, o que nos resta?; onde ficou o que antes nos era tão caro como característica identitária, constitutiva - não apenas para os outros mas sobretudo para nós mesmos - do que somos como sujeitos no mundo? No Fausto de Goethe há o momento do acerto de contas consigo mesmo; na vida, a final, haverá sempre um dia para esse encontro com a alma alienada a preço sobejo ou vil, pouco importa.</span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-14041511959595081382015-01-27T13:41:00.000-03:002015-01-27T13:58:30.256-03:00APROVAÇÃO DE CONTAS PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA SEM PARECER DO TRIBUNAL DE CONTAS: VALIDADE DA APROVAÇÃO DAS CONTAS DE TEOTÔNIO VILELA FILHO.<br />
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<div style="text-align: justify;">
Há um debate, levantado em bom momento pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas, Conselheiro Otávio Lessa, sobre o fato de ter a Assembleia Legislativa aprovado as contas de alguns exercícios do Governo Teotônio Vilela Filho sem que houvesse prévio parecer do Tribunal de Contas do Estado. As funções dos tribunais de contas passaram a ganhar cada vez mais importância, cumprindo um papel fundamental para o controle externo da Administração Pública.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há, porém, formas distintas através das quais os tribunais de contas atuam e exercem a sua competência. O art. 71 da Constituição Federal prescreve: "O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento". Não se trata, nesse função ancilar do Poder Legislativo, do esgotamento de todas as funções da Corte; há mais atribuições suas não menos relevantes e, em certo sentido, até mesmo mais protagonistas, como é o caso da análise que faz dos processos administrativos de licitação e contratos.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No que diz respeito à aprovação ânua das contas por exercício financeiro, é ela função do Poder Legislativo, apenas. O Tribunal de Contas aqui é órgão auxiliar,apenas, não sendo o seu parecer vinculativo; trata-se de JULGAMENTO POLÍTICO DAS CONTAS. Logo, se o Poder Legislativo entendeu que o prazo para elaboração do parecer prévio transcorreu em branco, não tem a necessidade de esperar que seja ele proferido posteriormente; é competência do Poder Legislativo, e somente sua, a aprovação ou rejeição das contas do Poder Executivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, consultado sobre essa questão pelo ex-governador Teotônio Vilela Filho, diante dessas ponderações públicas feitas acertadamente pelo presidente do TCE, manifestei-me no sentido da validade dos procedimentos legislativos de aprovação das contas do Chefe do Poder Executivo sem o prévio parecer do Tribunal de Contas do Estado, "a fortiori" se o prazo para a sua emissão não foi observado. Aqui incide o princípio da simetria com o centro, em que a norma constitucional do art.71 se aplica aos Estados de igual modo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, o questionamento feito pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado é legítimo, como Chefe do órgão auxiliar do Legislativo, porém não há como invocar nulidade do procedimento legislativo de aprovação das contas, ocorrido dentro da competência exclusiva e soberana do Poder Legislativo. Se há desgaste quanto ao ponto, não deve ser com o ex-governador Teotônio Vilela Filho, mas com o Poder Legislativo, que entendeu apto a exercer as suas atribuições constitucionais de natureza política sem aguardar o parecer prévio da Corte de Contas. Estamos no campo político; não no campo jurídico, portanto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ademais, não se lê o ordenamento jurídico em tiras, muito menos uma norma jurídica - com expressão mínima deôntica completa - às fatias. O PARECER É PRÉVIO, mas tem prazo para ser dado. E O PARECER PRÉVIO É ATO AUXILIAR, QUE NÃO INTEGRA A DECISÃO POLÍTICA DO PODER LEGISLATIVO. É dizer, não estamos frente a um ato jurídico complexo, que necessite da manifestação de vontades do TCE e do Legislativo para a sua validade. O ATO DE APRECIAR AS CONTAS É EXCLUSIVA DO PODER LEGISLATIVO, que conta com o auxílio - e nada mais do que isso - do Tribunal de Contas. Se o prazo do oferecimento do parecer esgotou, o Legislativo pode - autônomo e independente que é - cumprir a sua função constitucional e votar as contas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O competente constitucionalista e Procurador do Ministério Público de Contas do Estado de Minas Gerais, <i>Marcílio Barenco</i>, pensa de modo diverso e discordou das minhas colocações, asseverando o seguinte:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000;">O inciso I do artigo 71, da CR/88, por simetria, como bem assinalado, diz que o julgamento será MEDIANTE PARECER PRÉVIO que de certo tem natureza técnico-jurídica e PODE deixar de prevalecer no momento do julgamento político - de quórum qualificado - pela Assembleia Legislativa, contudo, sem ser dispensável (ex vi art.29, parágrafo 2º da CR/88 e correspondência na Constituição do Estado de Alagoas). O prazo constitucional de emissão do PARECER PRÉVIO tem natureza jurídica de prazo impróprio para o magistrado de contas, que de certo as aprecia, emitindo Parecer Prévio, mas não julga, por ser competência da ALE. Se assim não fosse, teria o constituinte originário trazido à colação da norma eventual sanção. Pelo contrário, não o fez e nem poderia! Assim, não há que se falar em preclusão, decadência, dispensabilidade da emissão do PARECER que é sempre PRÉVIO ao julgamento político e faz parte do devido processo legal de contas do governo. A jurisdição-administrativa afeta aos Tribunais de Contas foi violada, sob aspecto substantivo e adjetivo a meu ver. A norma constitucional foi violada claramente. O fato dos Tribunais de Contas serem órgãos auxiliares dos Poderes Legislativos, não lhes retira o caráter normativo-cogente - DEVERÃO - apreciar as contas de governo, sob pena de nulidade do julgamento final - político. Sem aduzir que o Ministério Público Especial, sequer participou do devido processo legal, a meu ver, totalmente mitigado, com outra causa de nulidade absoluta. Também não há prejuízo para apreciação das contas de gestão, cujo escopo é muito maior que as contas de governo. Assim fica minha brevíssima reflexão sobre o tema, contribuindo estritamente para o debate jurídico da questão.</span></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Apesar das ponderações do procurador Marcílio Barenco, reconhecido estudioso e professor de Direito Constitucional, vou continuar com o meu pensamento. O prazo fixado para que o parecer prévio dos tribunais de contas seja ofertado, diz-nos Barenco, seria um <b>prazo impróprio</b>, sem sanção, razão pela qual não haveria decadência, preclusão ou dispensabilidade da sua emissão. A assertiva tem razão, embora em parte apenas. É que o prazo fixado pela Constituição Federal para a emissão do parecer prévio dos tribunais de contas tem a finalidade de limitar a atuação do Poder Legislativo: deverá ele aguardar que haja a apreciação pelos tribunais de conta durante aquele período; se o Legislativo não aguardasse a passagem do prazo constitucionalmente estipulado, menoscabaria a esfera jurídica dos tribunais de contas, que têm o poder-dever de agir dentro daquele trato de tempo.<br />
<br />
Mas a Constituição Federal não contém palavras inúteis; ao fixar o prazo para a emissão do parecer prévio, fez dele condição de validade do processo legislativo de apreciação das contas do Poder Executivo, não podendo o Legislativo deixar de esperar o seu transcurso completo. É dizer, o prazo estipulado para a emissão do parecer do Tribunal de Contas tem efeito suspensivo do andamento do processo legislativo. <i>Vencido, porém, o prazo fixado pela Constituição Federal, sem que haja a oferta do parecer prévio, deixa a sua emissão de ser pressuposto de validade do processo legislativo de apreciação das contas, perdendo a qualidade de elemento completante - por isso mesmo, necessário à sua validade -, para passar à condição de elemento integrativo circunstancial do suporte fático da norma </i>(é dizer, poderá ou não constar o parecer, sem inibição da validade e eficácia do ato legislativo).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Podemos até considerar ser aquele prazo para emissão do parecer prévio um <i>prazo impróprio</i>, no sentido de que não há prevaricação ou sanção a ser aplicada ao agente público que não o observou; nada obstante, do ponto de vista estrito do exercício da competência do Poder Legislativo, o prazo lhe é vinculante: não pode atuar antes do seu transcurso. O vazio de manifestação dos tribunais de contas naquele trato de tempo, sem embargo, implica na possibilidade do Legislativo julgar as contas, sem o pronunciamento das Cortes de Contas que, nessa função especificamente, nada julga, apenas opina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ou seja, o caráter <i>normativo-cogente</i> das decisões dos tribunais de contas, lembrado pelo professor Marcílio Barenco, é da natureza dos seus <i>atos decisórios</i>, que não se encontram hipotisados - convém bisar - na competência do art.71, I, da CF/88. Ali, no exercício dessa atribuição, nada há de vinculante ou cogente; há-o quando exerce as funções previstas nos demais incisos do art.71 da CF/88, sobretudo no inciso II. E, nesse passo, ao que serve de argumentação para os tribunais de contas, servirão de idêntico modo ao Ministério Público de Contas de cada um desses tribunais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Logo, compreendo não haver nenhuma nulidade no exercício legítimo da apreciação das contas do Poder Executivo pela Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, sem que tenha havido a emissão de parecer prévio no prazo fixado pela Constituição Federal.</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-88853490020626713622015-01-20T17:51:00.002-03:002016-12-20T20:46:19.944-03:00DA COREIA DO NORTE PARA O BRASIL: AS DESCOBERTAS DE UM MOCHILEIRO REVOLUCIONÁRIO<div style="text-align: justify;">
Chegou um jovem brasileiro, depois de meses andando de mochila pela Coreia do Norte, acompanhado por amigos do regime. Leu as manchetes do jornal e foi logo gritando com os seus familiares, indignado:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- "Esse Aécio Neves venceu a eleição para aumentar tributos, congelar a tabela do IR, aumentar a energia e a gasolina, e ainda aumentar o IOF só para o consumidor, deixando o investidor numa boa. Esse governo tucano ainda limitou o seguro desemprego e vai deixar o Brasil com apagão. Sinceramente, cansei de avisar para votarem na Dilma. Olhe aí essa política conservadora que só pensa no capital e ferra o trabalhador...".</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os pais olharam para ele com dó.</div>
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<br /></div>
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- "Filho, a gente votou na Dilma. Ela ganhou...", disse o pai vagarosamente, para não chocar o filho recém chegado do paraíso socialista.</div>
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<br /></div>
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O filho, perplexo, sentou-se e ficou com os olhos vazios. Pensou na imagem do líder coreano sendo reverenciado e se refez. Olhou para os pais com um sorriso:<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- "Temos que fazer logo o controle social da mídia. Isso tudo é culpa dos jornais e dos grupos familiares de comunicação. E vamos correndo fazer a reforma política, para acabar com esse sistema corrupto!", disse com ênfase e entusiasmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mãe, que sempre admirou a militância política do filho, levantou-se, foi ao quarto dele e voltou com uma camisa vermelha com a foto de Che Guevara, toda puída pelo uso nas tantas manifestações nas ruas. "Meu filho", disse ela ao entregar-lhe a vestimenta, "chame os seus amigos e faça um movimento com essas bandeiras. No período que você passou fora, Cuba reatou relações diplomáticas com os Estados Unidos e um funcionário do Bradesco virou Ministro da Fazenda. Se essa camisa ainda lhe for útil, use-a; se não, quero usá-la como pano de chão para limpar o seu banheiro...".</div>
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O filho olhou assustado. - "Pô, mãe, tinha que ser do Bradesco?! Por que não um cara da Bancoop?". Pegou a camisa e foi para o quarto tomar toddynho com sucrilho.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-47443774122604242082015-01-20T15:58:00.004-03:002015-01-20T16:13:24.038-03:00AS NOSSAS CAMADAS<div style="text-align: justify;">
Somos feitos de camadas. Deram-se conta disso? Há aquela que é visível a todos, nada obstante seja a que menos diga de nós. É a camada mais bem cuidada, ornada, fina, buscando a atenção e a aprovação dos outros, a nossa própria satisfação e orgulho. Quando, porém, fazemos uma incisão, encontramos uma outra camada mais densa, sem os requintes da que lhe antecede. Nela, os cosméticos conceituais e simbólicos começaram a diluir, aparecendo as imperfeições, os medos, as angústias, os orgulhos, as mesquinharias. É a camada que vez por outra fica à vista, quando aquela primeira, tão fina e requintada, desaparece por alguns segundos e novamente reassume o seu posto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Há, finalmente, ao menos até onde a vista pode alcançar nessa incisão investigativa, a terceira camada, mais rombuda, dura, impermeável a uma aproximação menos altiva, que esconde o que há de mais profundo em nós mesmos. É a camada da solidão, onde ninguém consegue penetrar, inclusive nós mesmos, por vezes tantas, ficamos no alpendre, sentados sem convite para passarmos da soleira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKq4TaDvcRU5Laz3SqqbKLCiIvoD8mecYqDEmJO-UoaFYo_Kd1WLtL43M5YsTfmJsjrdi2LWBn1n27dZmGrPde0Dn2s6SUwFwUUe1RhXzYGmr71x39JqAA66uEbeiuyxZvo7IvXDyzq7jj/s1600/camadas-de-rocha-15537168.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKq4TaDvcRU5Laz3SqqbKLCiIvoD8mecYqDEmJO-UoaFYo_Kd1WLtL43M5YsTfmJsjrdi2LWBn1n27dZmGrPde0Dn2s6SUwFwUUe1RhXzYGmr71x39JqAA66uEbeiuyxZvo7IvXDyzq7jj/s1600/camadas-de-rocha-15537168.jpg" height="425" width="640" /></a></div>
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<div style="text-align: justify;">
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<div style="text-align: justify;">
Essa camada nuclear envolve quem realmente somos para além de nós mesmos. Os nossos dramas, as nossas alegrias, os nosso complexos, as nossas esperanças, as nossas desilusões, as nossas buscas por sentido. É uma camada encrespada, sem ajustes e enfeites. Ela esconde a nossa essência e se apresenta apenas em raras ocasiões quando nos damos conta de nós, da <i>euidade</i>, do ser <i>eu-diante-de-mim-mesmo</i>. Quando somos ao mesmo tempo o um e o outro, objeto e sujeito, o olhar e o visto. Eis um momento raro: a nossa humanidade desnuda, as nossas misérias expostas, as nossas limitações presentes, o nosso orgulho alquebrado a nos mostrar quão pequenos somos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É nesse raro instante, diante dessa camada mais funda em nós, que podemos silenciar, fugir, nos enganar; ou simplesmente dizer para nós mesmos: "Eis-me aqui, na minha verdade mais crua!". É nesse momento preciso que podemos ser felizes e crescermos mais como pessoa, ou, de outro lado, nos amargurarmos e nos fecharmos de vez, fazendo daquela primeira camada estreita a única que nos interessa, enganando-nos e sendo aos outros um arremedo do que somos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E aí indago: quem já viveu essa experiência da existência nua?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-328024935781034592015-01-20T05:33:00.003-03:002015-01-20T05:36:48.373-03:00O jogo, as cartas e os jogadoresHá os que querem conhecer a verdade; há os que querem condescender com o que lhes convém. É muito interessante esse traço em algumas pessoas: por conveniência, ajustam-se àquilo que no seu íntimo não lhes cai bem, bastas vezes por inércia, outras tantas por convicção em estar sempre onde lhe parece haver vantagem.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
O interessante é observar a reação das pessoas quando, diante de uma situação concreta que lhes diz respeito, não compreendem as estratégias e não enxergam nada além das cartas já postas na mesa; e ainda assim, contudo, nem sempre façam as cartas abertas todo o sentido para o observador ansioso. Sem compreender como se movem os jogadores, ficam uns tantos olhando apenas para o que está a descoberto, não alcançando que o melhor jogo não é o que está na mesa, mas aquele à mão.</div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcELJAp2dmwWokLWgryjV11S_-u2gdeiWnLQxk8m3pNCiO4xV5u4-0kAI3GXrWMFHFb9kQzXiLmoGyaTf9QoNplqIa8ibe7bKIfm2gIZrE5gboZQy5YMuXuF0V89MWlUmHHyypFB1vQxvU/s1600/poker.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcELJAp2dmwWokLWgryjV11S_-u2gdeiWnLQxk8m3pNCiO4xV5u4-0kAI3GXrWMFHFb9kQzXiLmoGyaTf9QoNplqIa8ibe7bKIfm2gIZrE5gboZQy5YMuXuF0V89MWlUmHHyypFB1vQxvU/s1600/poker.jpg" height="270" width="400" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso há mais do que acerto na fala da personagem de Matt Damon no filme "Cartas na mesa": “Se você não descobrir quem é o pato da mesa na primeira meia hora”, diz ele, “então você é o pato”. E o pato será sempre depenado...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No jogo de profissionais, quem acredita estar com vantagem não pode piscar primeiro. É que os movimentos revelam as intenções. Não raro, por isso, os jogadores fazem movimentos contrários àqueles que pretendem adiante executar, induzindo o adversário a erro. O observador desatendo não se dá conta de que o jogo muitas vezes está sendo jogado quando não há movimentos; é aí o exercício da paciência que é já e sempre um agir, desde que não se prolongue em demasia, porque aí poderá já estar comprometida aquela partida. O tempo é um cavalo bravio; nem sempre nos acomoda bem em seu dorso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dado porém é fundamental nos grandes jogos: a <i>resiliência</i>, a capacidade de suportar a pressão e usá-la em seu favor. A temperatura elevada é uma ótima forma de eliminar, no jogo, os mais fracos. Ou mesmo de fragilizá-lo. Se um jogador é muito forte, a primeira coisa a fazer antes de começar a partida é solapar a sua confiança, mostrá-lo vulnerável, tirá-lo da concentração, desinstalá-lo da sua zona de conforto. Ao trazê-lo para o seu campo, as cartas de que ele dispõe passam a ser abertas ou se deixam conhecer por indução.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma outra coisa importante: provoque o adversário até ele lhe mostrar os dentes. Esse um passo fundamental em qualquer jogo: é nessa hora que você pode ler as cartas que ele dispõe nas mãos e as suas fragilidades. A reação do adversário é fundamental para que se compreenda toda a extensão do jogo e os espaços de manobra. É aí onde os melhores jogadores podem tirar muito proveito.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-11580115970524866552015-01-19T17:45:00.001-03:002015-01-20T05:00:02.576-03:00Uma reflexão sobre a nossa história<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O que nos faz maiores como seres humanos é a nossa capacidade de lutar pelo que acreditamos. A história não é feita pelos que esperam, pelos que olham os acontecimentos, que falam sobre os eventos. Ela é feita pelos que agem, fazem os sonhos serem compartilhados, convulsionam o <i>status quo</i>, assumem riscos e estão dispostos a estar no <i>front</i>.</span><br />
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como deve ser difícil viver todos os dias a angústia da opressão e se submeter a ela por medo do elevado preço que a conquista da liberdade representa, que na verdade é tão módico diante dos seus benefícios. Mas, afinal, não é assim que a humanidade caminha desde os primórdios, vivenciando a tensão constante entre a necessidade do agir e o medo dos resultados da ação? Somos filhos da inércia, como de resto foram os judeus, já sem esperanças e desacreditados da sua própria força, caminhando em fila silenciosa rumo às câmaras de gás.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE0DaGqnRwolnWNfDQJcOhBscPWzkLmGE634yQ9VnetyipxV9I7bZKKeypvcvVP7CavySyBa5sghJ4TMjjyqizEbS4ZnoacWq68ep7gUNioJazL9s7fpeqxQWnAO5W4OH8ZBiryoHx137y/s1600/judeus+holocausto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE0DaGqnRwolnWNfDQJcOhBscPWzkLmGE634yQ9VnetyipxV9I7bZKKeypvcvVP7CavySyBa5sghJ4TMjjyqizEbS4ZnoacWq68ep7gUNioJazL9s7fpeqxQWnAO5W4OH8ZBiryoHx137y/s1600/judeus+holocausto.jpg" height="355" width="640" /></a></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Vamos nos objetificando, abrindo mão dos nossos sonhos, condescendendo, esperando que algo aconteça por si mesmo, porque desde já nos desabilitamos de traduzir em gestos a nossa capacidade de nos indignar. Esperamos que outros façam por nós o que nos cumpre, porque afinal a história não tem um resultado predefinido: é sempre um fazer-se, um construir-se...</span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Só tem sucesso quem está inteiramente pronto para o fracasso. Não se pode vencer sem ir à luta, sem entrar na peleja, o que pressupõe já e sempre a chance de derrota. Os que não querem perder não estão prontos para a vitória. Essa é a lição que a vida nos dá a cada momento, em cada situação concreta da nossa existência. Se nos apaixonamos, não há meios de conquistar a amada sem que haja o risco do "não"; e isso vale para tudo o que é importante para nós.</span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E quando se tem uma boa causa na mão, quando se sabe correto e com a razão, aí a luta naturalmente será mais autêntica, destemida, sem medir as consequências. Por valer a pena a conquista, com mais razão haverá de valer a pena a luta. Essa é a verdade que trago em mim, viva, presente em tudo: não nasci para submeter-me ao que <i>aí está</i>, mas para convulsioná-lo. Não nasci para ler a história ou assisti-la, mas para ser parte dela, fazê-la com gestos, palavras e compromissos assumidos.</span></div>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Olho mais uma vez aquela imagem dolorosa de homens esquálidos, com a sua humanidade espezinhada. Já não há pudor ou vergonha a ser escondido, a nudez do corpo nada representa: a existência é que está desnuda, miseravelmente desnuda. Que em nossas vidas não estejamos diante de nós mesmos absolutamente desnudos da nossa humanidade, dos nossos sonhos e da nossa capacidade em transformar a nossa indignação em gestos concretos.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-54954506108349709292013-10-03T13:21:00.004-03:002013-10-03T13:21:55.246-03:00O BOBO-DA-CORTE E OS BOBO<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 18px; text-align: justify;">Perguntou ao bobo-da-corte:</span><br /><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">- "Por que és tão bobo? Tens necessidade de fazeres rirem de ti os outros?"</span></span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
O bobo-da-corte pôs-se a pensar demasiado e terminou por vituperar o indagante com não sei quantos impropérios. Depois, amuado, disse-lhe:</div>
</span><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
- "Minha essência é fazer os outros rirem de mim, de minhas pilhérias... Não fosse assim, bobo não seria, muito menos da corte r<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">eal. Afinal, passo o dia a me dedicar esforçadamente a construir tiradas para que se riem delas. A minha profissão é ser bobo, ora pois."</span></div>
</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
O indagante, então, sorriu com afeto. - "Mas e os livros que lês tão acotiadamente? Que fazes com tanta sabedoria de que és portador?"</div>
<div style="text-align: justify;">
O bobo-da-corte continuou amofinado.</div>
<div style="text-align: justify;">
_ "Meus conhecimentos são para mim mesmo. Não os quero partilhar, porque foram obtidos com os sacrifícios de horas de dedicadas leituras. Prefiro que os outros me conheçam pelos meus gracejos, não pelas minhas convicções ou pelos produtos das minhas meditações."</div>
<div style="text-align: justify;">
- "Ah! - ponderou o indagante -, tu preferes idiotizar os teus ouvintes e guardar os tesouros que adquiristes. Compreendi. Tu não és bobo coisa alguma; bobos são todos os que te ouvem e se riem em kkkkkkks e kikikikikis, deixando de ouvirem coisa de melhor proveito."</div>
<div style="text-align: justify;">
O bobo-da-corte piscou o olho e riu-se muito. O indagante, enfim, descobrira a lógica da coisa toda. O bobo-da-corte é profissional; os verdadeiros bobos são os desocupados que riem de qualquer chiste ou facécia, perdendo de se dedicarem a coisa de melhor proveito.</div>
</span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-19093200963779529402013-09-26T23:45:00.002-03:002013-09-26T23:46:28.939-03:00Depressão<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">Iam nuas as horas, andrajos postos ao lado, a alma sem vestígios de qualquer recato. Era consigo mesmo, sem que houvesse qualquer distração. No deserto em que andava, buscava a esperança que alimenta. Baldadamente. Porque não se pode encontrar nada quando deu-se por perdido de si mesmo.</span></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #37404e; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">Passos pesados, andar lento, a opressão do mundo às espaldas. Sentia-se desalentado, com escuras tonalid</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;">ades do dia a lhe tomarem a visão. A vontade de parar só não era maior que o desejo náufrago de debater-se até perder o resto das forças que ainda teimava em fazê-lo respirar ofegantemente. E sentia tudo girar. O mundo rodava sem chão.</span></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 18px;"><br /></span></div>
<span style="line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Gritou para si mesmo, porque voz não tinha. Segurou a cabeça entre as suas mãos, pedindo para descer da vida. Já não sentia o corpo, o tempo, as razões de viver... Tudo era desolação. "Salva-me! Salva-me!", repetia para si, como se estendesse a mão para alguém que não o via. As lágrimas molharam a sua sequidão; tudo era nada.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
No fundo labirinto de si mesmo ouviu distante uma voz chamando-lhe pelo nome, ofertando ajuda. Parecia-lhe tão longe, mas estava ali ao seu alcance. Abriu os olhos vermelhos. Pediu em um profundo soluço ajuda. Já não podia sair de si mesmo sozinho, tão grande a sua perda de sentido. E entregou-se à sorte. E deixou-se ajudar. Porque as suas forças secaram. E assim pode encontrar algo sólido onde firmar pela vez primeira os pés...</div>
</span></span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-75224969449276650912013-09-20T00:10:00.002-03:002013-09-20T00:10:56.186-03:00Papa Francisco, moral católica e flexibilidade<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">A visão latinoamericana é sempre mais flexível em relação aos valores morais. Somos, por assim dizer, mais condescendentes, menos afeitos à rigidez. Há um risco muito grande, portanto, quando olhamos o mundo a partir exclusivamente do nosso ponto de vista.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Parece-me que o Papa Francisco sofre um pouco desse mal vezo. Ao falar de modo flexível sobre temas caros à moral católica, como o aborto, por</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"> exemplo, que é a expressão mais eloquente do desrespeito à vida (que, intrauterina, não tem a possibilidade de autodefesa), o Papa passa uma ideia perigosa de sinal trocado, invitando a que, na vida privada, as pessoas deixem de fora justamente os preceitos religiosos que deveriam fazer vida e sob os quais deveria pautar os seu atos.<br /><br />Ao Papa é dado ser luz para os católicos e não-católicos. Mostrar acolhimento e compreensão aos pecadores (entre os quais todos nos incluímos como dado de fé; todos precisamos do gesto salvífico de Cristo na cruz!). Nada obstante, em temas morais, a flexibilidade que se pode conceder nos casos individuais, conforme as circunstâncias concretas, não corresponde àquela defendida como princípio universal. Exemplificando: a Igreja não admite relações homoafetivas, por princípio, porque o casamento é um sacramento destinado a homem e mulher. Não poderia a Igreja, sem trair o Evangelho, adotar sacramentalmente a união entre pessoas do mesmo sexo. É algo que refoge à moda, que pertence à palavra de Deus. A Igreja não pode dispor dos tesouros da fé, sendo apenas a sua guardiã. Esse é o princípio universal da moral católica.<br /><br />Isso, contudo, não implica em rejeitar os homossexuais. A Igreja pode até acolher casais homoafetivos que vivam uma relação sincera de amor, porém com acompanhamento pastoral e dentro de limites precisos: trata-se de uma relação que impede a vida sacramental, como ocorre, por exemplo, com os casais de segunda união. É dizer, a Igreja acolhe os seus filhos, porém sem abrir mão dos pontos cardinais da moral católica, baseada na tradição oral e escrita.<br /><br />É disso que o Papa Francisco fala, porém sem a necessária prudência de pastor do povo de Deus. Expõe uma flexibilidade admitida diante de situações concretas como princípio universal, o que é grave erro em um mundo sem um eixo de valores seguros em que vivemos. Cabe à Igreja o duro papel de ser luz do mundo e sal da terra; cabe à Igreja de Cristo a dura missão de pregar a palavra de Deus, mesmo quando nos recusamos a ouvi-la. Não foi assim, ao seu tempo, com Jeremias? (Jer 1,5-9: "Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações. Mas eu disse: "Ah! Senhor Iahweh, eis que eu não sei falar, porque sou ainda uma criança!" Mas Iahweh me disse: Não digas: "Eu sou ainda uma criança!" Porque a quem eu te enviar, irás, e o que eu te ordenar, falarás. Não temas diante deles, porque eu estou contigo para te salvar, oráculo de Iahweh. Então Iahweh estendeu a sua mão e tocou-me a boca. E Iahweh me disse: Eis que ponho as minhas palavras em tua boca.").<br /><br />Esse é o papel da Igreja: proclamar profeticamente a palavra de Deus. Ainda quando o mundo a rejeite. Ainda quando grupos de pressão a ataquem. Ainda quando os cristãos sejam perseguidos. Se a Igreja for pop, por certo estará traindo o Cristo Jesus. Ele que não foi pop, não veio para fazer sucesso e ser compreendido. Ele não quis se fazer compreender; quis antes de tudo converter.<br /><br />Falo sobre mim. Dou o meu testemunho. Em minha privada tenho falhado em face desses princípios da moral católica. Isso não me autoriza, porém, a dobrá-la à minha vontade, à minha conveniência. Já dizia o Senhor, através da boca de Isaías: "Com efeito, os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e os vossos caminhos não são os meus caminhos, oráculo de Iahweh." (Is 55, 9 ). Cumpre-me, então, sinceramente arrepender-me e buscar adequar a minha vida à palavra de Deus. É fácil? Evidente que não! Já o dizia São Paulo aos Romanos (Rm 7,19-20): "Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim".<br /><br />A Igreja que amo é a Igreja de Cristo! Não a igreja que que busca estar cheia, não a igreja que se converte ao mundo ou apregoa milagres a torto e a direito. A Igreja de Cristo é aquela que proclama a sua palavra e que a preserva, mesmo sendo incompreendida. Por isso, penso que o Papa Francisco, com a sua doce humildade, não pode dar sinais dúbios em matéria de fé e em matéria moral, porque pesam sobre os seus ombros dois mil anos de história e bilhões de fiéis.<br /><br />Amo Francisco, como meu pai na fé. É um sinal de humildade e pobreza. Mas há de ser também um sinal eloquente da fé católica em um mundo que não se cansa de dizer não a Deus.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-9348998786588876572013-08-18T20:45:00.001-03:002013-08-18T20:45:08.086-03:00Trabalho duro!<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Passo horas lendo, refletindo, debulhando livros. Porque para ser o melhor que posso ser é preciso muito TRABALHO DURO. O objetivo não é ser melhor do que os outros; é ser o meu melhor, o resultado dos meus esforços. Horas no silêncio. Horas sabendo que o mundo lá fora corre alucinadamente, enquanto eu estou aqui, sentado, os livros abertos...</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quantas vezes tenho a sensação de que estou perdendo tempo... Não raras vezes me vem uma ansiedade, uma vontade de estar na rua, de travar relações com as pessoas, de estar correndo o tempo todo como elas. Mas paro. Concentro-me. Há ainda muito TRABALHO DURO pela frente. Os livros densos fazem com que os leia página por página, linha por linha, sorvendo cada palavra como fossem o sumo da laranja que chupamos com sede ingente.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E a leitura mistura-se com a comparação com outros textos; articulamos ideias contrárias, pesamos os argumentos, caminhamos no meio de um sentido ou de outro e logo alcançamos uma nova forma de ver e um momento de suprassumir o que lá estava e se pôs para mim.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>(</i><u>Parêntese</u><i>: Dizia Hegel na Fenomenologia do Espírito: "O suprassumir ('</i>aufheben<i>') apresenta essa dupla significação verdadeira que vimos no negativo: é ao mesmo tempo um negar e um conservar. O nada, como nada disto, conserva a imediatez e é, ele próprio, sensível; porém é uma imediatez universal” (FE, p. 84, §113)").</i></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">TRABALHO DURO! Não há outro meio para o sucesso em qualquer área. Dedicação, esforço, empenho, coragem, paciência, perseverança, fé...</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Muitas vezes as pessoas perguntam: "Para quê isso?, por que tanto esforço?, por que razão tantas horas lendo?, por que investir tanto em livros?". Perguntam como a dizer: "Você está perdendo tempo!". Sim, as pessoas teimam em adjudicar aos nossos esforços a pecha de inutilidade, de excesso, de falta de senso. Por quê? Porque incomodamos. Saber o que se quer, saber para onde se vai simplesmente incomoda.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quantas vezes fui e sou tachado de arrogante, de orgulhoso, de pedante, de vaidoso? As pessoas rotulam o esforço, a perseverança. Em um mundo sem convicção, em que tudo é nada e nada é tudo, ter posição incomoda muito. É, pois, preciso ter coragem para ser o melhor que podemos ser. Ouvir menos os "conselhos" e as críticas alheias e estar mais atento ao desafio que se quer alcançar. E mui, muito TRABALHO DURO.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sugiro que assistam o vídeo abaixo. Vale a pena.</span><br />
<div>
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: center;">
<object height="360" id="player_14636925" width="480"><param value="true" name="allowfullscreen"/><param value="http://player.mais.uol.com.br/embed_v2.swf?mediaId=14636925&p=related" name="movie"/><param value="always" name="allowscriptaccess"/><param value="window" name="wmode"/><embed id="player_14636925" width="480" height="360" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" src="http://player.mais.uol.com.br/embed_v2.swf?mediaId=14636925&p=related" wmode="window" /></embed><noscript><a href="http://mais.uol.com.br/view/14636925">Motivação - Trabalho Duro (Legendado)</a></noscript></object></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-32032905706493035662013-08-18T19:30:00.004-03:002013-08-18T19:30:37.446-03:00Ser grande<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px;"><span style="margin: 0px; padding: 0px;">Nada mais humano do que as nossas limitações ou os nossos erros. Às vezes - por cupidez, orgulho ou vaidade - deixamos de fazer uma análise de quem somos, o reconhecimento sincero das nossas limitações e, não menos importante, as nossas virtudes.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px;"><span style="margin: 0px; padding: 0px;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px;"><span style="margin: 0px; padding: 0px;">Sim, uma boa autoanálise implica a compreensão do que temos de melhor e de pior; o que é a nossa fortaleza e quais são as nossas fragilidades; o que pode</span><span class="text_exposed_show" style="margin: 0px; padding: 0px;">mos crescer e o que já sabemos de antemão, não como desculpa mas com senso de realidade, o que está além de nós.</span></span><span style="background-color: white;"> À boca cheia ou à boca miúda, deixem que falem de nós. Convém por vezes escutar, se a é séria e quer o nosso crescimento. Porém não devemos pautar as nossas ações ou os nossos empreendimentos a partir das opiniões alheias, que mais das vezes nada mais são que um olhar invejoso ou rancoroso, decorrente das suas próprias frustrações ou limitações.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white;">Quem quiser ser grande, saiba-se sempre pronto a aprender, a ouvir e a defender com unhas e dentes as suas próprias convicções bem fundadas. Que não defendamos as nossas posições quando fundadas em base frágil, apenas por orgulho ou falta de humildade. Reconhecer o erro, rever a compreensão sobre um determinado tema, não é prova de incompetência nem de fragilidade; apenas os grandes conseguem mudar quando a mudança de pensamento é o razoável ou o correto, não para agradar a terceiros, mas por compromisso com a verdade e consigo mesmo. Sejamos simples. Simplicidade não é ausência de profundidade, porém. Simplicidade é ser profundo sem ornamentos ou arrivismos. É ter posição porque meditou sobre o tema, sem encapelações, mas com o desejo sincero de aprender e compreender.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white;">Os sábios são simples e profundos no pensar; o hermetismo no mais da vez esconde a fragilidade do pensamento e frágil honestidade intelectual do pensador. Por fim, saibamos que a vida é um dom e merece ser cuidada, levada a sério. É na vida que a nossa experiência se dá, que somos o que somos e podemos ser melhores a cada dia como pessoas. Levemos a sério, mas sabendo sorrir, brincar e, de quando em vez, deixar estar. Assim, saborearemos a aventura que somos nós.</span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-63964031086592946032013-08-18T19:28:00.004-03:002013-08-18T19:28:46.874-03:00Breves e soltas (VII)<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; text-align: justify;">I.</span><br style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;" /><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">Diante das frustrações que a vida a cotio nos oferece, diante das dores, não se espera que haja platitude, porém a capacidade de se reerguer, de encontrar em si mesmo a força para a busca da felicidade.</span><br style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;" /><br style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;" /><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">II.</span><br style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;" /><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">A felicidade não é um estado contínuo; é, na verdade, momentos de pequenas realizações. A felicidade definitiva apenas se obtém no encontro com Deus face a face. Do m</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">esmo modo, não há dor definitiva que não possa ser superada.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />III.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />"Infelizmente, por tais e tais razões acabou" é uma frase muito mais difícil do que dizer "eu te amo!" É que o começo é movido pela esperança; o fim, todo fim, é sempre uma história que se consumou ainda inacabada e que se encerra sem que haja amanhã possível.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />IV.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Os mandatos eletivos perderam legitimidade. O vazio de representatividade levou a população às ruas sem que houvesse uma pauta. Havia sobretudo um sentimento difuso pedindo mudanças. Os sindicatos e partidos que desejam tomar para si a legítima manifestação livre do povo são enganadores. Tentam manipular a expressão livre daquele sentimento difuso e genuíno.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />V.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />As associações de classe representam apenas a classe. São, na essência, corporativistas, têm espírito de corpo. No debate público sua legitimidade repousa justamente na sua parcialidade; não defendem outro interesse que não o privado da corporação que representam.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />VI.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />A sanção de aposentadoria compulsória é a adoção das férias remuneradas pelos malfeitos reconhecidos e transitados em julgado.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />VII.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />O Ministério Público é fundamental para a democracia e deve ser fortalecido, devendo ser mantido o seu poder investigativo, obviamente observados os marcos fixados na Constituição Federal.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />VIII.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Na República não há poderes ou órgãos acima do bloco da legalidade ou dos princípios e normas constitucionais. O controle social deve ser estimulado, diminuindo o corporativismo que protege maus agentes públicos investidos em carreiras de Estado.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />IX.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />É fundamental ampliar os poderes do Conselho Nacional do Ministério Público, retirando do Corregedor-Geral o poder de dar a última palavra sobre o arquivamento de processos disciplinares. Essa deve ser uma atribuição do pleno, com maior representatividade e menos influenciado pelo corporativismo. O Conselho Nacional de Justiça está bem mais à frente nesse ponto e merece aplausos.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />X.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Na República, os que ocupam carreira de Estado ou cargos públicos em geral devem ter prerrogativas, mas não devem ter privilégios. Essa é a lição que vem das ruas.</span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-35484591938152480632013-08-18T19:27:00.000-03:002013-08-18T19:27:01.176-03:00Destino<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px;">O destino é a desculpa que inventamos para o sucesso fácil ou para as nossas impotências. O fracasso, a incompetência, as impossibilidades, a covardia ou o medo não são destino nem sina: são realidades que nós mesmo criamos ou circunstâncias naturais da vida. Destino não se traça na maternidade; destino se constrói com as próprias mãos quando se acredita que, sim, nós podemos; sim, haveremos de lutar por nossos sonhos.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Todos os dias, ao acordar, devemos sempre dizer: "Mais um dia para eu construir o meu destino!".</span></div>
</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-53449583491623260502013-08-18T19:24:00.001-03:002013-08-18T19:24:17.271-03:00Breves e soltas (VI) <span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">I.</span><div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"> </span><span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Há decisões pessoais dolorosas que às vezes temos que tomar. Não raro o levar adiante indefinidamente certas situações da vida, mesmo que seja com a melhor das intenções, só retardará sofrimentos e dores que podem ser superadas mais rapidamente quando não há postergações.</span><div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"> </span><span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">II.</span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"> </span><span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">A verdade é sempre o melhor fundamento para as decisões. Quem se engana nas razões errará, com toda a certeza, nas conclusões.</span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">III. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Nem sempre o "é para sempre" sincero se converterá no "é para sempre" real. Entre a crença e a realidade, por vezes bastas, aparece um fosso intransponível de novas razões. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">IV. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">A dor do outro, que se quer bem, quando somos a sua causa, é dor sentida duplamente. Sobretudo se não somos insensíveis ou insinceros. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">V.</span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Diante da vida há que se ter coragem. Viver intensamente, agir com toda a verdade do seu ser, errar querendo acertar, corrigir depois de errar. A vida é para quem tem coragem e vontade de desafiá-la. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">VI. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">O sentido da vida não está no outro. Está em nós. Ninguém, por mais importante que seja, é o sentido da vida de alguém ou a razão última da felicidade. Somos nós mesmos os construtores da nossa história e do nosso futuro. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">VII.</span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">A frase "eu não sei viver sem você!" é uma negação de si mesmo. Viver é uma aventura da realização do eu. Por mais importante que alguém seja na sua vida, não será nunca a última razão do seu viver, da sua busca pela autorrealização. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">VIII. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Há quem se satisfaça com a infelicidade ou a dor do outro. Há quem se realize com o insucesso alheio e sinta um estranho prazer em dizer "eu não lhe disse!?). São pessoas de coração amargo, que não se realizam consigo mesmo. Seu prazer está na infelicidade alheia.</span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">IX. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Nem sempre a vida é uma estrada reta, sem percalços. Aliás, quase nunca é. Por isso, é curial ser indulgente com as suas intercorrências, se comprazer com os desatinos, buscando sinceramente acertar ou corrigir os erros. Só quem não vive a sua história não errou ou não se arrependeu. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">X. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Não tenho todas as respostas. As perguntas sempre pululam em mim. Se não sei responder, dou passos em frente, sempre querendo aprender. Dos meus erros, cuido eu. Se firo alguém, peço desculpas. Sou sinceramente um caminhante buscando a trilha correta. </span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">XI.</span></div>
<div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial; font-size: 15px;">Sê complacente. Nem tudo é absolutamente certo ou errado. A vida tem matizes que permitem interpretações diversas. Sê, então, humilde.</span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5313950064046403076.post-34800882884266387472013-07-17T18:13:00.001-03:002013-07-20T17:05:31.813-03:00Meu Pontes de Miranda<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; margin: 0px; padding: 0px;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="margin: 0px; padding: 0px;">Havia terminado o curso de Direito. Fazendo o Exame de Ordem vi no mural um pequeno aviso: um advogado vendia os 60 volumes do "<i>Tratado de direito privado"</i> de Pontes de Miranda. Fui para casa ansioso. Sabia que os servidores públicos estavam numa fase difícil, com atrasos de pagamentos. Comprar uma coleção daquelas não seria fácil. No jantar, comentei com o papai sobre aquela possibilidade. Ele sabia o quanto lia Pontes</span><span class="text_exposed_show" style="margin: 0px; padding: 0px;"> de Miranda, sempre através de cópias ou empréstimos.</span></span></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; margin: 0px; padding: 0px;"><span class="text_exposed_show" style="margin: 0px; padding: 0px;">Era eu pontesiano, estudando com profundo interesse o pensamento genial do jurista alagoano, um dos maiores gênios que as letras jurídicas produziram.</span></span><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Eu, é certo, vinha me esforçando para comprar meus livros sem espremer tanto o orçamento lá de casa. Afinal, era frequentador assíduo da extinta livraria Caetés, onde comprava excessivamente livros, jurídicos ou não. Certo mês, o papai me chamou a atenção, porque fiz gastos elevados demais: "Filho, estude, compre seus livros, mas combine antes, porque vocês são quatro filhos. Assim, você desestrutura o orçamento de casa".</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">De fato, a minha avidez precisava ser ponderada. Para não deixar de comprar meus livros sem prejudicar os outros irmãos, encontrei uma solução: dar aulas de reforço a meninos e meninas da minha rua. E foi assim que virei professor de matemática (matéria que detestava), ensinando alunos em apuros, com baixo aproveitamento. Seis meses assim, que me renderam dinheiro para torrar em livros. E - que bom! - meus alunos passaram de ano com boas notas.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Bem, mas comprar a obra de Pontes de Miranda estava além das minhas possibilidades. Já gastava com livros a minha mesada, o dinheiro que ganhava dando aulas e o que mais os meus pais davam para pagar outros livros que eu comprava. Aliás, eu andava sem dinheiro. Tudo era para livros. A minha namorada, quando saíamos, era quem pagava a conta. Ela já sabia desse pequeno detalhe...</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Diante da possibilidade de dispor daquela obra e da minha dedicação, o papai me olhou e disse que iria comigo ver o dono da coleção de Pontes de Miranda. Fiquei numa expectativa absurda. Quase não dormi. E fomos lá, juntos, no dia seguinte. A coleção era muito conservada; os livros, pensei eu, nunca foram abertos e lidos. O papai tentou negociar. O advogado, dono do "</span><i style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tratado</i><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">", mostrou-se irredutível. Precisava do dinheiro e não abria mão do valor. Conversa vai, conversa bem, ele fez a seguinte proposta ao papai: "O sr. leva o </span><i style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tratado </i><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">por esse valor e eu cedo, sem custos adicionais, esses outros livros", disse, apontando para uma outra obra de Pontes de Miranda, 17 tomos, os "</span><i style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Comentários ao Código de Processo Civil"</i><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Fiquei doido! Querias muito também aquela obra. O papai me fitou. Viu o brilho nos meus olhos. Não me perguntou nada. Minha expressão dizia-lhe tudo. Ele virou-se para o advogado e concordou. Comprou os livros, realizando o meu sonho. Lembro-me, não sem emoção, daquele momento: levando os livros para o carro, colocando-os na mala, ao ponto de enchê-la: 60 tomos do "</span><i style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tratado de direito privado</i><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">" e mais 17 dos "</span><i style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Comentários ao Código de Processo Civil</i><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">". E o advogado, querendo livrar-se dos livros da sua biblioteca, ainda me deu algumas outras boas obras, que me servem até hoje.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Foi um sonho. Arrumar aqueles livros em estantes compradas para recebê-los, passar a ler as obras podendo riscá-las, fazendo anotações. Uma alegria imensa. E essas obras ainda hoje são lidas, consultadas, fazendo parte da minha formação intelectual. Foi estudando Pontes que pude criar minha teoria da inelegibilidade.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Bem, aquele esforço do papai, naquele momento difícil, foi fundamental para a minha formação. Achavam, ele e a mamãe, que eu me excedia com tanta leitura e livros, mesmo tendo sido essa a educação que deram. Mas eu era demais da conta; virava noites lendo. Mesmo sem entender, apoiaram, porque a causa era justa. E foi por causa deles que pude me desenvolver intelectualmente. Lembrei dessa história hoje e quis compartilhar. Sou grato demais aos dois, que me deram tudo o que precisava para ser gente e ter valores.</span></div>
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