Em nossa sociedade há os "homens-coisas", pessoas que não são pessoas, cujos pensamentos, opiniões, modo de vida, a própria existência, inclusive, não interessam. Coisificados, são objetos que se movem sem alma, sem valor, sem que nos demos conta da sua presença. Estão ali como a mobília, o banco da praça, o carro estacionado, o poste que ilumina... Estão ali, apenas. Compõem a paisagem, sendo um pano de fundo presente, mas sem importância, como um galho em um quadro que representa o nascer do sol em uma floresta. O galho está ali, mas nem nos damos conta dele, porque interessa o sol, os seus raios alaranjados, a floresta como um todo imponente. O galho é apenas isso, está ali para compor o todo, mas sem importância.
O "homem-coisa" é o homem objetificado, como o personagem vivido por Richard Harris, no clássico filme "O Homem Chamado Cavalo". No filme, o ator vive John Morgan, um inglês aristocrático, capturado por uma tribo da nação Sioux, quando participava de uma expedição. É tratado desde o início pelos índios como um animal de carga, um bicho qualquer, sem relevo. Depois de um tempo é colocado para trabalhar com as mulheres da tribo, para ajudá-las em seus afazeres domésticos. Usado como alvo para as crianças da tribo jogassem as suas lanças, já no limite extremo da experiência de humilhação, grita para a tribo aquilo que muitos gostariam de gritar em nossa sociedade: "I´m not a horse; i'm not an animal!!!".
Lembrei-me dessa passagem do filme (quem quiser assistir essa cena, veja aqui), ao me deparar com uma infeliz afirmação do jornalista Boris Casoy, em um áudio vazado no intervalo do Jornal da Band do último dia do ano, que expressa o que de fato muitos pensam. Diante do vídeo do jornal, em que dois garis desejam ano novo a todos, Casoy saca a seguinte frase: ""Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho". Isso mesmo, para Casoy a presença de garis desejando feliz ano novo não era digno do Jornal da Band nem dos seus telespectadores.
Depois da repercussão negativa à frase, Casoy afirmou ter errado, dizendo que ""Foi um erro. Vazou, era intervalo e supostamente os microfones estavam desligados. Errei mesmo. Falei uma bobagem, falei uma frase infeliz. E vou pedir desculpas". Não se trata, porém, da manifestação do erro reconhecido após a repercussão, mas dos valores que impregnaram a frase, a visão negativa daqueles homens, do alto das suas vassouras, desejando feliz ano novo, justamente porque estão no mais baixo na escala do trabalho. Seriam indignos pelo trabalho que executam, por limparem as ruas e as sujeiras. Seriam coisas, pessoas de menor valor, cuja presença no vídeo enfeiaria o Jornal, ou cuja opinião ou felicitação nada importaria para as pessoas que estariam assistindo.
Casoy nos deu uma triste lição de até onde a nossa arrogância e a nossa presunção podem nos levar. Nos ensinou como podemos nos achar importantes demais perante os outros, apenas pela nossa situação econômica e social, perdendo de vista algo tão importante, por exemplo, para os cristãos: cada pessoa é única, é criação desejada por um Pai amoroso. Somos todos criaturas de Deus, nascendo a nossa dignidade humana dessa fonte que a todos equipara, independentemente do trabalho, da condição social, de portar ou não uma vassoura.
Vendo o orgulho desses dois garis, posso então desejar a todos um feliz ano novo, com fé, amor, tolerância e compreensão.
Consegue vê o castigo? Quantas vezes o erro técnico acontece nesse jornal? Quantas vezes os microfones dos apresentadores não são desligados no momento em que se vai ao comercial? Às vezes, nossas próprias energias negativas conspiram contra nós mesmos. É o tributo que cobram: a vergonha. Pobre Boris. Será que se a ele fosse feito a seguinte proposta: pega uma vassoura e varre o chão; se puderes fazer isso, podereis voltar no tempo para limpar a sujeira que fizeste – ele a aceitaria? Pedir desculpas é a melhor maneira de não piorar a situação, pois isso não limpa, não varre nada, a sujeira fica suspensa no ar...
ResponderExcluirpor falar em comportamento e conduta o q acha do juiz q bateu na namorada agrediu com baixo calão jornalistas e já se meteu em confusão na amélia rosa no ano passado? num serve nem pra juiz de futebol um cidadao desse!!!
ResponderExcluir