sexta-feira, 31 de julho de 2009

Os números? Ora, os números...

Não vou priorizar aqui o debate sobre greves, até porque estou fora do governo. Mas tem coisas que merecem uma reflexão. Vejam só: o governador Teotônio Vilela propôs que a CUT indicasse uma auditoria das contas do governo, deixando claro que o buraco financeiro é real e existe mesmo. Bem, os dirigentes da CUT não são bobos. Sabem que essas contas foram recentemente auditadas pelo Banco Mundial e que o quadro é péssimo, ainda mais com a redução do FPM, que está estrangulando o governo. Qual a saída, então, àquela proposta? Conta-nos Ricardo Mota:
O presidente da CUT, Isac Jackson, disse que a proposta apresentada pelo governador Teotônio Vilela, para que a entidade e o Sinteal façam uma auditoria nas contas do Estado, “só faz atrapalhar” o diálogo com as entidades sindicais. Ele afirmou que quem deve fazer essa auditoria são o Tribunal de Contas e o Ministério Público. “Na ótica que está sendo apresentada a proposta, como um desafio ao movimento sindical, só dificulta a relação com o governo”. A CUT, segundo o seu presidente, topa o debate sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal e a data base de cada categoria de servidores “sem a maquiagem dos números”. Isac Jackson disse, também, que apesar de dispor dos técnicos do DIEESE – ligado ao movimento sindical – a proposta de auditoria não será aceita “porque não facilita a discussão com a base”.
Na verdade, a proposta serena feita pelo governador transformou-se em desafio que atrapalha, porque não facilita a discussão com a base. E por que não facilita? Porque a base não quer ver os números, nem argumentos, nem o império da razão. Na lógica da CUT, iniciada uma greve haverá de ter um aumento, ainda pequeno, pouco importa haja ou não dinheiro. Ora, mas essa lógica haverá de ser quebrada: não há dinheiro, não havendo aumentos. E o governador, por mais que queira dar (a sua personalidade tende sempre à convergência, ao pacto, a concessões), não poderá fazê-lo, por razões óbvias: a) Alagoas está na fronteira da Lei de Responsabilidade Fiscal, com risco real de não receber mais verbas públicas federais; b) o Fisco está em greve, não aceitando a concessão de aumentos a outras categorias sem que se resolva primeiro a situação deles (é a filosofia do "meu pirão primeiro"); e c) aumentar os servidores ativos (verba Fundeb) implica aumentar os inativos (receita própria). Nessa toada, o governo, ainda que quisesse, não poderia ceder um milímetro sequer.

Na verdade, os líderes sindicais sabem que entraram numa fria: o SINTEAL não tem discurso nem mobilização suficientes a essa altura. A agenda da greve, na verdade, foi precipitada em razão das eleições internas do sindicato, de modo que vai se arrastar até lá, com enorme desgaste para eles, desta vez.

Agora, cá para nós: essa estratégia do governo está errada. Ficar falando em auditoria e quejandos é repetir o discurso das greves anteriores. Todo mundo sabe dos números e da situação difícil por que passa o Estado. O melhor caminho, segundo penso, era desnudar publicamente a situação da educação do Estado: crianças com o currículo escolar "banguelo", como são chamados aqueles em que o aluno saiu passando de ano sem cumprir a grade curricular inteira; evasão escolar; repetência elevada... Enfim, aumentos e mais aumentos foram dados, mas a estrutura educacional não funciona, as greves prejudicam e acentuam o cenário.

Então, como diz o meu caro Isac, pra que discutir números?

Um comentário:

  1. Parabéns pelo comentário, Adriano. E falo como professor da rede pública que não concorda com essa greve, a meu ver mero artifício desonesto do PT e da CUT.

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