quarta-feira, 15 de julho de 2009

MP vs. PC

Falei do esgarçamento das instituições em Alagoas. Pois bem. A promotora Marluce Falcão concedeu hoje uma entrevista coletiva, em que não apenas sustentou a sua inocência, como desqualificou as investigações da Polícia Civil e apresentou um preocupante versão: a testemunha Antônio Wendel Melo Guarnieri, que ela teria supostamente tentando coagir (trata-se do caso "Gil Bolinha", que teria levado a ser decretada a prisão do marido dela, advogado Pastor Saulo), teria sido contratado para participar do homicídio do combativo juiz de Direito, Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira.

O jornalista Ricardo Mota faz um relato desse imbróglio em seu blog (que lamentavelmente não possui um link próprio para o post), expondo o seguinte: "Pelo relato que a promotora apresentou ao procurador Eduardo Tavares, Wendel teria recebido R$ 20 mil, uma motocicleta e duas pistolas para cometer o crime de encomenda. Só que ele estaria temendo ser morto, porque uma outra pessoa, contratada para a empreitada criminosa, teria recebido parte do dinheiro, mas fugiu ao saber quem seria o alvo a ser atingido. O juiz Marcelo Tadeu, que estava bem próximo ao local do crime poderia ser a vítima do homicídio, desconfia ele. O magistrado contou que ouviu um funcionário da farmácia onde ele estava no momento, que um dos pistoleiros – eram dois – teria afirmado que eles haviam matado 'a pessoa errada'. Detalhe: o magistrado, testemunha do crime, não chegou a ser ouvido formalmente pela polícia. Ele procurou a direção geral da PC, que trabalha com a versão de que o crime foi passional".

Como se pode ver, a história é intrincada e problemática, porque põe em rota de colisão o Ministério Público e a Polícia Civil, ambas instituições extremamente corporativas. Marluce apresentou gravações das conversas telefônicas que teria mantido com a testemunha chave do caso, com conteúdo diverso daquele que teria levado a cúpula da Polícia Civil ter pedido a sua prisão. Mais ainda: tenta demonstrar que a linha de investigação do assassinato do advogado mineiro Nedson de Freitas, ocorrido na noite de 3 de julho, na Mangabeiras, não teria sido passional, mas sim um erro de destinatário: o que se queria mesmo era ceifar a vida de um magistrado.

Nessa confusão toda, não haverá como se chegar a um meio termo: alguém está mentindo, há um conflito gravíssimo de versões e, no final das contas, haverá de se pôr à luz do dia a incômoda verdade. O certo é que o Ministério Público haverá de se pronunciar sobre a questão, bem como a cúpula da Polícia Civil. A acomodação, ao final, apenas deixará no ar uma história estranha e uma suspeição generalizada.

Atualização: 18h44 do dia 15 de julho de 2009.

No blog do Odilon (aqui), o juiz Marcelo Tadeu dá a sua versão do assassinato do advogado mineiro, que, suspeita-se hoje, teria morrido em seu lugar. Segue o texto do jornalista Odilon Rios em itálico. Notem que essa história gera um grande embolado, é grave e, tanto pior, não se sabe porque não vieram essas suspeitas, anteriormente, à luz do dia:

UM CRIME

Assim contou o juiz: era sexta-feira, 3 de julho, quando ele cruzou com o advogado mineiro. Não se conheciam. Instantes depois ouviu os tiros. Nedson de Freitas estava morto.

No sábado, Tadeu ligou para o secretário de Defesa Social, Paulo Rubim. O juiz disse ter falado com pessoas, que trabalham próximo ao local do crime. Ouviu de pessoas da região que os criminosos atiraram no advogado e um deles disse ser engano. “Foi engano, foi engano”, descreveu o magistrado: “A primeira bala bateu na perna. Isso para a vítima cair. Eles perceberam que era a pessoa errada. Mas, tinham que continuar atirando para matar”, explicou.

Correram as investigações. Testemunha do crime, o juiz não foi ouvido pelo delegado Paulo Cerqueira, responsável pelo inquérito. Vieram novas informações. Uma calça e uma camisa, usadas pelo advogado, eram semelhantes a de Marcelo Tadeu no dia da execução. “Comecei a duvidar que o crime era passional”.

Prestando solidariedade à promotora Marluce Falcão, a esta altura acusada de coação de testemunha no caso Gil Bolinha, surge um outro pedaço da história. Antônio Wendel Melo Guarnieri, que recebeu o benefício da delação premiada por denunciar integrantes de uma quadrilha de assaltos a banco- da qual ele fazia parte- no Maranhão, havia dado um depoimento, em poder da 17ª Vara, que investiga o crime organizado alagoano, ter sido contratado para matar uma autoridade alagoana, que mora na praia. Recebeu uma moto, duas pistolas 1.40 e R$ 20 mil.

As balas que mataram o advogado eram de pistola 1.40. Testemunhas afirmam ter visto uma moto no local do crime. Marcelo Tadeu estava no local do crime. E ele mora na praia.

“E fiquei preocupado pelo valor: R$ 20 mil, preço de execução de juiz. Pessoa rafamé custa R$ 1.000”, contou Tadeu. Ele falou a promotora Marluce Falcão da outra peça do quebra-cabeças da história. No depoimento, Wendel diz que ao falar quem seria a autoridade (a testemunha não diz quem é), um comparsa teria fugido. “Como sou conhecido por ser pai dos presos, acho que o outro ficou com medo e fugiu”.

“Quero ter a certeza que o crime foi passional e saber quem foi e todos os detalhes. Para mim, a investigação tem buracos”, disse Tadeu.

Contactada pelo blog, Marluce Falcão confirmou a conversa com Marcelo Tadeu e os detalhes, colhidos pelo blog. E a versão contada pela testemunha, valores, motos e armas. “Mas, por uma questão ética não posso dar os detalhes porque tudo corre em segredo de justiça”.

“Não quero distribuir acusações, mas a polícia está se baseando em um depoimento de um acusado em crimes para me incriminar. Na semana passada, a polícia civil me condecorou com uma medalha, reconhecendo meu trabalho. E agora?”, disse a promotora. Ela aparentava tranqüilidade, na conversa por telefone na manhã desta quarta-feira.

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