terça-feira, 14 de julho de 2009

Macunaíma somos nós

Alagoas vive um processo delicado de esgarçamento das suas instituições. A Assembleia Legislativa foi devassada por uma operação da Polícia Federal, que resultou no afastamento de nove deputados estaduais por decisão liminar do Poder Judiciário. Apenas depois de mais de um ano, é que os parlamentares retornaram aos mandatos, através de uma decisão monocrática do Min. Gilmar Mendes, em sede de Suspensão de Liminar, que averbou uma obviedade negada por todo esse tempo: não pode um parlamentar ser afastado do seu mandato por decisão precária, concedida liminarmente por um juiz de primeiro ou segundo grau (sobre essa decisão do STF, vide aqui).

O Poder Judiciário, por sua vez, aguarda o relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a sua inspeção local. Afora a decisão que considerou ilegal aumentos concedidos aos juízes, que já causou alguns estragos, espera-se que o relatório a ser publicado seja devastador, afastando magistrados das suas funções e apontando mal-feitos com o dinheiro público. Isso trará consequências ruins para a instituição, tocando em suas delicadas feridas íntimas.

Agora, assiste-se a Polícia Civil pedir a prisão de uma promotora pública, Marlene Falcão, que foi integrante do GCOC - Grupo de Combate às Organizações Criminosas há pouco tempo. Motivo: teria tentado coagir uma testemunha importante, em um caso cabeludo envolvendo o seu marido, advogado conhecido como Pastor Saulo (vide aqui).

Para onde quer que se olhe, vemos uma crise simbólica nas nossas instituições, com gravíssimas consequências para uma sociedade cada vez mais perplexa e descrente. De outro lado, o tal (ridículo) MSCC - Movimento Social de Combate à Corrupção, com a sua nenhuma representativa e a sua indecorosa omissão em relação à situação de deputado petista flagrado na Taturana, agora se manifesta no sentido de fazer... manifestações. As tais manifestações no sentido de que vai se manifestar é patética, se mais não for, porque simplesmente ninguém lhe segue em nada, a não ser índios e sem-terras domesticados pela CUT.

Estamos nos despendindo de nós mesmos. A sociedade alagoana é apenas e tão-somente um espectador de tudo, aboletada em suas casas como se isso não lhe dissesse respeito. Alguns abobalhados ainda se ocupam de blogs para fazer comentários desairosos contra tudo e contra todos, sob o pálio de pseudônimos e termos vulgares.

Enquanto isso, vemos juízes, promotores, parlamentares e quejandos entrando em fila no paredão das denúncias e acusações, o cínico riso de muitos e a frase que diz, repetidas vezes, "somos todos iguais". Se assim é, então, que nos locupletemos todos, advogam alguns. E as hienas riem dessa bagunça que virou o nosso Estado, dessa desvalorização das instituições e da sensação de que não restará ninguém para apagar a luz quando tudo desabar...

Somos um povo sem alma e macunaíma, lamentavelmente.

2 comentários:

  1. Boa noite Dr.Adriano! Gostaria de parabenizá-lo pelo blog, espaço importante diante de tantas realidades. Quanto ao texto postado"Macunaíma somos nós", realmente é lamentável a posição da sociedade, tão alheia diante dos estragos feitos pelos "aproveitadores".Agora gostaria de fazer uma consideração, quanto ao trecho sobre o MSCC, não o vejo como "ridículo", pois sua representatividade é feita em sua maioria pelos movimentos sociais,em virtude da covardia daqueles que só pensam em si próprio,envoltos pela individualidade...Percebo diante das manifestações o empenho daqueles"que deixam seus municipios em busca de algo coletivo".Devemos enxergar a grandeza dos pequenos atos, quando estes são dotados daqueles que lutam por uma sociedade mais justa.Não faço aqui nenhuma demagogia,apenas reconheço as pequenas coisas feitas por pessoas tão menos favorecidas da sociedade ,mas que nem por isso atuam como coadjunvantes.Abraço fraterno e com enorme gratidão, na certeza que este espaço respeita a liberdade de expressão, além da ética e visão cristã,tão pálpavel do Dr. Adriano que com certeza saberá dá valor àqueles que não ficam de braços cruzados.

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  2. Daniela, o MSCC não tem representatividade. A sua atuação tem sido partidarizada, porque com raras exceções os seus líderes são ligados ao PT e a CUT, por isso não se manifestaram em relação aos empréstimos tomados pelo Paulão (PT). Aliás, por isso o movimento rachou e perder a credibilidade. Agora, noves fora, a sociedade alagoana é silenciosa e omissa, razão pela qual não houve reação social alguma, fora aquelas manifestações anônimas em blogs e quejandos. Essa a razão da crítica feita aqui.

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