A greve geral da educação vem aí. Na matéria postada por Célio Gomes, fotos da reunião do novo secretário estadual da Educação com os velhos dirigentes sindicais (aqui). Se fôssemos fazer um fotogaleria das greves dos últimos dez anos da educação, veríamos diversos secretários negociando com os mesmos sindicalistas. Algo de impressionante.
Com a experiência de ter participado de diversas mesas de negociação, proponho aqui A" Arte da Guerra do Sindicalismo à Manguaba - em 10 Proposições," com apontamentos sobre o eterno modus operandi do nosso movimento sindical.
Proposição 1: O líder sindical deve insuflar a sua base, convencendo-as de necessidades que ela não possui ou possui de modo mitigado. Com isso ele mostra a sua importância e evita que terceiros se apropriem do seu papel.
Proposição 2: Estimular a realização de paralisações ou greves. Sem elas, o sindicalista passa a ser uma figura sem importância e sem causa. As greves são essenciais para manter o líder em evidência.
Proposição 3: O líder sindical deve esmagar a oposição dentro do sindicato. Se aparecer líderes radicais, o líder no poder deve ser mais radical e incendiário, minando o discurso do oponente. Ao mesmo tempo, deve o líder sindical distribuir favores aos seus pares estratégicos, evitando perder o poder.
Proposição 4: Estabelecida a greve, deve o líder sindical constituir uma comissão do sindicato para negociar. Apenas devem participar as pessoas do seu grupo político, evitando o aparecimento de novas lideranças.
Proposição 5: Aberta a negociação com o governo, o líder sindical deve logo observar até onde vai o poder decisório e a vontade política do negociador. Se o negociador tiver vontade política, mas não tiver poder, deve o líder sindical preservá-lo no processo negocial, encontrando imediatamente um bode expiatório responsável pela ausência de avanços na negociação. A isso, denomino "Jogo do Anjo X Demônio". Identificar o entrave é fundamental para sobre ele jogar a culpa pessoal pelo insucesso nos resultados. Quem quer ceder é "bonzinho"; quem quer negociar racionalmente com os números e as possibilidades é "o lúcifer". Esse procedimento é fundamental para dividir o inimigo, fragilizando a posição dos setores menos flexíveis ao atendimento dos pleitos da categoria.
(Esse jogo é frequente e no governo sempre tem quem ainda caia nessa roubada. Na greve dos médicos, por exemplo, virei eu o demônio, enquanto outros se apresentaram como anjos, fragilizando a posição do Governo em mesas paralelas de negociação. Por vezes, o próprio Governador é enredado nesse jogo, porque não faltam amigos que aparecem com as mais variadas sugestões, soluções e milagres. Quando isso ocorre, o sindicato consegue fragilizar o negociador e obter sucesso. Na greve da educação, o demônio era o Maurício Toledo, secretário adjunto da Fazenda. Esse jogo é velho e inteligente, mas ainda há pessoas que caem nele).
Proposição 6: Esticar a corda até o limite, flexionando apenas quando sentir que as suas bases estão começando a claudicar. O líder sindical apenas deve recuar quando correr o risco de ficar sozinho na luta, pondo a sua liderança em risco. Ao primeiro sinal de cansaço da base, o líder sindical começa a flexionar, mas sempre deixando a decisão para ser tomada coletivamente.
Proposição 7: As mesas de negociação devem ser longas, criando a impressão na base que as conversas são produtivas e que há chances de sucesso na greve. A tática usada pelos sindicatos é levar muita gente para as reuniões, cada um pedindo a palavra para dizer muitas vezes a mesma coisa. Com isso, uma reunião que poderia durar 10 ou 15 minutos dura longas 2 ou 3 horas. A base fica aguardando do lado de fora, imaginando discussões técnicas, avanços, caminhos. Muitas vezes, as reuniões são vazias, com idas e vindas, circunlóquios cansativos, inutilidades.
(Na foto da matéria do Blog do Célio Gomes, vemos o secretário cercado de ao menos cinco dirigentes sindicais. Todos ali pedem a palavra sucessivamente, de modo que a reunião se alonga interminavelmente, dando esperança à base que espera na frente da secretaria. Todavia, os que estão na mesa sabem onde a reunião vai dar: em nada!).
Proposição 8: Nas reuniões maiores com os negociadores do governo (sobretudo se for com o Governador), deve ser levado um técnico que fale sobre os números, um servidor que faça um discurso emocionado e - se possível - chore ou faça chorar, e alguns parlamentares ligados ao sindicato, que tirarão proveito político se houver avanços.
Proposição 9: Quando houver impasse grave nas negociações, devem os líderes sindicais procurar interlocutores alternativos por diversionismo e para produzir notícias, evitando que a greve caia no esquecimento e as bases se enfraqueçam. É o que chamo de "Momento do Passeio".
(Em Alagoas, é comum que os líderes sindicais procurem o chefe do Ministério Público, a presidência do Poder Legislativo, a presidência do Poder Judiciário e qualquer um que tope recebê-los e que possa gerar notícias).
Proposição 10: Durante a greve, o líder sindical deve criar eventos para esquentar o clima e animar a base do sindicato. Se necessário, usando os sem-terras, os índios e o outros sindicatos. Uns ajudam os outros, uns engrossam o movimento dos outros, e assim todos podem sair ganhando.
Com a experiência de ter participado de diversas mesas de negociação, proponho aqui A" Arte da Guerra do Sindicalismo à Manguaba - em 10 Proposições," com apontamentos sobre o eterno modus operandi do nosso movimento sindical.
Proposição 1: O líder sindical deve insuflar a sua base, convencendo-as de necessidades que ela não possui ou possui de modo mitigado. Com isso ele mostra a sua importância e evita que terceiros se apropriem do seu papel.
Proposição 2: Estimular a realização de paralisações ou greves. Sem elas, o sindicalista passa a ser uma figura sem importância e sem causa. As greves são essenciais para manter o líder em evidência.
Proposição 3: O líder sindical deve esmagar a oposição dentro do sindicato. Se aparecer líderes radicais, o líder no poder deve ser mais radical e incendiário, minando o discurso do oponente. Ao mesmo tempo, deve o líder sindical distribuir favores aos seus pares estratégicos, evitando perder o poder.
Proposição 4: Estabelecida a greve, deve o líder sindical constituir uma comissão do sindicato para negociar. Apenas devem participar as pessoas do seu grupo político, evitando o aparecimento de novas lideranças.
Proposição 5: Aberta a negociação com o governo, o líder sindical deve logo observar até onde vai o poder decisório e a vontade política do negociador. Se o negociador tiver vontade política, mas não tiver poder, deve o líder sindical preservá-lo no processo negocial, encontrando imediatamente um bode expiatório responsável pela ausência de avanços na negociação. A isso, denomino "Jogo do Anjo X Demônio". Identificar o entrave é fundamental para sobre ele jogar a culpa pessoal pelo insucesso nos resultados. Quem quer ceder é "bonzinho"; quem quer negociar racionalmente com os números e as possibilidades é "o lúcifer". Esse procedimento é fundamental para dividir o inimigo, fragilizando a posição dos setores menos flexíveis ao atendimento dos pleitos da categoria.
(Esse jogo é frequente e no governo sempre tem quem ainda caia nessa roubada. Na greve dos médicos, por exemplo, virei eu o demônio, enquanto outros se apresentaram como anjos, fragilizando a posição do Governo em mesas paralelas de negociação. Por vezes, o próprio Governador é enredado nesse jogo, porque não faltam amigos que aparecem com as mais variadas sugestões, soluções e milagres. Quando isso ocorre, o sindicato consegue fragilizar o negociador e obter sucesso. Na greve da educação, o demônio era o Maurício Toledo, secretário adjunto da Fazenda. Esse jogo é velho e inteligente, mas ainda há pessoas que caem nele).
Proposição 6: Esticar a corda até o limite, flexionando apenas quando sentir que as suas bases estão começando a claudicar. O líder sindical apenas deve recuar quando correr o risco de ficar sozinho na luta, pondo a sua liderança em risco. Ao primeiro sinal de cansaço da base, o líder sindical começa a flexionar, mas sempre deixando a decisão para ser tomada coletivamente.
Proposição 7: As mesas de negociação devem ser longas, criando a impressão na base que as conversas são produtivas e que há chances de sucesso na greve. A tática usada pelos sindicatos é levar muita gente para as reuniões, cada um pedindo a palavra para dizer muitas vezes a mesma coisa. Com isso, uma reunião que poderia durar 10 ou 15 minutos dura longas 2 ou 3 horas. A base fica aguardando do lado de fora, imaginando discussões técnicas, avanços, caminhos. Muitas vezes, as reuniões são vazias, com idas e vindas, circunlóquios cansativos, inutilidades.
(Na foto da matéria do Blog do Célio Gomes, vemos o secretário cercado de ao menos cinco dirigentes sindicais. Todos ali pedem a palavra sucessivamente, de modo que a reunião se alonga interminavelmente, dando esperança à base que espera na frente da secretaria. Todavia, os que estão na mesa sabem onde a reunião vai dar: em nada!).
Proposição 8: Nas reuniões maiores com os negociadores do governo (sobretudo se for com o Governador), deve ser levado um técnico que fale sobre os números, um servidor que faça um discurso emocionado e - se possível - chore ou faça chorar, e alguns parlamentares ligados ao sindicato, que tirarão proveito político se houver avanços.
Proposição 9: Quando houver impasse grave nas negociações, devem os líderes sindicais procurar interlocutores alternativos por diversionismo e para produzir notícias, evitando que a greve caia no esquecimento e as bases se enfraqueçam. É o que chamo de "Momento do Passeio".
(Em Alagoas, é comum que os líderes sindicais procurem o chefe do Ministério Público, a presidência do Poder Legislativo, a presidência do Poder Judiciário e qualquer um que tope recebê-los e que possa gerar notícias).
Proposição 10: Durante a greve, o líder sindical deve criar eventos para esquentar o clima e animar a base do sindicato. Se necessário, usando os sem-terras, os índios e o outros sindicatos. Uns ajudam os outros, uns engrossam o movimento dos outros, e assim todos podem sair ganhando.
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O meio de se combater esse método dos sindicatos é simples, mas requer disciplina. Proponho aqui alguns encaminhamentos:- Liderança: o líder deve saber o que quer e determinar aos seus comandados qual caminho tomar.
- Unidade: a equipe de governo deve estar unida e observar a voz de comando, evitando a formação de divisões internas.
- Respeito ao negociador: apenas quem negocia é o negociador. Não podem existir canais paralelos de negociação, de modo que o sindicato não encontre meios de dividir a equipe de governo. Para isso, porém, é fundamental o papel da liderança, que não permitirá tratar da greve sem ser através do negociador.
- Credibilidade: o negociador deve ter uma postura séria, sem escamotear as suas intenções.
- O que pode, pode; o que não pode, não pode: o negociador deve conduzir habilmente o processo negocial, flexibilizando o que puder e sendo inflexível no que for essencial. Se precisar esticar a corda, deve fazê-lo implacavelmente, chegando ao limite extremo de demissões exemplares. Negociar indefinidamente pode ser combustível para a greve e para as lideranças sindicais.
concordo com grande parte do que esta escrito acima, sindicalistas são nada mais nada menos que pessoas politicas com politicagens.
ResponderExcluirmas também temos o outro lado, eu como Agente Penitenciário, posso exemplificar pela nossa categoria. Esse tipo de politicagem dos sindicalistas não fica bem mais facil de ser realizada, quando uma categoria fica 4 anos sem aumento? quando essa mesma categoria entra com salario igual ao policial civil e maior que o soldado da policia militar e depois dos 4 anos ganha a metade de um soldado? quando em um acordo assinado por pelo menos 4 secretários ou representantes do governo de 31% de reajuste não é mantido? sou eleitor do PSDB, pois gosto de suas politicas, votei no Téo no primeiro mandato, me arrependi, mas nessa eleição decidi novamente votar nele, não porque o considere bom, acho ele o menos pior, ele pelo menos parece estar fazendo algo de bom para o estado em geral, mas foi pessimo para o servidor, fico desapontado principalmente pelo meu cargo, entramos por concurso e estamos cada vez mais moralizando o sistema penitenciário, diminuimos o numero de fugas, diminuimos o numero de rebeliões e como premio por fazer algo de bom para a sociedade não ganhamos nada, somos o lixo da segurança publica, onde deveriamos ter papel de destaque por tudo que fizemos e estamos fazendo. Mas infelizmente não é isso que acontece.
É apenas um desabafo, mas voltarei a votar no Téo, com esperança de que ele nos veja dessa vez, pouca esperança...
Audir Acioli - Agente Penitenciário de Alagoas