sábado, 15 de agosto de 2009

Conexão colombiana da fé universal

Reproduzo aqui a coluna do Diogo Mainardi na Veja desta semana. Um tema sobre o qual se falava no passado e que, parece, poderá receber luzes sobre ele:

Diogo Mainardi

O dízimo do tráfico

O pastor Carlos Magno de Miranda, em 1991, acusou a Igreja Universal de ter comprado a Rede Record com dinheiro de narcotraficantes colombianos. Agora, com duas décadas de atraso, o episódio finalmente poderá ser esclarecido. Os mesmos promotores que, na semana passada, denunciaram criminalmente Edir Macedo e outros integrantes da Igreja Universal indagam também a suspeita de que a segunda parcela da compra da Rede Record possa ter sido saldada com recursos do Cartel de Cali. Carlos Magno de Miranda é uma das testemunhas arroladas pelo Ministério Público, e os promotores cogitam pedir a abertura de mais um processo contra os donos da Rede Record.

Carlos Magno de Miranda era um dos líderes da Igreja Universal. Em 1990, ele se desentendeu com Edir Macedo e passou a atacá-lo publicamente. Num dos documentos obtidos pelo Ministério Público, ele relatou os detalhes de sua ida a Medellín, para receber o dinheiro dos narcotraficantes colombianos. Ele teria viajado com os pastores Honorilton Gonçalves e Ricardo Cis, todos acompanhados de suas mulheres. Permaneceram dois dias na cidade. No primeiro dia, aguardaram no hotel. No segundo dia, um mensageiro entregou-lhes uma pasta contendo 450 000 dólares. As mulheres dos pastores esconderam o dinheiro nas calcinhas e, de madrugada, retornaram ao Rio de Janeiro num jato fretado. Segundo Carlos Magno de Miranda, os fatos teriam ocorrido entre 12 e 14 de dezembro de 1989. Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) analisaram os registros aeroportuários da Polícia Federal e – epa! – documentaram que, naqueles dias, os pastores da Igreja Universal realmente foram a Medellín, com escala em Manaus.

O Ministério Público, além disso, entrou em contato com autoridades americanas para poder interrogar o narcotraficante colombiano Víctor Patiño, que foi preso em 2002 e extraditado para os Estados Unidos. Seu nome foi associado ao da Igreja Universal em 2005, quando a polícia colombiana descobriu que uma de suas propriedades em Bogotá – uma cobertura de 600 metros quadrados – era ocupada por Maria Hernández Ospina, que alegou ser representante de Edir Macedo. Uma das dificuldades dos promotores do Gaeco é que Edir Macedo tem cidadania americana, dado confirmado oficialmente pelo consulado. O Ministério Público já encaminhou todos os documentos do processo contra Edir Macedo aos Estados Unidos, para que os americanos possam abrir um inquérito próprio.

A Igreja Universal, nos últimos dias, atrelou sua imagem à de Lula. É a mesma estratégia empregada por José Sarney. Um apoia o outro. Um defende o outro. Edir Macedo está com Lula e com Dilma Rousseff. Agora e em 2010. Se a Igreja Universal tem um Diploma do Dizimista, assinado pelo senhor Jesus Cristo, Dilma Rousseff tem um Diploma de Mestrado da Unicamp, supostamente assinado pelo senhor Espírito Santo. O senhor Edir Macedo e o senhor Lula se entendem. Eles sabem capitalizar a fé.

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Na verdade, a Igreja Universal, embora tente reduzir as acusações feitas pelo Ministério Público de São Paulo a um guerra de grupos de comunicação, encontra-se diante de um adversário forte, competente e temido: o GAECO, esse grupo de promotores que desarticulou os esquemas de Paulo Maluf e sua família, entre outros importantes trabalhos de combate ao crime organizado. A ação proposta e as medidas tomadas perante autoridades de outros países onde a IURD tem negócios, como os Estados Unidos, país que deu cidadania a Edir Macedo, irão gerar novas dores de cabeça aos milionários donos da Universal.

Além disso, hoje os líderes da IURD não contam com a solidariedade de outras denominações petencostais, como no passado. Silas Malafaia, em vídeo que está circulando na internet, mostra-se ressentimento contra o assédio de pastores da Universal, que tentaram contratar os horários usados por ele em emissoras de televisão. Isso em 2007. Agora, em que a guerra Record Vs. Globo foi declarada, Edir Macedo terá dificuldades em reunir pastores de outras denominações para juntos chorarem contra a perseguição religiosa e política da Globo.

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