Amar, amar somente, é um beco sem saída, já dizia Pe. João Mohana. Amar pede mais; pede entrega, abertura, cumplicidade, cuidado com quem se ama, respeito. Pede que o outro seja parte da vida, seja íntimo por necessidade. Amar não cria fronteiras, abarca; não cria muros, aproxima; não cria barreiras, acaricia. Amar pede o outro para si, de um modo tal que o outro continue outro, mas se faça o mais próximo, o mais querido, o mais necessário.
Enquanto não sentir isso por alguém, não saberá o que é o amor de verdade. Há de existir um momento, quando os olhares se tocam pela vez primeira, em que haja um tanto de perda de foco, de eclipse da razão. O amor que rnunca soube o que é rasgar o peito, vassalar a alma, fazer sonhar, não pode ser digno desse nome. O amor que nunca fez tremer corpo e alma, que nunca tomou minutos ou horas de pensamentos vastos e suspiros fundos, que não tomou de si o apetite e as razões mais miúdas para agir, haverá de ser tudo, menos amor.
O amor acalma com o tempo, mas não perde aquela fagulha inicial, não deixa que os olhos se acostumem com a nudez da mulher amada. Há ali sempre um desejo que floresce, um olhar que se renova, um querer que exaspera. Acalmar, porém, não é adormecer nem estiolar-se; é simplesmente passar dos raios e trovões à primavera.
O amor, enfim, tem tempero variado em uma mesa farta. Vai da iguaria mais apimentada à sobremas mais suave…
Sim, aqui e ali pode haver algo fora do tom, porque o amor não quer a perfeição; o fundamental para ele é a possibilidade constante do diálogo que se quer constante, das pontes que não se fecham, da necessidade do eterno recomeço. O amor perfeito é o que se enamora da imperfeição: as rugas virão, a pele perderá aos poucos o viço, mas ele, o amor, vai se renovando como criança que apenas quer brincar, seja com que brinquedo for… Para a criança não importa a perfeição do brinquedo, mas a qualidade da diversão. Assim é para o amor!
Amar, amar somente, é um beco sem saída, simplesmente porque amar pede atos, gestos, sinais. Amar, enfim, nos tira de nós para olharmos a vida sem esquecer do ponto de vista de quem se ama. É a porfia lúdica e impensável entre o EU e o TU, que não se dissolve no NÓS, mas num EU-TU rico e profundo. Somos, no amor, dois que se buscam sem se dissolver na unidade, na identidade, na perda da referência de si mesmo. Na polaridade e tensão de duas vidas que se querem, que cedem aqui e ali para que se permitam ser e estar, consiste o amor.
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