quinta-feira, 8 de julho de 2010

Envelhecer e morrer

"- Papai, você vai ficar velho?". Olhei para Maria Eduarda surpreso com a pergunta. Ela me fitou e, antes que pudesse responder, pespegou-me outra: "- Papai, você vai morrer?". Os olhinhos miúdos esperavam uma resposta negativa, como se a eterna juventude pudesse ser adquirida nalguma esquina. Sorri-lhe um sorriso acolhedor, condescendente. "- Sim, filha, o papai vai ficar velhinho e, um dia, vai morrer. Todos nós passaremos por isso, inclusive você. Mas, olhe, vai demorar muiiito", assim mesmo, com ênfase no "i", para dar a sensação de demora sem fim.

A consciência da morte começa precocemente em nós, abrindo-nos para a sede do infinito, esse sentimento que nos diferencia de tudo: os animais, ainda que tenham consciência, ainda que tenham capacidade intelectiva, vivem apenas o presente, o hoje da existência. O ser humano, não, ele olha para o futuro, tentando enxergá-lo.

A pergunta da minha filha não é simples. Há profundidade nela. Velhice e morte são símbolos da corrupção da vida. A diferença entre nós e as crianças é justamente esta: elas se permitem perguntar sobre o que parece óbvio, sem adormecer o que as incomoda. Nós, os adultos, deixamos essas questões em stand by, passando por elas como não existissem, como se morte, por exemplo, não estivesse nos acompanhando dia a dia.

Certa feita, Ana Paula começou a cantar para Maria Eduarda músicas religiosas. Lá para as tantas, cantarolou "Mãezinha do céu, eu não sei rezar / só sei dizer / eu quero te amar / azul é o teu manto / branco é o teu véu / Mãezinha eu quero te ver...". Uma abrupta parada. Olhou para mim com enormes olhos, uma angústia de mãe: "- Não, não agora. Essa parte do ver lá no céu deve ser mudada...". Sim, Ana Paula quer ver Nossa Senhora no céu, em um futuro beeem distante. Também quer que a Maria Eduarda a veja, mas não tão cedo; quem sabe depois dos 80 anos...

Sim, temos uma imensa sede do infinito. Temos uma sede difusa do que tem nome, tem presença, tem constância em nossa história: Deus! É Nele que o envelhecer se transforma em juventude da alma, que a morte é vencida, que a ressurreição é mais que promessa: é fato! É Nele que o homem caído, estiolado pelo pecado, divinizou-se no homem glorificado em Cristo.

Mãezinha do céu, nós não sabemos rezar e queremos, sim, vê-la lá no céu. Reze por nós, media por nossas faltas, sê advogada nossa. E protege nossa filhinha com o seu imenso amor de mãe.

2 comentários:

  1. Belas palavras, fico feliz com o amadurecimento de Maria Eduarda, e com o lindo amor do querido casal. Deus os abençoe! Carinhosamente,roberto wagner

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