quinta-feira, 15 de abril de 2010

Para a ressurreição

A morte é sempre um sinal de contradição: somos ávidos por vida, temos sede do amanhã, mas há ali o ponto final da história, das aspirações, dos sonhos. É o ponto final de uma enredo inconcluso, de amores pendentes, de problemas não resolvidos, de desejos insatisfeitos, de projetos inconclusos. A morte nos põe diante da nossa finitude, aquela impotência que é o desfecho daquilo que somos.

Heidegger dizia que o homem é o "ser-para-a-morte", sendo o traço fundamental do Dasein (o ser-aí), do homem, a sua finitude. Seríamos irremediavelmente destinados ao fim. Insisto, porém, que o homem é o "ser-para-a-ressurreição"; o que marca a sua existência finita é a sede do infinito, é a sua abertura vertical para além dele, para além do que somos em nossa mundanidade. Sim, em nossa vivência com os outros desde já buscamos nós mesmos para além de nós, fazendo parte de uma tradição que nos antecede e que nos ultrapassará no tempo linear (diacrônica e sincronicamente), já agora com as nossas marcas na história, com o que buscamos imprimir de nós mesmos no mundo que estamos inseridos.

Ansiamos por vida, pela eternidade, pelo gosto de futuro. O nosso hoje pressupõe já sempre o amanhã, os projetos que consomem a nossa energia e as nossas esperanças. E a morte é a ruptura com a nossa natureza, porque não somos destinados ao fim, mas à eternidade que faz morada em nosso coração como um desejo ardente, constitutivo do que somos. Fôssemos para a morte, tudo nos seria permitido! São Paulo já dizia na célebre frase "comamos e bebamos", porque nada há para esperar, nada há para sonhar, nada há que nos chame ao heroísmo das renúncias tantas, do apego a posturas morais, do respeito às virtudes.

A ressurreição é o compromisso com a nossa história. Deus se esvazia, assumindo o Dasein, a finitude, a crueza da vida para nos chamar à vida em abundância. Na ressurreição de Cristo a humanidade encontrou o seu ponto alto: em Cristo, Deus assume para si a humanidade.

Somos seres para a ressurreição, para a esperança, para o futuro intemporal e atemporal. O futuro do Reino!

Sobre o tema, em meu blog: aqui e aqui.

P.S.: Escrito em homenagem a Luís Abílio Neto, ex-governador do Estado de Alagoas, falecido ontem.

Um comentário:

  1. Receba o meu pesar a todo povo alagoano. Lindas palavras, máxime o trocadilho com Heiddeger. Afetuosamente,

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