sábado, 20 de março de 2010

Pedofilia, celibato e fé

A Igreja Católica está sob ataque em razão das sucessivas denúncias contra religiosos em razão de casos de pedofilia? Sim, está. Há setores anticlericais que estão se aproveitando dos graves e inúmeros casos de pedofilia envolvendo religiosos católicos para deteriorar o papel e a importância moral da Igreja no mundo. Bem, apesar disso, não se pode culpar os acusadores pelos erros da própria Igreja, que foi pusilânime com os maus religiosos que usaram o seu hábito e o seu carisma para praticarem abusos sexuais contra crianças e adolescentes. Benevolente com os religiosos, a Igreja foi omissa para com as vítimas, permitindo com a sua omissão que esses religiosos criminosos voltassem a cometer os mesmos delitos.

Alemanha, Holanda, Irlanda são países em que a Igreja tem sofrido de modo mais agudo as consequências da sua tolerância com religiosos pedófilos. Não que a Igreja não visse nessa prática de alguns poucos um delito ou uma grave falta, porém sempre viu com misericórdia e dando ao religioso que caiu em erro a chance de recomeçar. Na prática, terminou por dar a oportunidade para novos abusos, ao invés de afastar das suas funções o religiosos e denunciá-lo às autoridades civis. Pedofilia é crime; e dos mais graves: destrói a infância, tira dos jovens a sexualidade saudável, os valores corretos, a fé verdadeira. O religioso pedófilo pratica um crime mais grave porque alimenta os seus instintos primitivos através da força moral do seu hábito, da autoridade que possui diante da vítima, inclusive de perdoar os pecados...

Como católico, sinto-me envergonhado, tal qual o Papa Bento XVI. A Igreja errou, pecou pela omissão tolerante, mesmo que pelas melhores razões. E está pagando um grave preço por isso, inclusive diante de Deus. Infalível em questões de fé, o Papa pode errar em decisões pessoais, administrativas e políticas. Reconhecer esse grave erro, fazer o mea culpa, adotar uma severa política contra os religiosos pedófilos e colaborar com as autoridades civis são os caminhos que a Igreja está perlustrando, ao lado de uma atenção carinhosa, compreensiva e responsável pelas vítimas dos abusos praticados.

Amo a Igreja de Cristo. Tenho absoluta clareza que o celibato nada tem a ver com a questão da pedofilia. O celibato, a castidade, a ascese, sempre foram, em todas as religiões, meios de aproximação do homem ou mulher a Deus. Já os antigos rezavam: - "Dai-me um coração que seja um!". Sublimar a sexualidade é um ato de amor a Deus, assim como a abstinência de outros apetites: voto de pobreza, voto de silêncio, etc. Abdicar de uma vida sexual ativa, castrar-se pelo amor a Deus, ser eunuco pelo Reino, é entregar-se a aventura do amor integral e da renúncia sofrida, dolorosa, e por isso mesmo renúncia. São Francisco de Assis deitou-se nu sobre uma imaginária mulher feita de neve, diante da força da sua sexualidade e do desejo de se conservar casto e disciplinado para a sua dura missão: viver a pobreza e anunciar o Reino.

“Para defender sua pureza, São Francisco de Assis rolou na neve, São Bento se jogou em um arbusto de espinhos, São Bernardo trancou-se em um depósito gelado. E você, o que fez? Não diga “esse é meu jeito de ser, é meu caráter”. Não! É sua falta de caráter. Seja homem! Quando você decidir firmemente viver uma vida pura, a castidade não será um peso para você, será uma coroa de triunfo”.
São Josemaria Escrivá
É isso. Celibato é coisa para homem, para gente de fibra e de coragem! Pena que alguns se façam padres sem serem homens integrais. Podem ser homossexuais? Até podem. Mas vivendo a homossexualidade casta, cujo afeto é plenamente entregue a Deus. Então, também o problema não está no fato da existência de religiosos homossexuais; está na homossexualidade desenfreada, na entrega dos religiosos aos seus extintos, usando da sua posição privilegiada para ir à cata de jovens objetos sexuais, como passam a ver os jovens que estão aos seus cuidados.

A pedofilia tem sido praticada por heterossexuais casados aos borbotões. A internet está repleta de exemplos de corrupção de menores. O escândalo maior, nada obstante, é quando um religioso é flagrado usando a fé como arma para submeter as suas vítimas. E aí a gravidade do crime pede uma reação duríssima da sociedade e, sobretudo, da Igreja.

Podemos errar. Podemos pecar contra a castidade. Um padre pode se apaixonar por uma pessoa e ser infiel ao celibato, assim como um marido pode não ser fiel à sua esposa e ser infiel à castidade. Estamos no plano privado, em que as conduta serão analisadas à luz da fé. Mas um homem, casado ou religioso, não pode ser pedófilo, não pode abusar da infância e da juventude: além de um grave pecado, comete um crime! E como criminoso deve ser tratado por todos, inclusive e sobretudo pela Igreja.

2 comentários:

  1. Que belo e verdadeiro texto, Adriano. Sua análise é sobretudo justa para com a Igreja e os fatos. Adorei a citação de São Josemaría, que coisa linda, coerente, e profundamente ligada ao tudo que disse. Bom domingo, e cuidado com o PAPAI JOEL hoje à tarde.

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  2. É muito interessante e bom, diga-se de passagem, ler um texto totalmente imparcial. Vejo muitos comentários de pessoas influentes que atacam sem medir consequências o catolicismo e o celibato tal como se esses “justificassem”, ou melhor, fossem a causa determinante da conduta de padres pedófilos. Penso como autor, que expôs perfeitamente a fronteira da dedicação incondicional que o celibato deve ter como modo de vida. Não sou católico, mas não esqueço da falibilidade humana, daí penso sempre no efêmero da fraqueza, no arrependimento, na recuperação: aliás, quem diria? – eu, nunca! Nas ruas, muitos; na consciência, poucos. Mas certo é que erros e Erros têm graus diferentes, uma coisa é ferir um ideal, uma promessa ou mandamento divino; outra é cometer um crime: arrependa-se, mas cumpra sua pena.

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