Não temos duas almas; uma só unida ao corpo e à mente é o que possuímos, formando a nossa estrutura nouspsicossomática. A tragédia de Fausto, na obra-prima de Goethe, decorre da entrega da sua alma em um pacto com Mefistófeles. O mito fáustico percorre toda a história da humanidade e é exposto de modo supino através dos clássicos versos daquela obra magna.
Se é certo que apenas uma alma temos e a negociamos com outrem a sua entrega, o que nos restará? Talvez a tragédia fáustica seja justamente essa: a realização de apetites (paixões, rancores, ódios, complexos, amores, desejos de riqueza, etc.) ao custo de nós mesmos. Aí, já abdicamos dos nossos valores como ornamentos imprestáveis; já fazemos nossos iguais os que sempre foram desejados ficassem distantes; já chamamos de amigos os que antes víamos com desprezo...
E ao olharmos em volta de nós mesmos, o que nos resta?; onde ficou o que antes nos era tão caro como característica identitária, constitutiva - não apenas para os outros mas sobretudo para nós mesmos - do que somos como sujeitos no mundo? No Fausto de Goethe há o momento do acerto de contas consigo mesmo; na vida, a final, haverá sempre um dia para esse encontro com a alma alienada a preço sobejo ou vil, pouco importa.
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