terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O jogo, as cartas e os jogadores

Há os que querem conhecer a verdade; há os que querem condescender com o que lhes convém. É muito interessante esse traço em algumas pessoas: por conveniência, ajustam-se àquilo que no seu íntimo não lhes cai bem, bastas vezes por inércia, outras tantas por convicção em estar sempre onde lhe parece haver vantagem.

O interessante é observar a reação das pessoas quando, diante de uma situação concreta que lhes diz respeito, não compreendem as estratégias e não enxergam nada além das cartas já postas na mesa; e ainda assim, contudo, nem sempre façam as cartas abertas todo o sentido para o observador ansioso. Sem compreender como se movem os jogadores, ficam uns tantos olhando apenas para o que está a descoberto, não alcançando que o melhor jogo não é o que está na mesa, mas aquele à mão.


Por isso há mais do que acerto na fala da personagem de Matt Damon no filme "Cartas na mesa":  “Se você não descobrir quem é o pato da mesa na primeira meia hora”, diz ele, “então você é o pato”. E o pato será sempre depenado...

No jogo de profissionais, quem acredita estar com vantagem não pode piscar primeiro. É que os movimentos revelam as intenções. Não raro, por isso, os jogadores fazem movimentos contrários àqueles que pretendem adiante executar, induzindo o adversário a erro. O observador desatendo não se dá conta de que o jogo muitas vezes está sendo jogado quando não há movimentos; é aí o exercício da paciência que é já e sempre um agir, desde que não se prolongue em demasia, porque aí poderá já estar comprometida aquela partida. O tempo é um cavalo bravio; nem sempre nos acomoda bem em seu dorso.

Um dado porém é fundamental nos grandes jogos: a resiliência, a capacidade de suportar a pressão e usá-la em seu favor. A temperatura elevada é uma ótima forma de eliminar, no jogo, os mais fracos. Ou mesmo de fragilizá-lo. Se um jogador é muito forte, a primeira coisa a fazer antes de começar a partida é solapar a sua confiança, mostrá-lo vulnerável, tirá-lo da concentração, desinstalá-lo da sua zona de conforto. Ao trazê-lo para o seu campo, as cartas de que ele dispõe passam a ser abertas ou se deixam conhecer por indução.

Uma outra coisa importante: provoque o adversário até ele lhe mostrar os dentes. Esse um passo fundamental em qualquer jogo: é nessa hora que você pode ler as cartas que ele dispõe nas mãos e as suas fragilidades. A reação do adversário é fundamental para que se compreenda toda a extensão do jogo e os espaços de manobra. É aí onde os melhores jogadores podem tirar muito proveito.

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