terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Amor e Sexo

Há que haver um equilíbrio entre amor e sexo na relação entre homem e mulher. Há os que exaltam no amor a sua dimensão romântica, espiritual, vendo-o como puro "ágape", uma qualidade angelical; há os que apenas veem o amor como paixão, fruto do desejo sexual, da atração física, em sua dimensão "eros". É na unidade, porém, entre ágape e eros que se encontra a profunda dimensão do amor entre homem e mulher.

Bento XVI, em sua encíclica "Deus caritas est" ("Deus é amor"), assenta de modo muito preciso a visão do amor para a Igreja. Diz ele "nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor — o eros — pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza".

Há quem pense que a Igreja tenha buscado esvaziar ou desvalorizar o "eros", apontando como única forma de amor o "ágape". Esse foi um erro histórico que, inclusive, contaminou setores da Igreja, que passaram, sim, a ver o sexo como uma degradação necessária do amor. Erro crasso, que fez muito mal a muitas pessoas bem intencionadas, cuja existência foi marcada por dolorosas cobranças, simplesmente por amar com desejo, com paixão, tendo o sexo como uma dimensão não apenas necessária, mas fundamental da vida a dois.

Amor entre homem e mulher pede a integração profunda na sexualidade. O sexo faz parte do amor, qualificando-o. O amor se faz pleno, aliás, no sexo. Não o sexo pelo sexo, não a busca exclusiva pelo prazer, mas o sexo como entrega e fusão física entre almas que já se fundiram e se buscam.

Bento XVI, com sabedoria, vai ao ponto: "Na realidade, eros e agape — amor ascendente e amor descendente — nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral. Embora o eros seja inicialmente sobretudo ambicioso, ascendente — fascinação pela grande promessa de felicidade — depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará « existir para » o outro. Assim se insere nele o momento da agape; caso contrário, o eros decai e perde mesmo a sua própria natureza. Por outro lado, o homem também não pode viver exclusivamente no amor oblativo, descendente. Não pode limitar-se sempre a dar, deve também receber.""

Quem ama deseja o outro não como simples objeto dos seus apetites; quem ama deseja a realização do outro e de si mesmo, numa profunda entrega de alma e corpo, de corações que se querem inteiros. Essa é a profundidade do amor, aliás: a entrega de si para a realização do outro, numa recíproca e completa doação (na vida e na cama).

Erram, portanto, os que retiram do amor o desejo, o querer, o tesão, a necessidade do apossamento sexual do outro; mas não menos erram os que apenas veem o sexo como razão única e última de uma relação a dois. Amor não coisifica, não reduz o outro a mero meio para o prazer pessoal. O sexo, no amor, é meio de profunda descoberta do outro e de entrega de si mesmo, onde a única regra válida é a plenitude de ambos.

Em teologia moral, há erro dos que ingressam em definir o que pode e o que não pode na vida sexual de um casal que se ama. Posições, formas e modos é justamente um campo afeto exclusivamente ao amor: compete ao casal descobrir o campo próprio para a realização de ambos, para aquela plenitude encontrada na fusão de vidas e almas.

Dito isto, respondo àquela visão dos que são críticos da moral católica, justamente porque não a conhecem ou porque criticam por criticar.

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