Nos grandes temas públicos da atualidade há sempre questões morais envolvidas. Seja no campo da engenharia genética, na medicina, no direito, na economia, estamos sempre em face de relevantes questões de natureza ética e moral, desafiando cada vez mais debates em razão de vivermos em um mundo difuso, policêntrico e sem monopólio da última palavra. É dizer, um mundo desmanchado no ar, como profetizara Marx.
Nesses debates, alguns deles submetidos a apreciação do Poder Judiciário, não raro busca-se eliminar, desde o início, qualquer possibilidade de uso de argumentos religiosos, a um duplo fundamento: (a) religião seria matéria privada, de foro íntimo; e (b) as proposições religiosas seriam inverificáveis, partindo de uma verdade revelada insuscetível de ser comprovada. Razão pela qual, tido por irracional, o discurso religioso passa a sofrer uma discriminação preconceituosa, havendo constante tentativa de expurgá-lo do debate público.
Há pouco, travei interessante debate no Twitter sobre o chamado "Kit de Combate à Homofobia", um programa equivocado do Ministério da Educação, que pretende combater a homofobia estimulando nas escolas públicas a cultura da homossexualidade, com filmes de péssimo gosto e moral duvidosa. Filmes que, em última análise, dizem que é o máximo ser gay e questionam - vejam que estupidez - até mesmo a separação de banheiros entre masculino e feminino...
E qual o meio próprio para afastar o cognitivismo e racionalidade do discurso moral e religioso? A fuga para o naturalismo, de um lado, e para o relativismo moral, de outro lado. O naturalismo aparece muito forte ao se afirmar que a homossexualidade é legítima porque é natural; o relativismo moral, ao se afirmar que tudo que não prejudique o outro pode ser feito (um argumento muito interessante, sobre o ponto, pode ser resumido assim: "tenho o mesmo direito de debater sobre a homossexualidade que teria em debater sobre a reforma do banheiro do meu vizinho").
De outra sorte, mais refinada teoricamente, seria a objeção do não-cognitivismo ético, que diz serem as proposições éticas inverificáveis. Hirlary Putnam, filósofo americano, é crítico contundente dessa forma niilista de pensar, sustentando que os debates éticos "são desacordos racionais que requerem uma decisão que chegue até onde se encontram as melhores razões" ("Valores e normas", in: HABERMAS, Jürgen e PUTNAM, Hilary. Normas e valores, Madri: Trotta, 2008, p.61). Ou seja, podemos sustentar, sim, um debate racional consistente em questões éticas e religiosas, que estão na nervura do mundo da vida e são responsáveis por padrões de comportamento aceitáveis no meio social.
Neste passo, fico com o discurso religioso e moral, que apela ao diálogo sincero, ao acolhimento, mas sem militância e políticas oficiais de estímulo às crianças e adolescentes, inclusive mostrando, em vídeos, beijos (com ou sem língua) entre casais gays. E, sim, a religião tem todo o direito de se manifestar sobre o tema, porque ela é sim essencial como modeladora da vida social e do debate público.
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