quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O resgate de cada dia

Texto originariamente publicado aqui, em 27/02/2009 (Quaresma).

Assisti hoje o final do filme O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. Sim, peguei o filme já terminando no Telecine da Globosat. Justamente na cena em que o capitão interpretado por Tom Hanks, cuja missão era liderar um grupo de soldados para resgatar o último sobrevivente de três irmãos mandados para a guerra, interpretado pelo excelente Mat Damon. Apesar do esforço daqueles homens, deslocados da missão de combater os nazistas para resgatar um soldado americano como outro qualquer, Ryan (Mat Damon) não se mostra grato nem vê no sacrifício dos seus pares mérito algum.

Na cena final, já tendo encontrado Ryan e voltando para um lugar seguro, o grupo é cercado por alemães e fica em situação difícil. Diante da bravura do capitão vivido por Tom Hanks, um simples professor antes de ingressar no exército, eles resistem e conseguem se salvar. Nem todos, porém. Hanks é mortalmente ferido. Sentado no palco da batalha, sangrando muito, vê um perplexo Ryan aproximar-se dele. Hanks puxa-o pelo casaco e diz em seu ouvido aquelas que seriam as suas últimas palavras: - "Faça por merecer! Mereça!". Era um pedido para que o seu gesto capital não fosse em vão, uma vez que o grupo não via em Ryan razões para aquele sacrifício, que levou alguns a perder a vida na tentativa de resgatá-lo.

Ryan fica em pé olhando para a personagem de Hanks, prostrado morto. E a cena corta para o começo do filme, um homem velho diante de uma lápide militar. Era Ryan no ocaso da vida, tendo atrás de si a família que fora com ele visitar o túmulo do homem que liderou o seu resgate e possibilitou a continuidade da família. A cena postada abaixo é justamente esta. Ryan vai prestar contas da sua vida àquele que perdeu a sua para salvá-lo. Angustiado, afirma ter procurado ser um homem de bem e honrar a memória do capitão. Ante a aproximação da sua esposa, pergunta a ela, diante do túmulo e para que o capitão ouça, se ela o julga um homem de bem.

A angústia de Ryan é esta: diante do homem que morreu por ele, a sua vida valeu a pena?

A angústia de Ryan é a nossa angústia: diante do Homem que se imolou por nós, fazemos a nossa vida bendizê-lo?

Chorei no filme, naquela pequena cena. A minha vida passou por mim, como estava passando por Ryan. Estaria valendo o sofrimento de Cristo? Essas perguntas e as tantas respostas devem ser buscadas sempre, particularmente na quaresma.

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