Tudo passa. Somos passantes. como passam o vento, as folhas que se deixam levar, o andante que a tudo olha e nada parece ver. Passam o sorriso morrendo no canto da boca, o brilho do olhar desbocado, o medo de que passem os anos e a senectude chegue...
Tudo é tão efêmero. Como água escorrendo pelos dedos, vão-se os momentos do encantamento pela vida. Porque tudo urge; a urgência nos afoga no esquecimento do ontem vivido e sentido. Há um despedaçar da alma já fraturada e nem nos damos conta de que, afinal, emergenciamos a tudo como numa oura em que contemplamos a queda, o espatifar-se, o último frêmito.
E o que nos resta sempre, ali, contumaz, como um faraute da vida agoniada: o amor! Sim, nos tempos do esquecimento, ele não olvida, não desapetece o alucinante palpitar da sístole e diástole, o suor das mãos, o dilatar das pupilas que não veem mas se impõem querer.
E lá está aquele rosto que não se pode ver, não se acariciou, deixando contemplar a boca não beijada, como imagens soltas de um sonho confuso, rabiscos da lembrança viva do que não se teve presente.
Em mundo assim, tão apressado, o esquecimento é o modo de sobrevivência. E nesses tempos opacos, só o brilho do amor que nos habita é perene, atemporal, ubíquo. Basta entrever o ser amado, ali, quando o hoje se deixou acasalar com o ontem, que tudo para; até o esquecimento se deixa esquecer de si mesmo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário