sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
O demônio do meu quarto "ou "Se avexe, não, Menino!".
Papai e mamãe trabalhavam muito. Ele, fiscal de renda concursado, muitas vezes tinha que dar plantão no posto fiscal na estrada. Quando o expediente era normal em Junqueiro, além das atividades como fiscal, assumira ele a direção do Ginásio Nossa Senhora Divina Pastora, onde atuava pensando em dar às famílias mais humildes acesso à educação. Tempos difíceis, de dedicação gratuita, apenas por pensar em contribuir com aquela comunidade. Ela, a mamãe, diretora concursada do Grupo Escolar Padre Aurélio Góes, do ensino fundamental, além de assumir as suas responsabilidades normais, ainda lecionava à noite no Ginásio, também com a finalidade de contribuir com a formação dos mais humildades e de toda uma geração de junqueirenses.
Tinha eu uns sete anos de idade. Meus irmãos estudavam já no Ginásio, à noite, enquanto eu estudava sozinho pela manhã, no início do ensino fundamental. Com isso, as minhas noites eram, normalmente, de brincar com amigos até umas 7h00, tomar banho e ser conduzido à cama por minha babá, a Irene. Lembro-me da Irene com viva saudade. Quantas tardes corria eu pelo quintal, nu, e ela atrás de mim, tentando levar-me para o banho, que vez por outra eu procurava fugir. "Vou dizer ao seu pai mais tarde!", saia gritando para me convencer, porque não havia maior certeza do que a nossa obediência cega às ordens paternas, garantidas pelo respeito e, diante do atrevimento eventual, de uma boa sova de cinturão.
Pois bem. A Irene me colocava na cama para dormir e, independentemente do meu sono ou não, ia namorar com o seu noivo, o Luís. Namoro de porta, bem comportado. Eu ficava na cama, olhando para o telhado, as vigas de madeira, o barulho das lagartixas, o passar eventual de um ou outro rato, o voo de algum morcego brincalhão... Nada me assombrava, já fazendo parte do meu cotidiano.
Havia, porém, um desenho feito na porta do quarto. Não sei quem o fez. Era o desenho infantil de um rosto, com orelhas pontiagudas, que à noite parecia a figura de um demônio. Ficava em frente à minha cama. Não dava para não vê-lo. E muitas vezes, morria de medo, ali, sozinho, acompanhado apenas por aquela figura a causar arrepios.
Ainda me lembro do desenho. Em detalhes. Aquela imagem que me causava enorme medo, que me acompanhava em minhas noites, até conseguir dormir pelo cansaço. Tão forte o seu efeito em mim que nunca falei sobre ele com os meus pais. Era um pacto de silêncio não negociado.
Não raro, ainda que estivesse com calor, cobria-me integralmente com o lençol, como se o pano pudesse me proteger, guardando-me das maldades do demônio do meu quarto. E o gesto me dava segurança, como se tivesse ele dotes mágicos, a me esconder do bicho maldoso.
O demônio do meu quarto vive em mim. Sempre viveu. Sempre esteve presente em minha vida. E foi enganado, até hoje, pelo lençol que teimo em usar, para me esconder dos seus desatinos. Às vezes, é certo, tira-me um pouco o sono, maltrata, desperta aquela criança que ainda habita em mim.
Domar os demônios que carregamos é sempre um imenso desafio. É a aventura de uma vida inteira, por vezes.
Lembrei-me dessa história hoje, na virada do ano, para dizer ao menino que ainda sou que não se angustie, que haverá sempre lençóis para nos proteger, e que a vida é sempre uma linda aventura, em que os demônios são criaturas a serem vencidas. "Menino, não se avexe, não! O dia vai raiar de novo, o sol vai brilhar, os seus olhos verão a vida palpitando em sua frente e você notará que, sim!, a noite se foi!".
Feliz ano novo! Que o brilho da luz do dia 1º de janeiro ilumine o nosso coração, cuide da nossa alma, e mostre a cada um de nós um horizonte de fé, paz, saúde e felicidade.
Que Deus nos abençoe a todos nós, amém!
Tinha eu uns sete anos de idade. Meus irmãos estudavam já no Ginásio, à noite, enquanto eu estudava sozinho pela manhã, no início do ensino fundamental. Com isso, as minhas noites eram, normalmente, de brincar com amigos até umas 7h00, tomar banho e ser conduzido à cama por minha babá, a Irene. Lembro-me da Irene com viva saudade. Quantas tardes corria eu pelo quintal, nu, e ela atrás de mim, tentando levar-me para o banho, que vez por outra eu procurava fugir. "Vou dizer ao seu pai mais tarde!", saia gritando para me convencer, porque não havia maior certeza do que a nossa obediência cega às ordens paternas, garantidas pelo respeito e, diante do atrevimento eventual, de uma boa sova de cinturão.
Pois bem. A Irene me colocava na cama para dormir e, independentemente do meu sono ou não, ia namorar com o seu noivo, o Luís. Namoro de porta, bem comportado. Eu ficava na cama, olhando para o telhado, as vigas de madeira, o barulho das lagartixas, o passar eventual de um ou outro rato, o voo de algum morcego brincalhão... Nada me assombrava, já fazendo parte do meu cotidiano.
Havia, porém, um desenho feito na porta do quarto. Não sei quem o fez. Era o desenho infantil de um rosto, com orelhas pontiagudas, que à noite parecia a figura de um demônio. Ficava em frente à minha cama. Não dava para não vê-lo. E muitas vezes, morria de medo, ali, sozinho, acompanhado apenas por aquela figura a causar arrepios.
Ainda me lembro do desenho. Em detalhes. Aquela imagem que me causava enorme medo, que me acompanhava em minhas noites, até conseguir dormir pelo cansaço. Tão forte o seu efeito em mim que nunca falei sobre ele com os meus pais. Era um pacto de silêncio não negociado.
Não raro, ainda que estivesse com calor, cobria-me integralmente com o lençol, como se o pano pudesse me proteger, guardando-me das maldades do demônio do meu quarto. E o gesto me dava segurança, como se tivesse ele dotes mágicos, a me esconder do bicho maldoso.
O demônio do meu quarto vive em mim. Sempre viveu. Sempre esteve presente em minha vida. E foi enganado, até hoje, pelo lençol que teimo em usar, para me esconder dos seus desatinos. Às vezes, é certo, tira-me um pouco o sono, maltrata, desperta aquela criança que ainda habita em mim.
Domar os demônios que carregamos é sempre um imenso desafio. É a aventura de uma vida inteira, por vezes.
Lembrei-me dessa história hoje, na virada do ano, para dizer ao menino que ainda sou que não se angustie, que haverá sempre lençóis para nos proteger, e que a vida é sempre uma linda aventura, em que os demônios são criaturas a serem vencidas. "Menino, não se avexe, não! O dia vai raiar de novo, o sol vai brilhar, os seus olhos verão a vida palpitando em sua frente e você notará que, sim!, a noite se foi!".
Feliz ano novo! Que o brilho da luz do dia 1º de janeiro ilumine o nosso coração, cuide da nossa alma, e mostre a cada um de nós um horizonte de fé, paz, saúde e felicidade.
Que Deus nos abençoe a todos nós, amém!
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Competência (esforço, dedicação, estudo) e responsabilidade
Contava, então, com 23 anos. Havia assumido o cargo de procurador geral do município de Maceió naquele dia, pela manhã.
Fui convidado, antes, para ser subprocurador administrativo. Indicação do desembargador Fernando Tourinho, de quem havia sido assessor no Tribunal de Justiça. Assumi o cargo e fui trabalhar com Fernando Costa, procurador geral. Fernando exercia antes a advocacia privada, não sendo muito afeito ao direito público, razão pela qual saiu me delegando atribuições relevantes. Houve uma reunião de secretários municipais e ele me convidou para acompanhá-lo. Surgiu a discussão sobre a tentativa do Estado de criar a região metropolitana de Maceió e uma secretaria de assuntos metropolitanos, que era uma artimanha política do governador Geraldo Bulhões para tutelar a prefeitura de Maceió. Ronaldo Lessa, o prefeito, queria insurgir-se contra essa iniciativa. O tema foi o clímax das discussões naquela reunião e Ronaldo Lessa pediu uma posição da Procuradoria Geral. Fernando passou-me a palavra e eu defendi a inconstitucionalidade da lei estadual.
A partir daquela reunião, meu nome começou a ser conhecido na equipe. Fernando passou a delegar mais atribuições e eu passei a exercer atribuições afetas ao cargo de Procurador Geral. Passei a ter reuniões constantes com o secretário de Finanças, meu saudoso Arnon Chagas, um ás da contabilidade. E muitos problemas me eram trazidos pelos demais secretários. Fernando, com uma advocacia forte e reconhecida, logo desistiu de continuar no cargo de Procurador Geral, pedindo exoneração e indicando o meu nome para sucedê-lo.
Eu não conhecia o prefeito Ronaldo Lessa. O meu único contato pessoal com ele havia sido naquela reunião de secretários municipais. As minhas chances de assumir o cargo eram mirradas. E eu sequer pleiteava o cargo, inclusive pela minha pouca idade e inexperiência. Porém, para a minha surpresa, houve uma articulação de alguns secretários, que passaram a defender o meu nome. À frente, Arnon Chagas, Kátia Born e o velho Controlador Geral do Município, Geraldo Mota, além do Chefe de Gabinete do Prefeito, Olavo Wanderley.
Fui convocado para uma reunião com o Prefeito Ronaldo Lessa. Estávamos ele, Olavo Wanderley e eu. Lessa falou sobre a importância do cargo de procurador geral, discorreu sobre outros nomes que poderiam ocupar aquele cargo, mencionou o apelo de alguns importantes secretários para a minha escolha e, finalmente, destacou a minha pouca idade. Depois, perguntou-me: "Adriano, você, se fosse o Prefeito, lhe nomearia para esse cargo?". "Não!", respondi prontamente. "Por quê?", indagou-me. "Por uma razão simples, Prefeito: se o sr. me nomear e eu me sair bem, o sr. não fez mais do que a sua obrigação. Agora, seu eu for um fracasso, toda a responsabilidade será sua, e recairá no sr. o infortúnio de ter nomeado uma pessoa desconhecida e muito jovem".
Lessa olhou para o Olavo Wanderley. Olavo sorriu e disse algo que eu não esperava: "Ronaldo, esse menino é novo, mas é talentoso. Para a procuradoria precisamos de um Pelé. Esse aí é um Pelezinho, tem futuro e ganhou a confiança do secretariado." Ronaldo Lessa disse-me: "Comecei muito jovem na construção da Ponte Rio-Niterói. Juventude não é doença; se fosse, tem cura. Vou nomear você e vamos ver o que acontece".
Saí do gabinete do Prefeito e fui para casa. Reuni a minha família. Estava assustado. A ficha começava a cair. Uma coisa era ser subprocurador, mesmo com atribuições maiores, mas tendo o apoio e a retaguarda de um procurador geral experiente; outra coisa, muito diferente, era responder pessoalmente pela pasta, ser a última instância jurídica da capital. Coloquei as dificuldades de assumir o cargo para o qual seria nomeado no dia seguinte. Expus os meus medos. Papai, que ouvia tudo calado, após perguntar-me se me sentia preparado para o desafio e, diante da afirmativa, disse-me: "Filho, assuma o cargo. Sua mãe e eu estamos aqui para lhe apoiar. Não tenha medo. Deus proverá!".
Contava, então, com 23 anos. Havia assumido o cargo de procurador geral do município de Maceió naquele dia, pela manhã. A secretária Olinda anunciou servidores graduados da secretaria de Finanças, que iriam me fazer uma consulta jurídica sobre questões orçamentárias. Recebi cinco servidores, assessores de Arnon Chagas. Tinham eles uma consulta complexa sobre questões de direito financeiro e estavam divididos entre duas soluções possíveis. Caberia a mim a resolução sobre quem estava certo. Ouvi tudo atentamente. Embora aparentasse serenidade, estava angustiado, porque simplesmente eu não sabia o que dizer. A matéria era muito nova para mim e muito complexa.
Fiz cara de quem estava refletindo sobre aquelas questões que sequer eu entendia e, com serenidade, disse que daria uma resposta no dia seguinte. Tinha de refletir um pouco. Todos foram embora e eu fiquei com o abacaxi na mão.
Eu não sabia patavinas de direito financeiro. Tinha duas opções: ou ia consultar alguém ou ia buscar meios de construir uma resposta. Procurar quem?, pensei eu. Iria debutar no meu cargo caindo no ridículo. Optei por estudar e assumir a minha responsabilidade. Tinha por hábito - que ainda hoje cultivo - comprar livros jurídicos de qualidade sobre tudo, para um caso de necessidade. Sabia que tinha bons livros, ainda virgens, de direito financeiro. Saí da procuradoria e fui para casa, angustiado.
Comecei a estudar naquele dia direito financeiro. Virei a noite lendo aspectos teóricos, sorvendo os institutos. Não dormi. E passei o dia seguinte lendo, tomando café para não dormir. Faltei ao meu segundo dia como procurador geral. No terceiro dia, havia redigido o meu parecer, que não adotava nenhuma das duas soluções apontadas pelos técnicos, apontando uma terceira, que achei a mais adequada. Reuni-me na tarde do terceiro dia com eles, explanei o meu ponto de vista, fui sabatinado e convenci a todos da minha posição.
Havia vencido o meu primeiro desafio. Senti-me seguro a partir dali a exercer o cargo. Ganhei o respeito dos técnicos e cresci como pessoa e como profissional.
Desde então tenho para mim que o bom profissional deve ter na vida duas condições: a oportunidade e a competência. Se ganho uma oportunidade e não tenho competência, a oportunidade se esvai; se tenho competência, mas me faltam oportunidades, sou como um farol aceso em um mar sem navegação.
Sem trabalho, sem dedicação, sem seriedade, sem esforço, não temos como chegar honesta e profissionalmente a lugar algum.
Fui convidado, antes, para ser subprocurador administrativo. Indicação do desembargador Fernando Tourinho, de quem havia sido assessor no Tribunal de Justiça. Assumi o cargo e fui trabalhar com Fernando Costa, procurador geral. Fernando exercia antes a advocacia privada, não sendo muito afeito ao direito público, razão pela qual saiu me delegando atribuições relevantes. Houve uma reunião de secretários municipais e ele me convidou para acompanhá-lo. Surgiu a discussão sobre a tentativa do Estado de criar a região metropolitana de Maceió e uma secretaria de assuntos metropolitanos, que era uma artimanha política do governador Geraldo Bulhões para tutelar a prefeitura de Maceió. Ronaldo Lessa, o prefeito, queria insurgir-se contra essa iniciativa. O tema foi o clímax das discussões naquela reunião e Ronaldo Lessa pediu uma posição da Procuradoria Geral. Fernando passou-me a palavra e eu defendi a inconstitucionalidade da lei estadual.
A partir daquela reunião, meu nome começou a ser conhecido na equipe. Fernando passou a delegar mais atribuições e eu passei a exercer atribuições afetas ao cargo de Procurador Geral. Passei a ter reuniões constantes com o secretário de Finanças, meu saudoso Arnon Chagas, um ás da contabilidade. E muitos problemas me eram trazidos pelos demais secretários. Fernando, com uma advocacia forte e reconhecida, logo desistiu de continuar no cargo de Procurador Geral, pedindo exoneração e indicando o meu nome para sucedê-lo.
Eu não conhecia o prefeito Ronaldo Lessa. O meu único contato pessoal com ele havia sido naquela reunião de secretários municipais. As minhas chances de assumir o cargo eram mirradas. E eu sequer pleiteava o cargo, inclusive pela minha pouca idade e inexperiência. Porém, para a minha surpresa, houve uma articulação de alguns secretários, que passaram a defender o meu nome. À frente, Arnon Chagas, Kátia Born e o velho Controlador Geral do Município, Geraldo Mota, além do Chefe de Gabinete do Prefeito, Olavo Wanderley.
Fui convocado para uma reunião com o Prefeito Ronaldo Lessa. Estávamos ele, Olavo Wanderley e eu. Lessa falou sobre a importância do cargo de procurador geral, discorreu sobre outros nomes que poderiam ocupar aquele cargo, mencionou o apelo de alguns importantes secretários para a minha escolha e, finalmente, destacou a minha pouca idade. Depois, perguntou-me: "Adriano, você, se fosse o Prefeito, lhe nomearia para esse cargo?". "Não!", respondi prontamente. "Por quê?", indagou-me. "Por uma razão simples, Prefeito: se o sr. me nomear e eu me sair bem, o sr. não fez mais do que a sua obrigação. Agora, seu eu for um fracasso, toda a responsabilidade será sua, e recairá no sr. o infortúnio de ter nomeado uma pessoa desconhecida e muito jovem".
Lessa olhou para o Olavo Wanderley. Olavo sorriu e disse algo que eu não esperava: "Ronaldo, esse menino é novo, mas é talentoso. Para a procuradoria precisamos de um Pelé. Esse aí é um Pelezinho, tem futuro e ganhou a confiança do secretariado." Ronaldo Lessa disse-me: "Comecei muito jovem na construção da Ponte Rio-Niterói. Juventude não é doença; se fosse, tem cura. Vou nomear você e vamos ver o que acontece".
Saí do gabinete do Prefeito e fui para casa. Reuni a minha família. Estava assustado. A ficha começava a cair. Uma coisa era ser subprocurador, mesmo com atribuições maiores, mas tendo o apoio e a retaguarda de um procurador geral experiente; outra coisa, muito diferente, era responder pessoalmente pela pasta, ser a última instância jurídica da capital. Coloquei as dificuldades de assumir o cargo para o qual seria nomeado no dia seguinte. Expus os meus medos. Papai, que ouvia tudo calado, após perguntar-me se me sentia preparado para o desafio e, diante da afirmativa, disse-me: "Filho, assuma o cargo. Sua mãe e eu estamos aqui para lhe apoiar. Não tenha medo. Deus proverá!".
Contava, então, com 23 anos. Havia assumido o cargo de procurador geral do município de Maceió naquele dia, pela manhã. A secretária Olinda anunciou servidores graduados da secretaria de Finanças, que iriam me fazer uma consulta jurídica sobre questões orçamentárias. Recebi cinco servidores, assessores de Arnon Chagas. Tinham eles uma consulta complexa sobre questões de direito financeiro e estavam divididos entre duas soluções possíveis. Caberia a mim a resolução sobre quem estava certo. Ouvi tudo atentamente. Embora aparentasse serenidade, estava angustiado, porque simplesmente eu não sabia o que dizer. A matéria era muito nova para mim e muito complexa.
Fiz cara de quem estava refletindo sobre aquelas questões que sequer eu entendia e, com serenidade, disse que daria uma resposta no dia seguinte. Tinha de refletir um pouco. Todos foram embora e eu fiquei com o abacaxi na mão.
Eu não sabia patavinas de direito financeiro. Tinha duas opções: ou ia consultar alguém ou ia buscar meios de construir uma resposta. Procurar quem?, pensei eu. Iria debutar no meu cargo caindo no ridículo. Optei por estudar e assumir a minha responsabilidade. Tinha por hábito - que ainda hoje cultivo - comprar livros jurídicos de qualidade sobre tudo, para um caso de necessidade. Sabia que tinha bons livros, ainda virgens, de direito financeiro. Saí da procuradoria e fui para casa, angustiado.
Comecei a estudar naquele dia direito financeiro. Virei a noite lendo aspectos teóricos, sorvendo os institutos. Não dormi. E passei o dia seguinte lendo, tomando café para não dormir. Faltei ao meu segundo dia como procurador geral. No terceiro dia, havia redigido o meu parecer, que não adotava nenhuma das duas soluções apontadas pelos técnicos, apontando uma terceira, que achei a mais adequada. Reuni-me na tarde do terceiro dia com eles, explanei o meu ponto de vista, fui sabatinado e convenci a todos da minha posição.
Havia vencido o meu primeiro desafio. Senti-me seguro a partir dali a exercer o cargo. Ganhei o respeito dos técnicos e cresci como pessoa e como profissional.
Desde então tenho para mim que o bom profissional deve ter na vida duas condições: a oportunidade e a competência. Se ganho uma oportunidade e não tenho competência, a oportunidade se esvai; se tenho competência, mas me faltam oportunidades, sou como um farol aceso em um mar sem navegação.
Sem trabalho, sem dedicação, sem seriedade, sem esforço, não temos como chegar honesta e profissionalmente a lugar algum.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
O resgate de cada dia
Texto originariamente publicado aqui, em 27/02/2009 (Quaresma).
Assisti hoje o final do filme O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. Sim, peguei o filme já terminando no Telecine da Globosat. Justamente na cena em que o capitão interpretado por Tom Hanks, cuja missão era liderar um grupo de soldados para resgatar o último sobrevivente de três irmãos mandados para a guerra, interpretado pelo excelente Mat Damon. Apesar do esforço daqueles homens, deslocados da missão de combater os nazistas para resgatar um soldado americano como outro qualquer, Ryan (Mat Damon) não se mostra grato nem vê no sacrifício dos seus pares mérito algum.
Na cena final, já tendo encontrado Ryan e voltando para um lugar seguro, o grupo é cercado por alemães e fica em situação difícil. Diante da bravura do capitão vivido por Tom Hanks, um simples professor antes de ingressar no exército, eles resistem e conseguem se salvar. Nem todos, porém. Hanks é mortalmente ferido. Sentado no palco da batalha, sangrando muito, vê um perplexo Ryan aproximar-se dele. Hanks puxa-o pelo casaco e diz em seu ouvido aquelas que seriam as suas últimas palavras: - "Faça por merecer! Mereça!". Era um pedido para que o seu gesto capital não fosse em vão, uma vez que o grupo não via em Ryan razões para aquele sacrifício, que levou alguns a perder a vida na tentativa de resgatá-lo.
Ryan fica em pé olhando para a personagem de Hanks, prostrado morto. E a cena corta para o começo do filme, um homem velho diante de uma lápide militar. Era Ryan no ocaso da vida, tendo atrás de si a família que fora com ele visitar o túmulo do homem que liderou o seu resgate e possibilitou a continuidade da família. A cena postada abaixo é justamente esta. Ryan vai prestar contas da sua vida àquele que perdeu a sua para salvá-lo. Angustiado, afirma ter procurado ser um homem de bem e honrar a memória do capitão. Ante a aproximação da sua esposa, pergunta a ela, diante do túmulo e para que o capitão ouça, se ela o julga um homem de bem.
A angústia de Ryan é esta: diante do homem que morreu por ele, a sua vida valeu a pena?
A angústia de Ryan é a nossa angústia: diante do Homem que se imolou por nós, fazemos a nossa vida bendizê-lo?
Chorei no filme, naquela pequena cena. A minha vida passou por mim, como estava passando por Ryan. Estaria valendo o sofrimento de Cristo? Essas perguntas e as tantas respostas devem ser buscadas sempre, particularmente na quaresma.
Assisti hoje o final do filme O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. Sim, peguei o filme já terminando no Telecine da Globosat. Justamente na cena em que o capitão interpretado por Tom Hanks, cuja missão era liderar um grupo de soldados para resgatar o último sobrevivente de três irmãos mandados para a guerra, interpretado pelo excelente Mat Damon. Apesar do esforço daqueles homens, deslocados da missão de combater os nazistas para resgatar um soldado americano como outro qualquer, Ryan (Mat Damon) não se mostra grato nem vê no sacrifício dos seus pares mérito algum.
Na cena final, já tendo encontrado Ryan e voltando para um lugar seguro, o grupo é cercado por alemães e fica em situação difícil. Diante da bravura do capitão vivido por Tom Hanks, um simples professor antes de ingressar no exército, eles resistem e conseguem se salvar. Nem todos, porém. Hanks é mortalmente ferido. Sentado no palco da batalha, sangrando muito, vê um perplexo Ryan aproximar-se dele. Hanks puxa-o pelo casaco e diz em seu ouvido aquelas que seriam as suas últimas palavras: - "Faça por merecer! Mereça!". Era um pedido para que o seu gesto capital não fosse em vão, uma vez que o grupo não via em Ryan razões para aquele sacrifício, que levou alguns a perder a vida na tentativa de resgatá-lo.
Ryan fica em pé olhando para a personagem de Hanks, prostrado morto. E a cena corta para o começo do filme, um homem velho diante de uma lápide militar. Era Ryan no ocaso da vida, tendo atrás de si a família que fora com ele visitar o túmulo do homem que liderou o seu resgate e possibilitou a continuidade da família. A cena postada abaixo é justamente esta. Ryan vai prestar contas da sua vida àquele que perdeu a sua para salvá-lo. Angustiado, afirma ter procurado ser um homem de bem e honrar a memória do capitão. Ante a aproximação da sua esposa, pergunta a ela, diante do túmulo e para que o capitão ouça, se ela o julga um homem de bem.
A angústia de Ryan é esta: diante do homem que morreu por ele, a sua vida valeu a pena?
A angústia de Ryan é a nossa angústia: diante do Homem que se imolou por nós, fazemos a nossa vida bendizê-lo?
Chorei no filme, naquela pequena cena. A minha vida passou por mim, como estava passando por Ryan. Estaria valendo o sofrimento de Cristo? Essas perguntas e as tantas respostas devem ser buscadas sempre, particularmente na quaresma.
sábado, 25 de dezembro de 2010
Andre Rieu & Carmen Monarcha - O Mio Babbino Caro (Telstra Dome in Melbourne)
Para um dia doce de Natal. É bom quando vivemos o amor e a alegria de amar em um dia tão significativo para todos nós cristãos.
Natal!
Somos nada, Senhor. Sem ti, somos um sopro que se esfuma na temporalidade. Somos o ponto final de uma frase inconclusa e desconexa, uma história bosquejada e superficial. Sem ti não nos compreendemos, não podemos simplesmente explicar o nosso porquê, as nossas razões, o mais comezinho gesto cotidiano.
O menino nasceu! Olho para ele deitado e me prostro: "Meu Senhor e Meu Deus!". Tu és a esperança, o encontro da temporalidade com o eterno, o finito e o infinito casam-se em ti. E me ponho diante desse Mistério profundo, a kénose divina, o despojamento do Criador tornando-se criatura e nos assumindo.
Senhor, só me compreendo em ti. As minhas contradições, a minha pequenez, a minha imensa sede de sentido, tudo enfim!, só se explica através do seu amor e misericórdia.
Natal é tempo de renascimento. Natal é tempo de reflexão. Natal é tempo, sobretudo, de alegria: Deus nos assumiu, o Verbo se fez carne e habitou entre nós!
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