sábado, 19 de março de 2011

Folha de pagamento do Estado (V)

Eu não entendo a (ausência de) lógica da edição do jornal Extra (18 a 24 de março de 2011), voltando ao assunto, já enterrado pela força dos fatos, da suposta crise na folha de pagamento do Estado.

A chamada da matéria já traz uma inverdade: "Estado contrata empresa para consertar folha de pagamento". O Estado não contratou empresa nenhuma para esse fim, bastando perguntar: onde está publicado o contrato?

Depois, (des)informa, afirmando que, desde fevereiro, dois técnicos da Elógica estariam "desenvolvendo atividade de suporte ao sistema adquirido pelo Estado a Poligrafh, denominado de Integra, que causou o maior caos na folha de pagamento dos sevidores estaduais". De novo, outra inverdade. Aos fatos: a) dois técnicos da Elógica (um deles, o sr. Marcel Violet, que esteve à frente da Elógica na Segesp, quando ocorreu a descoberta dos vazamentos de senhas do sistema Elógica-RH) estão no Itec cumprindo a decisão judicial que determinou a entrega dos códigos fontes do sistema ao Estado de Alagoas; b) esses técnicos não têm acesso ao sistema Integra, não tendo qualquer atuação de suporte a coisa nenhuma; c) o sistema Integra não foi adquirido pelo Estado à empresa Poligrafh: o Integra pertence ao Estado de Alagoas e apenas está sendo desenvolvido pela empresa, podendo ser, posteriormente, operado por técnicos do próprio Estado de Alagoas; e d) não há caos algum na folha de pagamento.

A matéria do Extra cita um suposto técnico do Itec, com "larga experiência em informática pública" que criticaria o Integra, justificando as diatribes a partir de uma mentira: "Confirma-se esta informação - diz a matéria do jornal - com a contratação da empresa Elógica (a mesma escorraçada pelos secretários anteriores) para dar estabilidade ao sistema e implementar as devidas rotinas que possibilitem o mínimo de confiabilidade de suas operações". Ora, digo eu, como um sistema sem confiabilidade poderia estabilizar e dar confiabilidade a outro? Na verdade, esse tal suposto técnico do Itec deve ter bebido água que passarinho não bebe, a começar por fundamentar a sua tese em uma mentira. Ora, a Elógica não foi contratada para estabilizar sistema nenhum, nem dar suporte em nada. Não foi contratada nem está fazendo isso.

Mas a malandragem da matéria está em uma insinuação maldosa, visando minar as minhas respostas às matérias feitas pelo Extra simpáticas, para dizer o mínimo, a Elógica, ao afirmar que "não se sabe qual o interesse de tão ferrenha defesa". E, depois de criticado por mim no Twitter, estranhando a sua relação afetiva com a Elógica, o Extra foi um passo além e insinua levianamente uma sociedade minha com a empresa Poligraph (lê-se o twitter de baixo para cima).

Extra-Elógica.png  on Aviary

Claro, o Extra faz essa tentativa de desqualificação porque a sua matéria em defesa dos interesses da Elógica não se põe em pé. Não lida com fatos e dá por acontecido o que é fantasia. E, por isso, na edição passada, fez questão de dizer que não defende a Elógica, quando, mais uma vez, subverte a realidade em favor dos seus interesses, dela, a Elógica, a "salvadora da folha de pagamento".

Nunca defendi a empresa Poligraph, nem com ela tive qualquer contato quando fui secretário de Estado ou deixei de ser. Nunca! Mas ferrenhamente defendo o sistema Integra, que - insista-se! - não pertence a qualquer empresa: o sistema Integra pertence ao Estado de Alagoas, faz parte do seu patrimônio! O interesse na sua defesa é interesse público, porque o sistema é fundamental para a modernização da gestão pública estadual.

Só para se ter uma ideia, o sistema Integra não cuida da folha de pagamento apenas. Uma das suas funções é a virtualização dos processos administrativos: os processos de papel devem migrar para processos eletrônicos, virtuais. O sistema será o mais moderno do país nesse quesito, estando à frente dos demais Estados da federação. Por isso que o tal suposto técnico do Itec teria afirmado que o Itegra é desconhecido dos governos estaduais. De fato, Alagoas não estará à reboque de ninguém (como gostaria o complexo de vira-latas de alguns).

O Tribunal de Justiça de Alagoas anunciou que começará a receber e atuar com processos judiciais eletrônicos. Ou seja, estão contados os dias dos processos de papel. A Procuradoria Geral do Estado de Alagoas será o primeiro órgão do Estado a implantar a virtualização dos processos, podendo estar à frente dos mais mordernos escritórios jurídicos e atuando com agilidade, economia e segurança. E não tem jeito: a virtualização é uma realidade que se imporá a todos, mais cedo ou mais tarde.

Quando fui secretário de Estado da Gestão Pública deixei esse projeto de modernização, cuja equipe liderada pelo Guilherme Lima elaborou e executou. Disse ao governador Teotônio Vilela Filho, à época, que ali estava um projeto inovador e ambicioso de modernização, colocando o Estado de Alagoas na vanguarda da gestão pública moderna, eficiente e transparente. Por isso o governador do Estado aprovou o projeto e autorizou a sua licitação e implantação.

Como se pode notar, não há comparação entre o sistema Elógica-RH, instalado anteriormente no Estado, e o sistema Integra: seria comparar os antigos mainframes com o iPad2. O Integra não é um sistema apenas de gestão de folha de pagamento; é muito mais!

Portanto, não defendo aqui a empresa Poligraph, que nunca havia antes citado em meus textos, mas o Sistema Integra, que pertence ao Estado de Alagoas, faz parte do seu patrimônio e tem um importante papel para a modernização da gestão pública. Não acredito que nenhum motorista desejaria, em sã consciência, pegar uma Ferrari e mudar o seu motor para um Fusquinha 1970...
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Poderia nem mais me dar ao trabalho de responder a essa matéria do Extra, não fosse o fato de citar o meu nome e a série de respostas que dei aqui, neste blog, à matéria anterior. E, ainda assim, apenas respondo - meio a contragosto - porque as palavras criam a nossa realidade simbólica. Não podemos desprezar as letras espargida no papel, mesmo que as orações articuladas pela sua sintaxe não gere uma boa semântica.

Vivemos em uma realidade intersubjetiva, em que a linguagem articula a compreensão do mundo. É ela, a linguagem, que está na nervura da objetivação da realidade social, desse mundo simbólico que é por nós criado, pelas nossas subjetividades, mas que nos abarca, nos encontra desde sempre inseridos nele, e é mais, muito mais, que a soma dos nossos pensamentos individuais. Bonzano, ao falar de proposição "em si" (entidades lektológicas); Hegel, em espírito objetivo; Popper, em mundo 3; Pontes de Miranda, em mundo do pensamento; todos eles, enfim, davam-se conta da importância dessa realidade simbólica que tem vida autônoma e que não pode ser desprezada. Conceitos, ideias, pensamentos, noções aceitas e não refutadas, eles vão ganhando uma dinâmica própria e constituído uma realidade autônoma, sem controle. Aliás, sobre essa objetivação da vida simbólica, Wilhelm Dilthey fundou a famosa distinção entre as ciências da natureza (entendimento) e as ciências sociais e humanas (compreensão).

É apenas, portanto, para que as versões não se convertam em pseudo-realidade que dou mais uma resposta à reportagem do jornal Extra dessa semana. E, acredito piamente, que os fatos cuidarão de esvaziar essas matérias, inclusive porque o caos anunciado na folha de pagamento murchou com o pagamento do mês de fevereiro, sem erro relevante ou qualquer reclamação dos servidores. Aliás, como o Integra rodou uma maravilha, restou à matéria (mais do que) simpática a Elógica tentar afirmar - vejam bem! - que o Integra teria sido estabilizado em seu funcionamento justamente pela... Elógica! Depois de uma conclusão dessas, resta-me dar por encerrada essa resposta.

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