terça-feira, 21 de setembro de 2010

Debate na Record ao Governo de Alagoas: uma análise

O debate de ontem à noite foi muito bom. Todos os candidatos ao Governo do Estado estiveram presentes à sede da TV Pajuçara e participaram de mais um evento dessa eleição histórica. Histórica, sim, porque em Alagoas não se tinha a experiência de três candidatos viáveis disputando o mandato, todos eles tendo uma vasta carreira política, inclusive já tendo exercido ou exercendo ainda o mandato de governador.

Fernando Collor, Teotônio Vilela e Ronaldo Lessa tiveram, cada qual ao seu modo, um bom desempenho. Collor compareceu ao debate buscando mostrar serenidade, sempre muito comedido, obviamente por saber que a sua rejeição é a maior de todos os demais, causada inclusive pelo seu temperamento havido por iracundo. Em alguns momentos, Collor foi tão calmo, tão sereno, que parecia disperso, sonolento, sem energia. A dose de calma foi cavalar, mesmo quando atacado acerbamente por Jeférson Piones, Tony Clóvis e Mário Agra, que lhe imputaram, por exemplo, a quebra do Estado com o acordo dos usineiros, suicídios por causa da retenção da poupança quando era Presidente da República. Esse foi o problema de Collor no debate: ficou polarizando discussões com Piones, Agra e Clóvis.

Teotônio Vilela buscou mostrar firmeza, determinação, apresentando os números da sua gestão, as suas realizações e polarizando o debate com Ronaldo Lessa. Foram esses os melhores momentos do debate, aliás. Acusou Lessa pelo rombo de R$ 480 milhões, que teria causado problemas para a sua gestão; cobrou-lhe explicação sobre os empréstimos consignados descontados do servidor e não repassados aos bancos, levando 6 mil servidores ao SPC e ao Seresa; cobrou-lhe a aplicação de recursos destinados à merenda, entre outras questões relevantes.

Lessa tentou produzir o discurso de vítima perseguida pelos "poderosos". Quando instado a falar sobre acusações, partiu para o ataque e mentiu ao dizer que Vilela fora flagrado em escutas telefônicas da PF e que teria sido apontado como líder de quadrilha. Nem uma coisa nem outra. Atabalhoadamente, trouxe de modo desrespeitoso o nome de Luíz Abílio para o debate, dizendo que "Vilela atacava um defunto", para se subtrair a questionamentos a ele, Lessa, e ainda tentar atacar Teotônio. Tomou uma severa reprimenda e não mais voltou ao tema.

O debate foi muito positivo. Mostrou o que cada um desejava passar para os eleitores: Collor apareceu como um homem calmo, ponderado, chegando a fazer uma pergunta a Teotônio (sobre o pagamento dos professores) como alguém compreensivo que queria de fato entender. Saiu-se bem, porém exagerou aqui e ali na dose, parecendo disperso em alguns momentos. Ronaldo Lessa vestiu-se como um homem escolhido por Lula e ungido pelo povo para cumprir uma missão; teria sido chamado para algo que não queria, mas que aceitou por não fugir do chamamento. Ao mesmo tempo, era uma vítima dos "poderosos", nova figura retórica que substituiu a surrada expressão "forças do atraso e da corrupção". Teotônio Vilela mostrou-se atuante, firme, decidido. Falou das dificuldades enfrentadas pelo que herdou do Governo Lessa e das soluções que empreendeu. Revelou-se aos eleitores como alguém que sabe o que quer, que enfrenta desafios e, se necessário, posta-se com firmeza, defendendo enfaticamente as suas posições.

O debate, nesse sentido, foi revelador do que cada candidato desejou passar ao eleitor, menos pelo conteúdo temático e muito mais pela postura assumida por cada um frente ao outro e ao próprio eleitor, que assistia a tudo.

Alguns comentaristas criticaram o debate pela ausência de propostas. Bobagem! Debate não é uma reunião de amigos discutindo soluções, tampouco um chá das cinco de senhoras educadas. Debate eleitoral é momento de enfrentamento, de se mostrar o que fez e o que se quer fazer, mas desconstruindo os adversários. Tony Clóvis, Jéferson Piones e Mário Agra cumpriram o bom papel de serem coadjuvantes que estimularam os embates, atacando os três favoritos na disputa. A presença dos três proporcionou momentos engraçados e ataques duros, como os desferidos por Agra e Piones a Collor.

Tudo somado, acho que o eleitor recebeu a mensagem que cada um quis passar. Os embates foram importantes para desnudar (ou encobrir) a vida e o discurso de cada um. De toda a sorte, uma festa democrática, sem sombra de dúvidas.

Um comentário:

  1. Não compartilho da sua análise positiva do debate.

    Até entendo que no debate deve haver o confronto, e não somente a discussão de propostas. No entanto ontem, na TV Pajuçara, os 3 principais candidatos mostraram-se vacilantes.

    Collor desfigurado, demonstrando uma calma que todos sabemos que não corresponde a sua personalidade.

    Lessa, como sempre, demontrando um nervosismo/descontrole que marcou seus mandatos.

    E Téo, que poderia aproveitar as fragilidades de seus prinicpais opositores, parece que não se preparou pra ao debate. Foi surpreendido pelas perguntas, foi vacilante, não passou segurança no que dizia. Na minha opinião Téo perdeu uma gande oportunidade de consolidar o crescimento que o leverá ao segundo turno, e provavelmente a uma reeleição.

    Resultado: com o pífio desempenho dos 3 principais candidatos a grande estrela foi o comunista Tony Cloves, que acabou atraindo os holofortes do debate.

    Dentre os 3 principais candidatos acredito que o que menos perdeu foi Collor, que apesar de fugir do cerne dos principais questionamentos, o fez de forma firme e contundente (bem a seu estilo), diferente do Téo, que repito, parece não ter feito a lição de casa, não tendo estudado para enfrentar as questões postas no debate.

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