domingo, 10 de outubro de 2010

Encontros de domingos

O papai nos reunia aos domingos. Conversávamos sobre as coisas de casa, sobre os fatos da semana e rezávamos. Ricardo e eu, os mais novos, passamos, com o tempo, a ser objeto de atenção especial. Desde os 8 anos essas conversas eram semanais. Quem eram os nossos coleguinhas, o que conversávamos, quais os palavrões que aprendíamos... E o papai nos ensinava o significado e o porquê de não chamarmos aquelas palavras.

"A Vida Sexual dos Solteiros e Casados", do padre João Mohana, era uma leitura constante. O papai lia e, passo a passo, comentava o que ouvíamos fascinados. "Prepare os seus filhos para o futuro", também de João Mohana, era lido e comentado, mostrando-nos as razões pelas quais éramos admoestados, eventualmente apanhávamos, sempre com o sentido de limites e de responsabilidade.

Lembro-me que o papai usava uma expressão que para mim soava misteriosa, quando tinha 9 ou 10 anos: "Olhe, lá para os 13, 14 anos vocês passarão a sentir o grito do sexo", para o qual desde já ele nos preparava, buscando uma vida equilibrada e ordenada na adolescência. Temas como masturbação, relações sexuais, namoro, amor, eram tratados de uma forma bonita, amena, dentro de uma moral católica.

O papai nos apresentava sempre o binômio amor e sexo. E desde sempre aprendemos que a dissociação entre um e outro, entre homem e mulher, é um desequilíbrio na relação: amor sem sexo é amor de irmãos, de amigos, mas não é o amor de casal; sexo sem amor é o prazer pelo prazer, que só se compreende no vazio dele mesmo.

Lembro-me do papai lendo o livro de Dom Valfredo Tepe, "O sentido da vida", e repetindo a frase que tantas cito como se fosse minha, porque já apropriada em minhas reflexões: "Amor é força unitiva na diferença". O amor como essa relação constante entre um eu e um tu, cuja polaridade não se perde, não se dissolve, em uma relação reflexiva e esvaziada.

Devo àqueles domingos muito do que sou: o gosto pela leitura, pela reflexão sobre ela, o interesse por filosofia e teologia, o estímulo ao diálogo e ao debate, o prazer de uma boa conversa... Meu pai sempre foi um exemplo para mim. Mesmo no que não comungo com ele, mesmo no que não temos identidade, mesmo no que pensamos diferentes. Em tudo, tenho um imenso carinho e respeito, porque "amor é força unitiva na diferença".


Um comentário:

  1. Que coisa linda amigo! Quantas ensinamentos para o Pai Adriano Soares da Costa. De pai para pai! Esta é a beleza da vida que teima recomeçar...

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