Venho de um lugar em que não há nada. Uma mangueira frondosa é o que resta de onde nasceu o meu pai. E vejo aquele lugar-nenhum como a minha origem, o ponto de partida do que sou como pessoa. As minhas raízes são as mesmas daquela mangueira; minha alma tem os pés plantados naquele chão.
Pau Amarelo. Ali, naquele lugar perdido no tempo, fazendo hoje parte de uma cidade chamada Taquarana, nasceu o meu pai. Na minha infância, em Junqueiro, ou na minha adolescência, já em Maceió, quantas vezes ouvia o meu pai falar sobre aquele lugar, dizendo de onde vinha para que nós, os filhos, pudéssemos ir além.
Meu pai perdeu cedo a mãe. Tinha cinco anos apenas. Foi criado pelos tios, já que o meu avô, João Baptista, não fincava raízes, viajando para lá e para cá, sem dar aos filhos a segurança de um lar. Meu pai foi marcado por essa realidade: não ter a sua própria casa, o convívio com os irmãos, tendo que acomodar-se de favor na casa de tios, enquanto o meu avô fazia das suas viagens tantas.
Em 2007, convidei o meu pai e o meu irmão Ricardo e, juntos, fomos para Pau Amarelo, fazer o que chamei de "viagem da saudade". Queria muito conhecer aquele pedaço de lugar-nenhum, onde a história da nossa família começou.
Foi emocionante encontrar aquele chão parado no tempo. A pobreza dos seus moradores, a simplicidade honesta daqueles homens e mulheres marcados pelo sol, com as mãos calejadas pelo cabo da enxada, pelo lavado constante de roupas, pelo plantio e colheita do feijão. E, lá para as tantas, vejo o meu pai apontando para uma mangueira: ali ele nasceu, em uma casa de taipa que não mais existe. Ali, naquele rancho insignificante de terra, deu o primeiro choro, teve os primeiros dos raros carinhos da sua falecida mãe, sentiu o sopro quente do vento daquela região.
Fiquei olhando para aquele lugar. Senti o encontro com o que sou, com a minha natureza: sou filho de um sobrevivente, de um homem que veio da pobreza e se fez pelo estudo. A fé o salvou; os estudos o fizeram homem! (Mas essa é uma outra história).
Encontramos primos do meu pai, que ainda estão morando lá. Entramos em suas casas, partilhamos dos cheiros, das cores, dos traços daqueles ambientes que têm as marcas daquele passado. E me senti em casa, vendo-me ali, partilhando aquela realidade com o meu coração: eis o que és, Adriano, e de onde vieste!
Depois fomos para Barro Vermelho, povoado de Junqueiro. Ali, fui batizado. Ali, meu avô está enterrado. Ali, meus pais tiveram os seus momentos de descoberta.
E terminamos em Junqueiro, que já não mais é o Junqueiro da minha infância, que habita no meu coração intacto. Visitamos o Hélio e o Sérgio, nossos amigos de infância, que foram mais que amigos: quase irmãos.
Bem, divido com vocês a história do meu pai, que é a minha história. Não posso pensar o mundo sem pensar a partir das minhas raízes, das minhas origens e do chão perdido no tempo onde tudo começou. Por isso creio na força da fé católica, que fez o meu ser quem é e vencer na vida; por isso creio na força do estudo, da leitura constante, do esforço e do trabalho.
As fotos de 2007 podem ser vistas aqui.