Iam nuas as horas, andrajos postos ao lado, a alma sem vestígios de qualquer recato. Era consigo mesmo, sem que houvesse qualquer distração. No deserto em que andava, buscava a esperança que alimenta. Baldadamente. Porque não se pode encontrar nada quando deu-se por perdido de si mesmo.
Passos pesados, andar lento, a opressão do mundo às espaldas. Sentia-se desalentado, com escuras tonalidades do dia a lhe tomarem a visão. A vontade de parar só não era maior que o desejo náufrago de debater-se até perder o resto das forças que ainda teimava em fazê-lo respirar ofegantemente. E sentia tudo girar. O mundo rodava sem chão.
Gritou para si mesmo, porque voz não tinha. Segurou a cabeça entre as suas mãos, pedindo para descer da vida. Já não sentia o corpo, o tempo, as razões de viver... Tudo era desolação. "Salva-me! Salva-me!", repetia para si, como se estendesse a mão para alguém que não o via. As lágrimas molharam a sua sequidão; tudo era nada.
No fundo labirinto de si mesmo ouviu distante uma voz chamando-lhe pelo nome, ofertando ajuda. Parecia-lhe tão longe, mas estava ali ao seu alcance. Abriu os olhos vermelhos. Pediu em um profundo soluço ajuda. Já não podia sair de si mesmo sozinho, tão grande a sua perda de sentido. E entregou-se à sorte. E deixou-se ajudar. Porque as suas forças secaram. E assim pode encontrar algo sólido onde firmar pela vez primeira os pés...