I.
Nada pode desafiar tanto a nossa humildade do que o sentimento de impotência diante do fato consumado.
II.
O passado é a nossa história já escrita, as nossas escolhas feitas, os nossos riscos assumidos. O nosso ontem impregna o que somos hoje.
III.
O que é o amor senão a aceitação do outro e as suas circunstâncias? Por isso o amor faz humildes até mesmo os soberbos. Acolhe inclusive o que renega.
IV.
Apenas em caso de violência ou entre pessoas profundamente vazias o ato sexual não é um profundo momento de entrega. O sexo casual, porém, é sempre o vazio partilhado, a objetificação do outro junto com a negação de si mesmo.
V.
Há quem queira se enganar a vida toda para industriar uma relação equilibrada. Mas o engano de si ou do outro apenas cria o simulacro de uma amor sincero. A verdade é sempre o sustento do amor viçoso e profundo.
VI.
Não há amor verdadeiro sem dor. Amor indolor é uma contradição em termos.
VII.
O que é o corpo da mulher amada? Um templo, solo sagrado, tábua dos mais densos suplícios. É ali onde o homem se deixa inteiro, se desveste de si para realizar em plenitude a mulher amada.
IX.
Numa relação a dois, a verdade. É apenas a verdade que faz possível o dia seguinte, ainda que ela deixe marcas profundas. O amor sem marcas é o amor imaturo, que não atravessou dia após dia a floresta densa e espinhosa do convívio.
X.
Dá-me as tuas misérias; sem elas, como posso te amar inteiramente? Dá-me os teus erros e o arrependimento sincero; sem eles, como poderei exercer a dolorosa humildade suplicada pelo amor autêntico?
Dá-me, sobretudo, a tua sinceridade; sem ela não há amor possível nem futuro a esperar os frutos da vida a dois.