O debate de ontem à noite foi muito bom. Todos os candidatos ao Governo do Estado estiveram presentes à sede da TV Pajuçara e participaram de mais um evento dessa eleição histórica. Histórica, sim, porque em Alagoas não se tinha a experiência de três candidatos viáveis disputando o mandato, todos eles tendo uma vasta carreira política, inclusive já tendo exercido ou exercendo ainda o mandato de governador.
Fernando Collor, Teotônio Vilela e Ronaldo Lessa tiveram, cada qual ao seu modo, um bom desempenho. Collor compareceu ao debate buscando mostrar serenidade, sempre muito comedido, obviamente por saber que a sua rejeição é a maior de todos os demais, causada inclusive pelo seu temperamento havido por iracundo. Em alguns momentos, Collor foi tão calmo, tão sereno, que parecia disperso, sonolento, sem energia. A dose de calma foi cavalar, mesmo quando atacado acerbamente por Jeférson Piones, Tony Clóvis e Mário Agra, que lhe imputaram, por exemplo, a quebra do Estado com o acordo dos usineiros, suicídios por causa da retenção da poupança quando era Presidente da República. Esse foi o problema de Collor no debate: ficou polarizando discussões com Piones, Agra e Clóvis.
Teotônio Vilela buscou mostrar firmeza, determinação, apresentando os números da sua gestão, as suas realizações e polarizando o debate com Ronaldo Lessa. Foram esses os melhores momentos do debate, aliás. Acusou Lessa pelo rombo de R$ 480 milhões, que teria causado problemas para a sua gestão; cobrou-lhe explicação sobre os empréstimos consignados descontados do servidor e não repassados aos bancos, levando 6 mil servidores ao SPC e ao Seresa; cobrou-lhe a aplicação de recursos destinados à merenda, entre outras questões relevantes.
Lessa tentou produzir o discurso de vítima perseguida pelos "poderosos". Quando instado a falar sobre acusações, partiu para o ataque e mentiu ao dizer que Vilela fora flagrado em escutas telefônicas da PF e que teria sido apontado como líder de quadrilha. Nem uma coisa nem outra. Atabalhoadamente, trouxe de modo desrespeitoso o nome de Luíz Abílio para o debate, dizendo que "Vilela atacava um defunto", para se subtrair a questionamentos a ele, Lessa, e ainda tentar atacar Teotônio. Tomou uma severa reprimenda e não mais voltou ao tema.
O debate foi muito positivo. Mostrou o que cada um desejava passar para os eleitores: Collor apareceu como um homem calmo, ponderado, chegando a fazer uma pergunta a Teotônio (sobre o pagamento dos professores) como alguém compreensivo que queria de fato entender. Saiu-se bem, porém exagerou aqui e ali na dose, parecendo disperso em alguns momentos. Ronaldo Lessa vestiu-se como um homem escolhido por Lula e ungido pelo povo para cumprir uma missão; teria sido chamado para algo que não queria, mas que aceitou por não fugir do chamamento. Ao mesmo tempo, era uma vítima dos "poderosos", nova figura retórica que substituiu a surrada expressão "forças do atraso e da corrupção". Teotônio Vilela mostrou-se atuante, firme, decidido. Falou das dificuldades enfrentadas pelo que herdou do Governo Lessa e das soluções que empreendeu. Revelou-se aos eleitores como alguém que sabe o que quer, que enfrenta desafios e, se necessário, posta-se com firmeza, defendendo enfaticamente as suas posições.
O debate, nesse sentido, foi revelador do que cada candidato desejou passar ao eleitor, menos pelo conteúdo temático e muito mais pela postura assumida por cada um frente ao outro e ao próprio eleitor, que assistia a tudo.
Alguns comentaristas criticaram o debate pela ausência de propostas. Bobagem! Debate não é uma reunião de amigos discutindo soluções, tampouco um chá das cinco de senhoras educadas. Debate eleitoral é momento de enfrentamento, de se mostrar o que fez e o que se quer fazer, mas desconstruindo os adversários. Tony Clóvis, Jéferson Piones e Mário Agra cumpriram o bom papel de serem coadjuvantes que estimularam os embates, atacando os três favoritos na disputa. A presença dos três proporcionou momentos engraçados e ataques duros, como os desferidos por Agra e Piones a Collor.
Tudo somado, acho que o eleitor recebeu a mensagem que cada um quis passar. Os embates foram importantes para desnudar (ou encobrir) a vida e o discurso de cada um. De toda a sorte, uma festa democrática, sem sombra de dúvidas.